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2 Fev 2020
Universidade Católica na missão da Igreja
Homilia no Dia Nacional da UCP
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No dia em que a Igreja celebra a festa da Apresentação de Jesus, celebramos também, em Portugal, o dia da Universidade Católica Portuguesa. Feliz coincidência! Coloquemo-nos, desde já, na disponibilidade de retirar conclusões programáticas e não de ficar em simples enunciados teóricos. A razão de celebrar este dia com uma eucaristia deve ter este significado.

Iniciámos, há dias, um novo ano civil e com ele uma nova década. Verifiquei que muitos analistas e alguns futurólogos insistiam na ideia de que iriamos caminhar para uma década de profundas transformações. Houve um tempo em que abordávamos o evoluir da sociedade falando de uma mudança de época. Depois, alguns insatisfeitos foram mais longe e começaram a falar de época de mudanças. Agora pretende-se sintetizar tudo na palavra “transformação”. Quer-se sublinhar que assistiremos a realidade dinâmica e de futuro imprevisível. Os desafios serão mais do que muitos e acontecerão com a um ritmo muito acelerado, quase não dando tempo para uma reflexão serena e metódica.

Quando tomarmos consciência da verdadeira dimensão dos novos problemas e questões, já estaremos talvez demasiado envolvidos nestas novas situações. A inteligência artificial talvez seja a realidade que mais desafios poderá trazer-nos. Também a problemática do Humanismo com a consequente vida em sociedade a nível local, regional, nacional ou mundial trará muitos desafios que as redes sociais se encarregarão de colocar nas mãos de todos, a começar pelas crianças de tenra idade. A sustentabilidade económica e ambiental, do mesmo modo, serão questão de grande portada.

A história da Humanidade, no confronto com outras culturas, testemunha que a Igreja, no mundo ocidental, com tudo aquilo que ela desenvolveu, conseguiu moldar um pensamento e fazer com que este dinamizasse a História. Tudo era resolvido em base a disputas e à condenação dos adversários. Aceitava-se a verdade de carácter universal.

Hoje, de modo muito claro, a sociedade é pluralista em termos culturais. Ninguém aceita o pensamento único e até se fala do pensamento líquido que impõe as suas regras, mas depois se evapora. Tudo é passageiro e imprevisível! Ninguém está suficientemente documentado e preparado para enfrentar este rumo imprevisível da História.

É neste ambiente que podemos integrar o papel da Universidade Católica Portugal. Até agora, embora com algumas décadas, era suficiente reagir ao contrário e demonstrar a sua irracionalidade. Quando se começa de novo a dar importância ao racional, ouso perguntar até que ponto não seremos capazes de seremos proactivos. São muitos os caminhos, as interrogações e perplexidades. Já não basta condenar aprioristicamente ou através de um raciocínio academicamente estruturado. Temos de antecipar pensamentos, criar cultura, dar um contributo positivo de modo a salvar o que é humano e o seu viver em sociedade. O contributo pode parecer residual. Por mais pequeno que seja, será certamente imprescindível para o futuro da humanidade. Não nos podemos contentar em conhecer quanto se ensina ou divulga. Penso que teremos de ter algo de original a oferecer.

A Reitora da Universidade Católica, na mensagem preparatória para este dia, diz que “a Universidade é uma instituição central para que o futuro não seja marcado pelo sonambulismo da desgraça, mas pelo contrário se constitua na luz da defesa dos valores inclusivos, ecuménicos e justos do Humanismo” e “protagonista de uma ecologia solidária e de um futuro eticamente responsável”.

A liturgia de hoje fala da luz para iluminar as nações. São Bartolomeu dos Mártires, em tempo de crise e também de mudança de época, propôs-se a arder e iluminar. No seu tempo, o contributo que ofereceu marcou a época com reformas consistentes. Hoje o nosso pensamento poderá parecer imperceptível e insignificante, mas, como o pequeno fermento, deve estar presente onde se estrutura e elabora a cultura. É uma pequena luz que pode tornar-se norteadora. Para que isto aconteça, a missão da Católica terá de extravasar os recintos das aulas ou das salas universitárias. Sair não pode ser uma palavra gasta pelo Papa Francisco. O mundo é um verdadeiro areópago onde a voz da Igreja não poderá faltar. Com esta presença, os problemas poderão ser mais compreendidos e o ensino tornar-se-á mais motivador para encontrar, em conjunto, soluções.

