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6 Abr 2020
Segunda-feira da Semana Santa
Homilia no Paço Arquiepiscopal
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Olhando retrospectivamente para o que fui partilhando convosco ao longo de mais de três semanas, cheguei à conclusão de que talvez tenha sido demasiado exortativo, ou seja, sempre a pedir para chegar a comportamentos e atitudes novas e diferentes. Ao iniciar a Semana Santa, sinto que agora é necessário olharmos para o essencial do que celebrarmos. Podemos olhar para Cristo que morre de um modo cruel e doloroso, com todas as expressões de sofrimento. Esta é a grande verdade! Celebramos a Paixão e a morte de Cristo. Não podemos fugir desta realidade. Mas pode ser útil, para a nossa vida cristã, interrogarmo-nos sobre a razão de ser desta paixão e morte. E S. Paulo é extremamente elucidativo recorrendo a duas simples palavras. 

“Cristo morreu por mim”, diz ele. Morrer é uma coisa. Morrer por mim é muito mais profundo. Perante estas duas palavras, que não são só de S. Paulo, teremos de nos deixar tocar por elas e, se possível, dar-lhes vida, ou seja, encontrar respostas concretas para o nosso quotidiano. Se morreu por mim, a nossa resposta, numa lógica de reciprocidade, deveria ser “morrei por Ti”. Ele entrega a Sua vida primeiro e de um modo definitivo. A nossa gratidão passa por também lhe oferecer a nossa, não apenas uma só vez mas muitas, conforme as solicitações que o quotidiano nos vai pedindo. A minha vida deve ser permanente gratidão e nunca pagaremos tão grande amor. Por isso, nestes dias, quero dizer muitas vezes “Obrigado, Jesus, porque morrestes por mim”.

Aceitando esta verdade, devo olhar para a minha vida e nela reconhecer que são muitos aqueles que de um modo heróico, que nem sempre eu reconheço, vão dando a vida por mim no silêncio. Por isso quero fazer desta Semana Santa, para além da reflexão sobre o futuro da Igreja, um momento para dizer muito obrigado a muita gente, conhecida ou desconhecida. Nesta minha atitude, convido também a todos vós, que me tendes seguido nestes dias, a reconhecer que há muito a agradecer e que não podemos esquecer.

A Quaresma, no itinerário que quisemos seguir, reservou-nos diversos tempos. Tivemos tempo para dar, para ver, para acreditar. Esta semana é tempo para estar e convido a que, espiritualmente, sejamos capazes de estar com muita gente que faz parte das nossas vidas. Já o fizemos uma vez mas quero voltar a testemunhar gratidão a tantos trabalhadores que vão gastando a vida em gestos de oblação, com toda a incerteza e risco que esse trabalho engloba. Recordo a dedicação dos médicos e enfermeiros que, indo até às últimas consequências, são a única presença juntos de doentes, alguns a morrer sem mais ninguém por perto e outros a lutar contra a tirania do vírus. 

São heróis silenciosos que salvam vidas e reconfortam na solidão daqueles que morrem sem a ternura dos familiares e amigos. Os bombeiros com todo o corre corre, indo ao encontro para levar e trazer numa azáfama de cansaços múltiplos mas sempre com a alegria de querer servir sem nada pretender. Os polícias que orientam e procuram convencer quem não esta disponível para aceitar todas as orientações, colocando-se em situações de risco e tornando-se perigo para aqueles com quem virão a encontrar-se. Os trabalhadores dos transportes públicos, que solicitamente conduzem as pessoas para que possam obter tudo quanto necessitam para continuar a lutar nos espaços de quarentena, onde também é indispensável que nada de essencial falte. Os farmacêuticos que são sempre o rosto que dialoga e conforta, não só num espírito comercial mas de entreajuda, por vezes nos momentos de dúvida e de perplexidade por tudo aquilo que poderá vir a acontecer. Os cuidadores familiares, que solicitamente não fogem ao cansaço para dar tudo o que faz falta e, nas dificuldades do isolamento, ajudarem a um clima de tranquilidade e serenidade. Os idosos retidos nos lares sem a presença e diálogo dos familiares com tantos dias e dias de dúvidas e interrogações sobre o que poderá acontecer. No fim, também a todas as famílias retidas em casa, muitas vezes sem grandes espaços e ambientes parar diversificar os modos de passar o tempo.

A estes, e a muitos outros, quero dizer-vos: estou convosco e testemunho a gratidão de quem acredita que, sem o vosso trabalho, a vida seria muito mais pesada. Resta-vos a certeza da gratidão de tantos outros. Vale a pena viver para amar e o vosso trabalho tem sempre o rótulo do amor desinteressado e gratuito. Convido todos quantos vão vivendo a eucaristia a partir do Paço que descubram rostos a quem devem dizer sempre obrigado por aquilo que são para eles.

  

† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

 

Introdução

O profeta Isaías apresenta-nos hoje Jesus Cristo como o servo que não gritará mas antes entregará a sua vida por amor. Cristo é o Servo de Javé que dá a vida. Há muitos que nos servem e a quem não prestamos a mínima atenção. Esta semana deverá ser a semana do obrigado a dizer a tantas pessoas. Fazemo-lo a Cristo e nele a tantos outros.

Momento da paz

Uma pecadora derrama um vaso de perfume nos pés de Cristo. Enxuga-os com os cabelos e mostra o amor feito arrependimento pela vida de pecado. O perfume espalhou-se por toda a casa. Hoje necessitamos de colocar o perfume do reconhecimento e gratidão no regaço de tantas pessoas. A paz é esta oferta. O perfume ninguém o vê mas todos o sentem. Façamos da nossa gratidão este perfume.

Despedida

Sejamos concretos. Elenquemos algumas pessoas e tenhamos a coragem de pegar no telefone, pura e simplesmente, para lhe dizer obrigado. Pode ser um família, um amigo, alguém que vejo poucas vezes. Que sintam e experimentem a nossa amizade. A Páscoa deve ser um tempo para mostrar com gestos que Cristo vive. Iniciemos hoje e inventemos modos para testemunhar gratidão no aconchego do nosso lar. São os primeiros a merecer o nosso obrigado.

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