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31 Mai 2018
A Eucaristia no centro da vida e das comunidades
Homilia na Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo
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  © Avelino Lima | Braga

A Solenidade do Corpo de Deus é uma oportunidade para reflectirmos sobre a maravilhosa presença de Cristo na Eucaristia. Pretende-se uma meditação que dê qualidade à nossa vida tão atarefada e repleta de desafios. A dimensão contemplativa é, como sabemos, um dos pilares fortes da espiritualidade cristã. Muito pode ser feito na vida dos cristãos e das comunidades, mas sem oração e contemplação corremos o risco de sermos uma mera agência de serviços. Não podemos tolerar este horizonte.

A Igreja deseja e luta diariamente por um projecto de renovação do mundo e da sociedade. Mas nada de consistente acontecerá sem espaços para saborear, no silêncio, o dom da Eucaristia que Cristo ininterruptamente oferece à Igreja. Os cristãos não aproveitam esta graça e a sua vida torna-se, muitas vezes, sem sabor. Procuremos, caros sacerdotes e leigos, tocar a presença eucarística de Cristo. Aquilo que é invisível aos olhos do corpo humano é suprido pela certeza da fé.

Tenho vindo a falar, em diversas ocasiões, sobre o dinamismo interno das nossas comunidades. Hoje acrescento uma outra interpelação. Somos ou devemos ser comunidades fundadas pela Eucaristia e por ela enviadas em missão. Isto faz com que Eucaristia deva, por um lado, ocupar um lugar central na comunidade e, por outro, ser o reflexo da sua vida. Jesus está presente no mistério da Eucaristia, torna-nos participantes na sua relação com o Pai e revela-nos o precioso dom da esperança.

Importa hoje recuperar o que o Concílio Vaticano II refere na Presbyterorum Ordinis: a eucaristia é o centro da comunidade cristã e da sua missão. Não se trata, porém, de uma centralidade geométrica ou estática. É uma centralidade absolutamente original que nos une a Cristo, aos irmãos e nos impele, graças ao seu dinamismo interno, a um encontro com o Pai, tendo em vista o bem do mundo.

Devemos, com clareza, colocar a Eucaristia no centro da comunidade, tirando daí todas as consequências espirituais e pastorais. O alimento eucarístico não beneficia só quem comunga. Faz de muitos um só corpo – o corpo de Cristo – no Espírito Santo. E um corpo que deve exprimir a nível social a força do espírito de Cristo que transforma a história. A Eucaristia faz da Humanidade um povo novo. Pela Eucaristia, cada aspecto da vida humana é assumido na sua singularidade, une-se à comunhão trinitária e integra o processo de salvação.

 Quando se acredita na força da Eucaristia, todos os problemas humanos são integrados, confiados às mãos de Deus e elevados em oração de súplica. O conflito entre as diferentes classes sociais, que ainda persiste, a civilização do bem-estar em confronto com situações de carência e debilidade económica, as difíceis relações entre gerações, os problemas de saúde, do trabalho, a vida familiar nas suas complexas inquietações. Tudo é apresentado no altar da Eucaristia, sem esperar soluções imediatas ou técnicas, que também são necessárias, mas acreditando e lutando por um novo paradigma: uma consciência moral que considere a pessoa humana no seu conjunto, que suscite e crie comportamentos de tolerância, de diálogo, de colaboração, de compreensão e de perdão recíproco.

Tudo isto supõe que a celebração seja, sobretudo, a presença de Cristo vivida por todos. É hora de levar os cristãos a interrogarem-se sobre as suas verdadeiras motivações, de modo a que não tenhamos presenças inertes, quase que envergonhadas, sem vontade de viver interiormente o mistério que se celebra.

A missa dominical não pode ser um momento isolado em que se cumpre um preceito sem consequências nos gestos da comunidade, das famílias e das pessoas. Ela é uma proposta a ser vivida nas circunstâncias particulares de cada um. A Eucaristia deve plasmar e construir a comunidade. Para que o faça, não pode ser simplesmente usada como uma espécie de tapa buracos ou mera ocasião para solenizar as festas e as reuniões que têm o seu centro em coisas totalmente diferentes como acontece, muitas vezes, nas nossas festas. 

Quando a Eucaristia ocupa o centro da vida da comunidade, esta deve, como Cristo referiu, ser capaz de atrair tudo e todos. Tudo o que é humano é assumido, purificado, regenerado e mergulhado no movimento que dela promana. A Eucaristia não é um simples bem que é colocado à nossa disposição. Com ela podemos adquirir um carácter oblativo, ofertorial para procurar o bem de todos os homens, o alimento, o vestido, a casa, a saúde, a serenidade familiar, o trabalho, a justiça social, a paz dentro e fora das nações.

Colocar a Eucaristia no centro da vida dos cristãos e das comunidades não é um simples processo organizativo. Importa que se viva para a Eucaristia e que se permita que ela influencie, como consequência, as atitudes e comportamentos. Devemos, por isso, eucaristizar a vida e, para isso, precisamos de dar tempo à celebração para além daquele que ela demora. Há um antes e um depois para viver bem e festivamente a participação no momento celebrativo.

Também a necessidade de envolver a vida numa dinâmica eucarística, conduz-nos à concretização dos Grupos Semeadores da Esperança. Motivados para a viver em plenitude, descortinamos tempo para um encontro com outras pessoas. Pegamos nos textos e permitimos que eles nos interpelem. Comungamos uma partilha fraterna. Vamos delineando opções a estruturar o quotidiano da vida pessoal, familiar e profissional. Já são muitos os cristãos que fazem esta experiência. Muitos outros o poderiam fazer, particularmente os que estão envolvidos na celebração. Muitas vezes só existe a preocupação em fazer bem as coisas. Ler com convicção, distribuir a comunhão com devoção, cantar com o espírito festivo, acolitar com perfeição. Tudo coisas muito importantes, mas que necessitam de espírito, isto é, de uma motivação interior capaz de tornar a celebração em fé vivida. Com esta disposição de encontro com Cristo, a esperança nasce e toma conta da pessoa que depois se vai sentir impelida a semear no mundo.

É em grupo que reconhecemos o valor da vida como algo que não nos pertence. Ela deve ter dignidade em todos momentos, particularmente na fase terminal. Importa trabalhar para que todos os portugueses tenham um final de vida natural e com dignidade, onde não faltam todos os cuidados que a medicina e a psicologia hoje nos oferecem.

Rezemos, em solenidade do Corpo de Deus, para que a Eucaristia seja colocada no centro da vida dos cristãos e a influencie a partir de dentro. Façamos a nossa parte para que também ela alimente as nossas comunidades, não só na execução escrupulosa dos diversos ritos, mas como momento à volta do qual a comunidade, de um modo efetivo e afetivo, se movimenta. Criemos momentos de oração eucarística no nosso dia-a-dia. Gastemos tempo diante do sacrário. Ouçamos o que a presença real de Cristo nos vai sugerindo. Em suma, deixemos que a Eucaristia nos possua de modo que por ela o mundo de fraternidade e comunhão seja construído por todos quantos se alimentam do pão eucarístico.

† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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