Depois, talvez não seja utópico pensar na hipótese da Católica, nos seus currículos, ir propondo caminhos alternativos. A título de exemplo, ao lado de uma economia que mata não será possível motivar para uma verdadeira comunhão entre os empresários, os trabalhadores e as empresas? Poderão ser meras e pequenas iniciativas mas precisamos de presenciar coisas diferentes.
Penso que a Católica não pode fugir à responsabilidade de ver a sua missão de uma forma centrípeta e centrífuga. No seu interior, terá de questionar sempre a excelência dos seus ensinamentos e colocar-se na vanguarda de quem quer contribuir para uma sociedade diferente. Mas também não pode deixar de olhar para fora e interrogar-se sobre o contributo dos seus professores e antigos alunos para uma sociedade alicerçada em valores e que trabalha pela dignidade de todos.

Para mim, a missão da Igreja, temo-lo dito imensas vezes, e é já um lugar comum nos ensinamentos do Papa, não acontece somente nos seus espaços. Deve percorrer caminhos novos dentro da sua missão de ensinar, celebrar e construir comunidades de irmãos. Se a sua pastoral tem de ser sinodal, necessitamos que a Universidade Católica, aqui em Braga, nas suas diferentes faculdades, caminhe connosco e nos ofereça sugestões devidamente estruturadas e em consonância com o evoluir da História. 

A acção da Igreja não será eficaz de for amadora. Necessitamos de usar uma linguagem que a mentalidade moderna entenda e de apresentar conteúdos que dialoguem com a cultura actual. Considero a presença da Católica um dom entre nós. Espero que continuem a ajudar a nossa missão com contributos positivos, solicitados ou apresentados por iniciativa própria. Agredeço, a título pessoal, todos os contributos que possam dar, certo de que então a Arquidiocese mostrará outra credibilidade nas suas propostas pastorais.

Voltando ao espírito da liturgia deste Domingo, recordo um pensamento muito interessante de Plutarco que diz “educar não é encher vasilhas, mas acender fogueiras”. Sei que não é fácil motivar alunos para que queiram encher-se de novos conhecimentos. Toca-nos, porém, a responsabilidade de ir acendendo fogueiras nas mentes dos estudantes para que, posteriormente e como consequência natural, iluminem o coração das famílias, das empresas, da política e de todos os ambientes humanos. A luz pode parecer pequena. Se for consistente resistirá a todos os ventos.

Rezemos para que a Universidade Católica prossiga os seus objectivos de harmonia com os estatutos que definem a sua identidade no meio, e talvez no confronto do mundo universitário. Como Igreja que somos, mostremos, em todas as comunidades, a nossa generosidade para que seja possível ir concretizando o projecto de uma Universidade Católica. Criemos, assim, condições para que todos quantos queiram ter um ensino universitário pautado por valores humanos tenham essa possibilidade. Que os problemas e dificuldades não nos atemorizem. Sejamos fiéis e acreditemos que ainda é possível fazer mais e melhor.

Que S. Bartolomeu dos Mártires que, apaixonado por uma verdadeira reforma da Igreja, apostou na formação académica de sacerdotes e leigos, nos faça compreender que sem uma verdadeira opção pela cultura, nas suas mais variadas manifestações, a Arquidiocese de Braga não saberá estar à altura das novas exigências. Precisamos de mais e melhor formação, inicial e permanente, para responder aos diferentes problemas que nos são colocados. Acendamos, em conjunto, fogueiras no mundo das paróquias, nos sacerdotes e nos leigos. A luz de Cristo iluminará, hoje como outrora, os passos da Igreja e da Arquidiocese.

† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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