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17 Abr 2005
A Família e as Vocações
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A pertinência do tema justifica-se sobretudo porque, no momento actual, atravessamos uma era, tantas vezes cinzenta, povoada de metáforas indiciadoras de uma sociedade amorfa, depressiva e à deriva. Ora, a ideia de vocação aparece como um conceito-chave, já que consubstancia um apelo, um chamamento para uma determinada meta, apontando numa direcção, visando objectivos alcançáveis. A associação vocação e felicidade surge como inevitável. O homem tende a ser feliz. Falamos então de uma vocação para se ser feliz, sendo que se considera a felicidade um projecto que se (per)segue ansiosa ou serenamente… Referimo-nos a uma construção indissociável de uma busca de sentido, a uma vivência, a uma conquista, a um processo inacabado, a uma aposta tenaz num ideal de vida. Para nós cristãos, a felicidade é personificada em Jesus Cristo. O que está aqui em questão é a realização pessoal como plenitude humana. Introduzindo-se um novo dado, o resultado é o da Família como Caminho de Amor. O que é que palmilhar este percurso implica? Esforço, luta, sacrifício, coerência, entrega e discernimento constantes. Adesão, disponibilidade. Modalidade? Sempre. No fundo, trata-se de uma realização no ser e no viver, uma vontade de Deus. Quanto à vocação para se ser Família, podemos equacioná-la enquanto desejo profundo em amar, em projectar-se para além das próprias necessidades e aspirações, para além do seu egoísmo, na abertura e serviço aos outros e com sentido de comunidade. Requisitos? Coragem, verdade, autenticidade, generosidade, disponibilidade, gratuidade, caridade, esperança, fé. Particularizando, a fecundidade faz parte integrante dessa vocação. Os filhos dos que têm o privilégio de ser pais (não esqueçamos que a infertilidade atinge hoje cerca de um milhão e meio de portugueses), os filhos, dizia, são, sem sombra de dúvida, um ponto incontornável nessa manifestação vocacional. Preocupam-nos por diversos motivos: nomeadamente por razões de ordem educativa, mas também sócio-económica, sobretudo se pensarmos que não há uma verdadeira política para a família. Pensemos no conceito de família numerosa e nos entraves que social e economicamente se lhe deparam. Basta observar, muito simplesmente, o que se passa em termos de tipologia habitacional. O mercado em questão disponibiliza T1s, T2s, T3s e, quando muito, T4s. E os T4s, significativamente menos acessíveis, têm implícita a ideia de que um dos quartos servirá como escritório; por outras palavras, não se concebem apartamentos para comportar, por exemplo, famílias com cinco, seis, sete filhos. De uma maneira ou de outra, o que sobressai é que, segundo os parâmetros de consumo, de conforto e de bem-estar da classe média, para se ter uma família numerosa o factor económico é fundamental e condição sine qua non para a sua viabilidade. Directamente ligado a este factor, a disponibilidade temporal é um bem, cada vez mais escasso, não acessível a todos e em relação ao qual as entidades patronais não se compadecem. Basta pensar nos problemas profissionais que se levantam face a um panorama de gravidezes sucessivas. Ora este cenário acaba por ser um tanto ou quanto paradoxal com a nossa realidade de hoje e de amanhã. O jornal Público do fim-de-semana passado previa uma população portuguesa maioritariamente envelhecida já em 2018, alertando para a presente falta de jovens. Aliás, é comum ouvir dizer-se que Braga é a cidade mais jovem da Europa, mas esses dados não têm em conta que em concelhos limítrofes isso já não se verifica. Por outro lado, é do domínio geral que Portugal é o 2º país com mais adolescentes grávidas, situação preocupante, por exemplo, por causa do recorrente recurso ao aborto nesses casos. Aliás, em relação a este aspecto, não é difícil detectar um claro divórcio entre as necessidades do país real e a legislação vigente. Equacionemos grosso modo a questão nestes termos: a sociedade portuguesa precisa de crianças e a tendência legislativa aponta no sentido da penalização das famílias com filhos a nível tributário, a k acresce a ausência de incentivos. E, além disso, aparece no horizonte a ideia de tornar a fazer um referendo sobre o aborto. Uma outra ideia digna de nota é o facto de as culturas urbanas serem fortemente desagregadoras da família. Basta pensar que os jovens, abandonando tantas vezes os locais de origem, designadamente por motivos profissionais, se fixam nas cidades, cortando vínculos com a família, diluindo-se, portanto, o desejável prolongamento inter-geracional. Pese ainda que o rosto pós-moderno da sociedade vai deslegitimando a família no sentido tradicional, tentando, por exemplo, promover a legalização de pseudo agregados familiares, por vezes com encapotadas reivindicações jurídicas. Logo, em termos lógicos, para além de a sociedade precisar de famílias como comunidades de afectos, de valores, de educação, etc., também necessita da família enquanto forma de reprodução biológica, simplesmente porque há falta de crianças. Isto já para não falar da problemática ligada à gravidez e à sua apologia e protecção. Neste sentido, é facilmente observável que a emancipação feminina se traduziu numa real perda de direitos que a mulher tinha como mãe. Com os novos tempos, as mulheres adaptaram-se ao mercado de trabalho de dominação masculina e foram impelidas a absorverem o modelo masculino que faz parte da cultura unissexual e laboral que também funciona como 1 travão à família. Segundo julgamos saber, nos países nórdicos, o Estado apoia a família, facilitando a ligação dos pais e das crianças nos primeiros tempos da sua vida, enquanto que, em Portugal, se as mães decidirem prolongar esse contacto estreito, indiscutivelmente importante, poderão fazê-lo perdendo parte dos seus, tantas vezes parcos, vencimentos. De tudo o que foi dito, ressaltamos a ironia da incongruência entre estas tendências políticas e a situação do país real que, neste momento, se debate com a falta de mão-de-obra qualificada (1 milhão de trabalhadores sem escolaridade básica). No futuro, não vamos ter mão-de-obra, pouco importa se qualificada ou não. Isto já para não referir a sustentabilidade do sistema de segurança social. Uma dimensão frequentemente esquecida é a da educação dos filhos na fé cristã, seguindo a família a imagem recorrentemente projectada de ser a igreja doméstica. A relação entre transmissão de valores cristãos e a consequente experiência de fé reclamam igualmente da intervenção qualificada dos pais. Somando a situação de precariedade de filhos e esta dimensão da fé tantas vezes obliterada, depressa compreendemos o número escasso de vocações para o sacerdócio e para a vida religiosa que encontramos no presente. Por conseguinte, concluímos, sublinhando a necessidade urgente de exortar a vocação para a Família, para perspectivarmos a vida como uma vocação familiar. Para além da justificação lógico-pragmática, através de todas as razões enunciadas, trata-se de uma opção feliz… Escolher ser feliz. Encarar a vida como uma resposta. Uma resposta ao chamamento de Deus. Helena Guimarães (Departamento Diocesano da Pastoral Familiar de Braga)
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