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3 Jun 2018
O verdadeiro significado do Domingo
Homilia na peregrinação arquidiocesana ao Sameiro
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  © Avelino Lima | Sameiro

Viemos ao Sameiro com os nossos problemas e alegrias. Trazemos as nossas vidas e nelas a intenção de viver como discípulos missionários que crescem na intimidade com Cristo e na alegria de O anunciar ao mundo. Queremos encontrar-nos com Maria e apaixonar-nos pelo seu modo de viver. Foi a primeira cristã que, enquanto tal, conviveu com Jesus e experimentou o sentido de uma vida comunitária com os apóstolos e os discípulos. Olhemos para ela como ouvinte e seguidora da Palavra de Deus, assim como um membro do primeiro grupo de discípulos que não temeram o poderio dos romanos e as imposições religiosas dos judeus e fariseus.

Nesta peregrinação Arquidiocesana, quero pensar na multidão de quantos se dizem católicos nesta região de Portugal para lhes pedir algo importante, assim como à Arquidiocese e à sociedade civil. Quero, com muita insistência e carinho, recordar o que o Papa Francisco nos diz na sua última Exortação Apostólica sobre o chamamento de Deus à santidade no mundo actual. O Papa reforça a ideia de que devemos pensar para além dos que já foram beatificados ou canonizados. A santidade é para todos! É um convite universal e ninguém deve ter medo da santidade pois ela nada tira à vida, antes lhe dá sentido e alegria.

Neste lugar, gostaria de assumir e dizer a toda a Arquidiocese que “a santidade é o rosto mais belo da Igreja”. Sim, é verdade! O grande desafio que a sociedade actual coloca à Igreja diocesana é o do compromisso efectivo no caminho da santidade, sabendo que ela se realiza na vivência dos pequenos gestos que transformam a vida. O Santo Padre sublinha ainda que a Maria “é a mais abençoada dos Santos entre os Santos, aquela que nos mostra o caminho da santidade e nos acompanha”. No alto do Sameiro, Nossa Senhora diz-nos que não nos podemos contentar com a vida medíocre e banal. Devemos, pelo contrário, pautar a nossa vida por uma vontade crescente no acolhimento e vivência da Palavra de Deus. Maria não só aconselha mas acompanha-nos e vai-nos dando força e alento. Por isso, no seu santuário, quero parafrasear o que nos é recordado pelo Papa. “Todos somos chamados a ser Santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra”. Muitos poderão interpretar este convite como “angélico”. Para nós, sacerdotes e leigos, é a única hipótese de mostrar ao mundo o que temos de válido, de diferente e original.

Será que existe esta consciência na nossa Igreja arquidiocesana? Não sou pessimista. Penso, porém, que há muito trabalho a realizar no sentido de uma vida cristã em plenitude. Indico apenas um perigo que importa eliminar com urgência: alguns sacerdotes e leigos deixaram-se instalar em determinadas rotinas e o seu testemunho cristão tornou-se amorfo. Um grande número de pessoas continua a afirmar-se católica, mas nem por isso participa na vida da comunidade cristã. É já um número significativo e com tendência a aumentar. Outros contentam-se com celebrações ocasionais em momentos de luto ou de alegria. Outros frequentam as nossas celebrações mas sem grandes motivações interiores. Basta-lhes o hábito para tranquilizarem a consciência. Por fim, um reduzido número procura a coerência da fé e preocupa-se em se alimentar, todos os dias, com a meditação da Palavra e com a oração. 

Foi neste contexto, e conscientes da realidade de um mundo hostil e indiferente que nos circunda, que lançámos a ideia de formar grupos onde seja possível crescer na fé, adquirir consistência e motivar-se para testemunhar o cristianismo nos diversos planos sociais. Demo-lhes o nome de “Grupos semeadores da esperança”. Poderiam e podem ter outro nome. Fundamental é a responsabilidade de encontrar tempo para, periodicamente, saborear a alegria do encontro com Cristo ressuscitado. O programa é simples. Basta um pequeno texto da Sagrada Escritura, reflexão, partilha e silêncio para que o Espírito nos transmita a alegria de estarmos e de vivermos com Cristo.

