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«A Alegia do Amor», nos números 307 a 312, convida a que cada um de nós, sobretudo os pastores, tenhamos a mente e o coração formatados pela ternura e o acolhimento, e não pela norma em si, sem mais. Seguirei mais o texto italiano, que é o original, com matizes de tradução que não são de descurar.
O papa Francisco reitera mais uma vez que a Igreja jamais pode renunciar a propor o ideal pleno do matrimónio, o projeto de Deus em toda a sua grandeza.
Há que encorajar os jovens batizados para não hesitarem perante a riqueza que o sacramento do matrimónio oferece aos seus projetos de amor, fortalecidos pela ajuda que recebem da graça de Cristo e pela possibilidade de participarem plenamente na vida da Igreja.
Quer a tibieza, quer qualquer forma de relativismo ou um excessivo respeito no momento de propor o matrimónio, seriam uma falta de amor da Igreja para com os jovens. Isto porque, compreender as situações excepcionais não implica jamais esconder a luz do ideal mais pleno, nem propor menos de quanto Jesus oferece ao ser humano.
E muito mais importante que uma pastoral dos falhanços matrimoniais é o esforço pastoral que se faz para consolidar os matrimónios, e, assim, prevenir as rupturas (número 307).
Acrescenta Francisco que compreende os que preferem uma pastoral mais rígida, que não dê lugar a qualquer confusão. «Mas creio sinceramente que Jesus quer uma Igreja atenta ao bem que o Espírito derrama no meio da fragilidade: uma Mãe que, ao mesmo tempo em que exprime e reitera claramente o seu ensinamento objetivo, «não renuncia ao bem possível, embora possa correr o risco de sujar as mãos na lama da estrada».
Os pastores devem fazer as duas coisas: propor o ideal pleno do matrimónio cristão, mas assumir também a lógica da compaixão para com as pessoas frágeis, evitando perseguições ou juízos condenatórios e impacientes.
Jesus convida-nos a entrar de verdade na vida concreta das pessoas e a consolá-las e conquistá-las pela força da ternura. Se daí vier alguma complicação, seja bem vinda. É um ótimo sinal (cf. 308).
Nunca será demais recordar e insistir em que a misericórdia é o coração pulsante do Evangelho e que só por ela podemos chegar de verdade ao coração e à mente de cada pessoa.
Cristo é pastor das 100 ovelhas e não apenas das 99 que não se desviaram do pastor nem do bom caminho. Hoje, diremos nós, a proporção é bem diferente: talvez 40 vão pelo caminho direito, e haja 60 que é preciso ir procurar e carregar aos ombros com toda a misericórdia e ternura (309).
Viver da misericórdia é o nosso grato desafio, até porque, primeiro, fomos nós objeto da misericórdia do Pai. Reitera o Papa: «Tudo na ação pastoral deveria estar envolto pela ternura com que se dirige aos crentes. Nada do seu anúncio e do seu testemunho pode estar privado de misericórdia».
Não devemos comportar-nos como controladores da graça, mas como seus facilitadores. A Igreja não é uma alfândega: é a casa paterna, onde há lugar para todos com a vida cheia de fadigas e canseiras (310).
O primado da caridade deve estar na resposta à iniciativa gratuita do amor de Deus. Não podemos renegar na prática o amor incondicional de Deus, pondo tantas condições à misericórdia que a esvaziamos do seu real significado. E essa é a pior maneira de tornar insípido, de frustar o Evangelho.
A misericórdia não exclui a justiça e a verdade. Pelo contrário, a misericórdia é a plenitude da justiça e a manifestação mais luminosa da verdade de Deus (311).
As considerações feitas impedem-nos de desenvolver uma moral fria, de secretária, quando tratamos dos temas mais delicados. Ajudar-nos-ão, sim, a colocarmo-nos no contexto de um discernimento pastoral cheio de amor misericordioso, um amor que sempre se dispõe a compreender, a perdoar, a acompanhar, a esperar e sobretudo a integrar. É esta a lógica que deve prevalecer na Igreja para poder fazer a experiência de abrir o coração a quantos vivem nas mais díspares periferias existenciais. E propor isto nem é o caos nem o limbo, como alguém sugere!
Situando as coisas nestes termos, o Papa conclui o oitavo capítulo convidando os fiéis que vivem situações complexas a aproximarem-se com confiança para falar com os seus pastores ou com leigos que vivem dedicados ao Senhor. Nem sempre eles confirmarão as suas ideias e desejos, mas oferecerão certamente uma luz que lhes permitirá compreender melhor o que está a acontecer, podendo, assim, descobrir um caminho de amadurecimento pessoal.
Quando se é escutado com carinho e serenidade, é mais fácil abrir a mente e o coração para que seja Deus a operar o resto (312).