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D. Jorge Ferreira da Costa Ortiga | 13 Abr 2006
Eucaristia, Dinamismo de Comunhão
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[Homilia da Eucaristia comemorativa da Última Ceia] Há cenas que nos confundem e inebriam. Deus colocou o Seu amor em toda a criação, mas enalteceu-o na maravilha da Eucaristia. Para muitos, Ele terá sido um homem bom que “passou fazendo o bem”. Se alguns o querem negar como histórico, outros pretendem encerra-Lo no mundo das personalidades que aceitamos como invulgares e inepetíveis. Para um crente, o Seu amor permanece e está subjacente a tudo. Só que a Sua presença na história teve um momento de eternidade. Ele deu à Sua compaixão e oferta pela humanidade “uma presença duradoura através da instituição da Eucaristia durante a última ceia”. Deu-se como alimento porque é amor verdadeiro e autêntico. É ele que quis permanecer. Nesta perspectiva de fé teremos de saber entender esta presença. Para onde nos conduz? “Não é só de um modo estático que O recebemos…, mas ficamos envolvidos na dinâmica da sua doação. Daí que compreendemos o Seu mandato como permanente interpelação a “lavar os pés” pois “assim como Eu fiz vós também o deveis fazer”. Trata-se dum dever ininterrupto, com capacidade de dar uma mística especial à vossa existência. São revolucionárias as palavras do Santo Padre quando nos refere que “a mística” do Sacramento tem um carácter social, porque, na comunhão sacramental, eu fico unido ao Senhor com todos os demais comungantes: “Uma vez que há um só pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão”(Cor, 10, 17). Os primeiros cristãos souberam e foram capazes de mostrar que não só era um dever mas era possível tornar a Eucaristia o “cume” e a “fonte” duma vida entregue em oblação. A sociedade hodierna parece querer ficar na procura dum amor-eros ou seja como atracção centralizada num “eu” que nunca descobre a alteridade verdadeira. Os cristãos, no passado, descobriram a novidade, que não é negação ou oposição ao amor-eros, dum amor-ágape como atitude de permanente oblação. Não se trata somente de “sentir” o amor que o outro oferece ou que resulta do meu gesto. Importa chegar a uma verdadeira “escolha”, “opção”, como algo livre e constante. Muitos contentam-se com o sentimento e restringem o âmbito do espaço da caridade – amando só quem dá recompensa – e o característico do amor que nunca se limita ao sensível mas comporta todas as experiências humanas. “A união com Cristo é, ao mesmo tempo, união com todos os outros aos quais Ele se entrega”. Por esta dinâmica sabemos que Ele veio, também, pelos pecadores, simbolizados em todos os que poderão andar fora dos Seus caminhos e com os quais terei de me encontrar para aí celebrar eucaristia e viver a verdadeira comunhão. Diz o Santo Padre: “a comunhão tira-me para fora de mim”, indo ao encontro dos outros, tornando-nos “um só corpo”, fundidos numa única existência. O amor a Deus e o amor ao próximo estão agora verdadeiramente juntos: “o Deus encarnado atrai-nos todos a Si.” A Eucaristia, deste modo, encerra uma dimensão cósmica, universal, católica. “Deus vem corporalmente a nós e através de nós”. Em nós identifica-nos com Ele, através de nós chega ao encontro com o mundo e coloca-nos em relação com os não crentes, com os crentes doutras religiões ou com os membros doutras confissões cristãs. Com eles saberemos viver como irmãos manifestando-lhes que o Amor de Deus opera e age em seu benefício. Nem sempre importa fazer coisas por amor; urge ter a capacidade de “ser” amor junto de todos. Muitos limitam-se a dizer palavras ou a actos isolados. A Eucaristia marca-nos para este “ser” algo de diferente no meio do mundo. Daí que o carácter social referido pelo Santo Padre passa por todos os gestos de compaixão e não só por alguns. O silêncio pode ser eloquente numa presença de quem dá o seu tempo, a sua ternura, o seu carinho. Corremos demasiado depressa para a agitação de fazer coisas e muitos cristãos contentam-se com estruturas, com respostas sociais para que estas testemunhem o amor. Elas podem ser imprescindíveis mas pode ser mera prestação de serviços sem a alma dum amor solícito e atento. Valerá a pena? O Amor de Deus pode não passar por muitos gestos apelidados de solidariedade. Não necessitaremos de repensar a diferença do nosso amor social? Temos o mandamento do amor porque este antes nos foi dado, recorda o Papa (N. 14). Daí que o mandamento do amor terá de estar em tudo e “a habitual contraposição entre culto e ética simplesmente desaparece”. “Fé, culto e ethos (vida) compenetram-se mutuamente como uma única realidade”. Ser amado por Deus é impulso para amar e dar a vida. Isto está a supor um exame sobre a verdade das nossas celebrações e das nossas vidas. Sem o amor que une a todos são despedidas de conteúdo. Não estará aqui a pouca incidência das nossas celebrações no quotidiano da sociedade? Estando divididos na vida, e não basta não fazer mal a ninguém, não podemos descobrir e, particularmente, testemunhar Deus amor. Quando dizemos que temos eucaristias a mais não estamos a desconsiderar o valor que encerram, mas a reconhecer quanto são caracterizados de incoerência, de momentos separados duma vida incapaz de, na sinceridade e na verdade, mostrar o que é o Amor de Deus. Como nos encontramos neste momento? Mereceremos a comunhão com Cristo? Não teremos juízos ou atitudes de indiferença a separar-nos a nós que estamos aqui nesta catedral? Não necessitaremos duma reconciliação na frontalidade para que o amor-ágape seja oferecido a todos e não andemos à procura dum amor-eros que, também, podemos colocar no mundo dos sentimentos que alimentamos a propósito dos outros? O amor precisa de ser dignificado. Pretende o Santo Padre. Este amor não é só no mundo da intimidade. Ele deve converter-nos para esta fusão de muitos num só corpo. Só assim testemunharemos o Amor de Cristo como memorial da Sua entrega pelo mundo. + Jorge Ferreira da Costa Ortiga, Arcebispo Primaz
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