Arquidiocese

ANO PASTORAL
"Juntos no caminho de Páscoa"

[+info e Calendário]

 

Desejo subscrever a newsletter da Arquidiocese de Braga
22 Out 2015
S. Martinho de Dume, o padroeiro exemplar
Homilia na Solenidade de S. Martinho de Dume, padroeiro principal da Arquidiocese de Braga
PARTILHAR IMPRIMIR
  © Avelino Lima

O Evangelho coloca-nos em atitude de confronto com a verdadeira realidade eclesial. Já fomos uma Diocese onde a quase totalidade das pessoas se confessava católica. Hoje, poderemos, ainda, estar apegados a esta ideia que a realidade desmente. Quase sempre atribuímos a causa a factores externos ou perdemo-nos em questões subjectivas que pretendem justificar uma ausência das pessoas dos actos religiosos e um alheamento, infelizmente em ritmo crescente, da vida eclesial. 

Não podemos cair em ilusões. A situação real exige uma verdadeira conversão de vida e, como consequência e usando o pensamento do Papa, uma conversão pastoral. Perante um mundo novo e uma alteração civilizacional profunda, algo de novo deve acontecer, na certeza de que o Espírito não nos abandona. Importa ser fiéis à missão de Cristo. S. Martinho de Dume encontrou-se perante um povo suevo sem grandes convicções cristãs e investiu num trabalho sério de encontro com a sua cultura cristianizando-a e restituindo à Igreja o prestígio que já tinha tido. Hoje, toca-nos a nós discernir caminhos novos e iniciar, com o encanto e ardor dos nossos antepassados, uma nova etapa evangelizadora, dando à Arquidiocese um rosto missionário e não de encerramento nas tradições e costumes.

Que significado terá para nós aqui presentes, ou membros mais empenhados da Arquidiocese, o Evangelho que acabamos de ouvir? Poderemos ouvi-lo passivamente e não reconhecer a força interpelativa que encerra? Não será uma feliz coincidência explicitando-nos o caminho a seguir e as opções a tomar?

A Arquidiocese de Braga, presença da Igreja de Jesus Cristo neste território, não pode fugir à responsabilidade, sob pena de não fidelidade ao projeto de Cristo de ir em busca de todas as ovelhas, não se instalando nos meandros de uma pastoral de simples oferta a quem a procura. Sair é sinónimo de ir ao encontro das ovelhas perdidas, das feridas, para dar vigor às enfraquecidas. Estas palavras evangélicas devem, necessariamente, ser descodificadas para lhe dar uma interpretação realista. Trata-se de sair para as periferias – não introduzamos esta palavra no dicionário das palavras usadas – para suscitar um encontro com os problemas e os sofrimentos do povo. Como nunca, teremos de mostrar que a Arquidiocese, como povo de Deus que assume tarefas diversificadas, deve intensificar a sua consciência missionária. Para S. Martinho, foram os suevos que procurou evangelizar. 

Hoje, temos diante de nós muita gente que se afastou da vida eclesial, assim como também agnósticos, ateus e indiferentes. Não imaginemos que se trata de um número reduzido. Enganamo-nos quando agimos na pastoral como se tivéssemos diante de nós cristãos pelo simples facto de terem sido baptizados e, quem sabe, crismados ou casados pela Igreja. Nesta nova dinâmica evangelizadora, nunca podemos esquecer o modo de o efectuar. Teremos de mergulhar no mundo, não com as teorias dos discursos - quase sempre condenatórias -, mas agir, como diz o Papa, “com um dinamismo que actua por atracção”. Não virá a propósito lançar a pergunta se as comunidades atraem ou afastam? Como responderíamos em consciência?

Mergulhando no mundo com a responsabilidade de atrair pelo testemunho, quero deixar aqui algumas palavras do Papa Francisco na sua primeira grande entrevista à Civiltà Cattolica. “Vejo com clareza que o que a Igreja necessita hoje é de capacidade de curar feridas e dar calor aos corações, aproximação, presença.” Devemos “encarregarmo-nos das pessoas, acompanhando-as como o bom samaritano, que lava, limpa e consola o seu próximo”. “Caminhar com as pessoas pela noite e na sua obscuridade sem nos perdermos.”

Em dia do Padroeiro, teremos de refletir, rezar e comprometermo-nos para que a Arquidiocese interiorize que a sua missão consiste em levar Jesus, e se o não fizer saiba que está a ser uma “Igreja morta”. O caminho para o fazer é só o Evangelho e, por isso, quotidianamente, importa “voltar à fonte e recuperar a sua frescura original” (Papa Francisco, E.G.). Como Jesus, temos um projecto: instaurar o Seu Reino. Não é o reino do poder ou do reconhecimento mas é um projeto humanizador, fazer com que o ser humano não se perca em ilusões mas aceite a força de um verdadeiro humanismo que Cristo apresentou como o caminho que não engana.

Cristo levou S. Martinho ao encontro de um povo que se afastara dos comportamentos cristãos, mais ou menos impostos por uma religião oficial do Estado nas determinações do imperador Teodósio. Hoje, a cristandade passou e a Igreja não pode renunciar à missão de marcar a História actual com a sua presença que muitos não quererão compreender. Caminhar com os homens e mulheres do nosso tempo, num compromisso social de atenção aos grandes dramas para quem a humanidade olha. Mostraremos, deste modo, a actualidade de Cristo e a importância da Igreja, que deve ser importante para nós, mesmo que não o seja para os outros, e isto exigirá que descubramos caminhos e atitudes novas para estar no mundo numa única atitude de serviço. Não nos admiremos se não nos consideram e reconhecem a importância do nosso agir. A indiferença vem de quem menos esperamos. Basta-nos a entrega ao projecto humanizador de Cristo, como S. Martinho. Só assim faremos História e a nossa vida não passará como uma inutilidade. A Igreja de Braga não apenas saberá respeitar as suas memórias, mas contará para os homens e mulheres que procuram a Verdade, ainda que por vezes pensemos o contrário.

Que S. Martinho nos faça percorrer esta nova etapa da Evangelização sem medo e com responsabilidade eclesial.


Braga, Sé Catedral, 22 Outubro 2015

+ Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

PARTILHAR IMPRIMIR
Palavras-Chave:
Departamento Arquidiocesano para a Comunicação Social
Contactos
Director

P. Paulo Alexandre Terroso Silva

Morada

Rua de S. Domingos, 94 B
4710-435 Braga

TEL

253203180

FAX

253203190