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D. Jorge Ferreira da Costa Ortiga | 20 Nov 2005
A Cidade Como Convivência Responsável
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[Sé Catedral, 20.11.2005. No encerramento das Comemorações do V Centenário de D. Diogo de Sousa.] A Cidade Como Convivência Responsável Festa de Cristo Rei e V Centenário de D. Diogo de Sousa Quisemos, numa articulação louvável de sinergias de diversas instituições, fazer memória dum dos maiores Arcebispos de Braga. Entre outros epítetos que sintetizam a sua passagem pelo ministério episcopal, muitos recordam-no como o reconstrutor da cidade de Braga. Já ultrapassamos a época em que os Arcebispos eram verdadeiros “Senhores” de Braga e, como tal, delinearam projectos materiais, abriram ruas e estradas, edificaram e constituíram serviços sociais, estruturaram uma formação educativa diversificada. Ultrapassada esta época, estamos, aqui e agora, numa coincidência feliz a recordar essa grande personalidade colocando-nos perante a mesma finalidade de conduzir e orientar a Igreja. Queremos que Cristo seja Rei, tornando-se “tudo em todos” e, para isso, teremos de ser criativas na pastoral que desenvolvemos. Este grande objectivo, não passando pela dimensão construtiva das cidades, atinge-se através duma tarefa que nunca poderemos desconsiderar. A realidade do urbanismo diz-nos que a “urbe” se encontra nos lugares mais recônditos da nossa diocese e o contributo insubstituível que nos está confiado consiste num educar para uma cidadania responsável, em todos os lugares e através de todas as instâncias. Os movimentos católicos desempenham um papel insubstituível neste propor e estimular uma convivência democrática e na promoção dum humanismo integral. Somos depositários duma doutrina social que se desenvolve e articula por círculos concêntricos. No centro da nossa atenção e consideração colocamos a pessoa humana numa dignidade de direitos e deveres. Daí aparecem outros âmbitos onde esta doutrina se vivencia nas relações humanas, sociais e políticas, partindo da família para chegar à comunidade civil com a variedade grande de agregação e num espaço nacional e internacional. Trata-se de assumir a pessoa, “toda” a pessoa e “todas” as pessoas. O ponto de partida será sempre o primado da pessoa e da sua dignidade desde o momento da concepção até à morte natural. Daqui chegamos à consideração obrigatória de todas as dimensões (espirituais e corpóreas) para um humanismo integral e chegamos a todas as pessoas recusando qualquer forma de exclusão nunca nos fechando em grupos, classes, partidos, nações, religiões. A única possibilidade de privilégio ou atenção particular dirige-se aos mais débeis e necessitados. Um dos grandes problemas da humanidade reside na fragmentação do rosto humano em pedaços para escolher um aspecto e negligenciar outros. Este risco, grave e frequente, acontece nas diversas visões antropológicas que reduzem o homem ou só a corpo, ou só a espírito, ou só a trabalho, ou só a sexualidade… assim como nas interpretações políticas fundamentalistas de olhar só para um partido, um grupo, uma raça, ou etnia como se aí estivesse toda a realidade, eliminando a alteridade, a complementaridade, a diferença. Reconhecer este primado à pessoa é a base duma educação para uma cidadania responsável: responsável como dever comum de encontrar resposta e cidadania como arte de conviver. Como crentes e cristãos teremos de ser capazes de construir as estradas que unem as pessoas e criam a esperança dum mundo diferente não só como possível mas como obrigatório. Não me sinto profeta mas acredito no contributo que daremos para uma cidade nova se dermos prioridade à educação para a legalidade, sociabilidade e justiça. Prolifera a criminalidade e desrespeito pelas normas; importa recuperar a legalidade na observância de “regras de conduta” e das leis. Isto não acontece com uma proclamação retórica. Só com actos bem concretos onde é recuperada a dimensão da cidadania que consiste na consciência exigente da pertença dum indivíduo a uma comunidade política com direitos e deveres. Depois dum período onde superabundou a insistência nos direitos deveria chegar a hora da elaboração duma autêntica “carta” dos deveres do cidadão, como parte e membro integrante da sociedade. As comunidades cristãs ocupam aqui um lugar insubstituível que deveria ser de modelo e testemunho de comunhão vivida. Aqui não me limito a esperar mas assumo um comportamento activo consciente de que só o contributo de cada um constrói a civilização do amor. Nesta perspectiva, a Igreja, e nela as paróquias, não é um templo; tem um templo e daí que não se exprima só dentro dos edifícios sagrados e à sombra das torres. Ela vive num território e aí tem de “fazer-se carne” nas estradas, nas praças, nos lugares onde as pessoas desenvolvem os seus compromissos quotidianos. Os edifícios valem como centros catalizadores e provocadores duma subjectividade popular como fermento duma autêntica convivência humana. As Igrejas, colocadas no meio das casas dos homens, têm de tornar-se sinal de que aí se vai formando um “sujeito social” que vive e opera profundamente inserido na sociedade humana e intimamente solidário com as suas aspirações e os seus dramas. A vocação da Igreja é estar dentro da sociedade não só como lugar de comunhão dos crentes, mas também sinal e instrumento de comunhão para todos. Trata-se de investir numa autêntica promoção humana por si e tornando-se estímulo para todas as outras instituições. A umas exigirá, como denúncia e como proposta, que se concentrem nas exigências próprias do bem comum; com outras interpretará uma rede de solidariedade com todos os homens de boa vontade. Somos “fazedores”, construtores, protagonistas corresponsáveis da história e isto com muito empenho, paciência, audácia, criatividade e esperança. Os últimos acontecimentos de Paris e doutras cidades da Europa serão de índole estritamente religiosa? Não acredito. Manifestam a falta da religião interpretada como relação com Deus onde me encontro com todos os homens. Onde encontraremos o fim destas destruições? Só na promoção dos valores. Eis o legado de D. Diogo de Sousa mostrando que a “Senhoria” do Arcebispo está no serviço e a sociedade crescerá através da inovação técnica em todos os domínios mas, particularmente, com o compromisso de cada um. Em Igreja somos estas pedras vivas, individualmente ou como apostolado organizado, duma construção que delineamos todos os dias. A sociedade terá sempre lacunas se adormecermos ou desistirmos do encargo que nos é peculiar. Não é possível o fatalismo que vê desgraça em tudo. Deus quer que a Igreja, e concretamente a Arquidiocese de Braga, simbolize a esperança de quem acredita e luta por um mundo melhor. Os Arcebispos construíram Braga; hoje continuamos o seu projecto dando-lhe os retoques que a actualidade exige. + Jorge Ferreira da Costa Ortiga, Arcebispo Primaz
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