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D. Jorge Ortiga | 5 Dez 2008
S. Geraldo e o verdadeiro amor à cidade
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A sociedade post-moderna parece alhear-se da história como conhecimento do passado. Se há alguma curiosidade por parte de alguns, teremos de reconhecer como evidente, sobretudo por quanto diz respeito aos jovens, uma diminuta transmissão da memória histórica, no sentido religioso e profano. Perece-me urgente suscitar a responsabilidade de transmitir o sentido das coisas que nos precederam e que são a razão do nosso ser actual como comunidade civil e/ou religiosa. Não vamos chorar esse passado ou apegar-nos a ele como solução única. Devemos ser capazes de comunicar o espírito que motivou pessoas e instituições a crescer na capacidade de construir o quotidiano. Ninguém pode edificar o futuro sem confrontar-se seriamente com o passado e daí a importância de o valorizar dum modo empenhativo.
Isto podemos recolher, também, da história dos nossos santos. Em primeiro lugar, podemos verificar como eles desmascaram todas as formas de idolatria, ou seja, todas as construções humanas portadoras de morte. Dando um salto, também hoje existem muitos “mitos” que se pretende impor ao povo e que teremos de os afastar do quotidiano da nossa história para apostar em critérios de autêntico humanismo que a história de S. Geraldo e outros nos oferecem.
Deixamo-nos comover, por exemplo, pelo “milagre dos frutos” e temos razão para isso retirando-lhe tudo o que poderá encerrar de fantástico (?). Ele diz, ou pode dizer muito, ao homem actual. Com efeito, alguns “mitos” de hoje não podem ser aceites pelos católicos, por exemplo, a ideia de que os pobres, os explorados, os marginalizados e humilhados são fruto estruturante do evoluir histórico e como tal têm de existir. Jesus ensinou e viveu que os pobres poderão existir sempre mas que serão eles a preceder-nos no Reino dos Céus. Eles são os nossos verdadeiros “senhores” e daí que o pobre, o emigrante, são cidadãos a merecer o maior carinho da Igreja.
Com a realidade do urbanismo, ou seja, a tendência para se deslocar para as cidades, é nesta que os contrastes sociais mais se avolumam. Por isso e dando continuidade às Visitas Pastorais, necessitamos duma maior convergência de iniciativas e duma permanente análise e reflexão para discernir soluções novas sem nos deixarmos deter pelo cansaço ou pela rotina de “ver” determinadas situações. Precisamos da energia de S. Geraldo, que acreditou que era possível uma cidade alicerçada na caridade. Não resolveu todos os problemas, mas indicou o sentido da generosidade e compromisso social.
Para além desta questão preocupante dos pobres na cidade, teremos de, como crentes e articulando a nossa boa vontade com os poderes civis, ver um pouco mais longe e determo-nos no que poderá originar uma cidade nova. Permiti uma citação de João Paulo II à Diocese de Milão.
“Igreja que estás em Milão, não temas diante dos grandes desafios do momento presente.
Caminha confiadamente no empenho da nova evangelização, no serviço carinhoso aos pobres e no testemunho cristão em todas as realidades sociais. Tem consciência da longa e fecunda história das tuas paróquias, dos oratórios e das tuas numerosas realidades associativas”. (5-11-2000)

Mais do que nunca necessitamos de ter consciência da nossa história e sentir orgulho nela, procurando cultivá-la e preservá-la. Isto passa pelas opções quotidianas no campo das atitudes diárias, pelo respeito dos sinais do passado ainda presentes no nosso património artístico e cultural, pela defesa de sinais exteriores que identifiquem sem ambiguidades uma história a que queremos ser fiéis.
Celebrar 900 anos dum Bispo de grandes perspectivas e capacidade de intervenção, está a dizer-nos que não devemos ter medo diante dos grandes desafios do momento presente. Como Igreja e alicerçados numa sadia laicidade, assumimos o evangelho e queremos, com ele, por sua causa, edificar uma sociedade de amor e não de exploração do mais fraco, de diálogo e não de imposição de ideias, de serviço a todos na verdade e na justiça e não de clientelismo a favor de alguns, de unidade e comunhão com todos e não de favorecimento a grupos, de verdade e apoio aos mais pobres (pessoas ou instituições) e não de oportunismos enganadores dos mais fracos.
Contamos com a colaboração das autoridades civis. Sempre privilegiamos o diálogo para ir mais longe nos objectivos a alcançar. Se no tempo de S. Geraldo os poderes estavam concentrados na esfera eclesiástica, hoje só queremos que nos aceitem como parceiros que nada pretendem para si. Basta-nos o bem comum e sempre estaremos ao seu serviço.
Que os 900 anos da morte de S. Geraldo permitam que continue a mesma unidade, no agir e intervir, sendo interpretes em esferas diferentes que nunca se excluem mas se integram mutuamente para bem do único povo que servimos.
Da minha parte peço que S. Gerado nos inspire nesta serena responsabilidade de dar à Arquidiocese e, particularmente à cidade de Braga, que ele começou a reedificar, um rosto de igualdade, fraternidade e justiça para todos. Eu acredito nos sonhos mas vejo que, só de mãos dadas, os realizaremos.
S. Geraldo interceda por nós.

Braga, 05-12-08
† D. Jorge Ortiga, A.P.
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