Diante da Senhora do Sameiro, de Santa Maria de Braga – padroeira da Arquidiocese –, de São Martinho de Dume – evangelizador dos Suevos e segundo padroeiro –, ouso, de novo, convocar sacerdotes e leigos para esta experiência de fé na constituição dos grupos semeadores de esperança. Não nos podemos contentar com o estilo de vida das nossas comunidades. Elas devem ser comunidade de comunidades, família de famílias que crescem e se multiplicam, lugar de interiorização da fé para que o mundo veja em quem acreditamos e reconheça o valor do cristianismo para a sociedade.

Temos consciência de viver um tempo de rápidas mudanças e, muitas vezes, olhamos para a modernidade desencantados, críticos, condenando-a por impedir um cristianismo com comunidades influentes, estruturadas hierarquicamente, onde a palavra do sacerdote é acolhida e respeitada. Não somos insignificantes mas o nosso papel e lugar é, hoje, diferente. Urge reencontrar a nossa missão, oferecendo sobretudo aquilo que temos de mais precioso: Cristo. Esta é a nossa tarefa e não podemos distrair-nos com outras coisas.

Para que isso aconteça, as leituras oferecem-nos uma pista de actuação. Muitas vezes desculpamo-nos com a falta de tempo para os grupos e outras realidades eclesiais. As leituras de hoje falam-nos da importância do sábado e do modo como os judeus o viviam e vivem. O sábado para nós, em virtude da ressurreição, é o Domingo. É chegado o tempo de recuperar o verdadeiro significado do Domingo. Como sabemos, diversas realidades profanas fizeram com que, progressivamente, fosse perdendo a mística do dia do Senhor. 

Uma das prioridades pastorais a assumir é a exigência de criar uma cultura e uma opinião pública capazes de restituir ao Domingo a sua natureza de dia consagrado ao descanso mas também ao Senhor, com tudo o que isto implica. O cristianismo e a laicidade não são inconciliáveis. São muitos os problemas a equacionar, mas os cristãos devem dar um contributo para a reorganização da sociedade, dando-lhe um rosto mais humano e onde o trabalho se coaduna com todas as exigências naturais. Para isso, o Domingo deveria ser dedicado a Deus, à família e à sociedade. Será possível um equilíbrio que permita a participação na eucaristia dominical e noutras iniciativas tais como os grupos semeadores de esperança? Os horários muitas vezes não são compatíveis, é certo, e isso cria dificuldades. Mas, o respeito pelo Domingo exige à Igreja uma intervenção pública mais assertiva que defenda valores intemporais para o bem das pessoas e das famílias. Criando esta cultura da atenção a todos, as principais dimensões da vida serão salvaguardadas. Podemos assinalar várias estradas para atingir este objectivo: potenciar as actividades organizadas pelas associações recreativas, culturais e humanas, facilitar e intensificar o convívio familiar com tempos de repouso e descanso, promover o empenho na vida civil e política, assim como a participação na vida religiosa, litúrgica, formativa e caritativa. Deus precisa de tempo para dar plenitude à vida; a família cresce quando experimenta a tranquilidade do descanso em comum e o diálogo para se estruturar convenientemente; a sociedade é um bem comum e trabalhar para ela dá felicidade. São exemplos muito concretos que a Igreja, e nela as comunidades, deve considerar e dar o seu contributo para valorizar o Domingo de modo a fazer com que ele ofereça qualidade de vida a todos, como cristãos e cidadãos. Urge enriquece-lo e criar esta cultura junto das pessoas que, como sabemos, serão as principais beneficiadas.

Que a Senhora do Sameiro nos ajude a interpretar a vida como uma permanente procura pela perfeição através da valorização do Domingo. O Domingo é o dia do Senhor! Como tal, é também o dia da sociedade e da família. Despertemos a esperança no coração das pessoas, nas famílias e na sociedade civil.

† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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