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D. Jorge Ferreira da Costa Ortiga | 16 Jul 2006
Homilia das Ordenações – Sameiro
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Sacerdotes – Para que o mundo acredite O dia das Ordenações Sacerdotais é o grande dia na vida da Arquidiocese. Sentimos que o nosso presbitério se enriquece e percorremos os recantos onde os sacerdotes exercem o seu ministério para reconhecer a contínua e escondida dedicação ao Povo de Deus. No amor que a este dedicamos, sinto, também, o dever de pedir, com fraterna amizade, que todos confiem só no Senhor e que caminhem com generosidade e coragem na senda que conduz à santidade como alegria que nos é oferecida e condição para um ministério alegre e feliz. Como meditação em voz alta, quero rezar, junto da Mãe para que todos sejamos testemunhas de Cristo Ressuscitado que é a única esperança do mundo. Para isso, teremos de centralizar a vida em Cristo e reconhecer que a prioridade pastoral da Igreja reside neste viver esta mesma presença e torná-la visível no nosso mundo. 1 – O Sacerdote Ministro de Cristo S. Paulo torna-se inequívoco quando estipula como razão da nossa missão: “Instaurar todas as coisas em Cristo” (Ef. 1, 10). Muitos podem ter medo. O sacerdote é ambiciosos e caminha. O que é que isto significa? Na Carta Encíclica “Deus Caritas est” o Santo Padre sublinhava: “Pertence à estrutura fundamental do cristianismo a distinção entre o que é de César e o que é de Deus (Cf. Mt. 22, 21), isto é, a distinção entre Estado e Igreja ou, como diz o Concilio Vaticano II, a autonomia das realidades temporais”. “O Estado não pode impor a religião, mas deve garantir a liberdade da mesma e a paz entre os seguidores das diversas religiões; por sua vez, a Igreja, como expressão social da fé cristã, tem a sua independência e vive, assente na fé, a sua forma comunitária, que o Estado deve respeitar. As suas esferas são diferentes, mas sempre em recíproca relação (D.C.E. 28). Toca à Igreja, e profundamente, empenhar-se a favor da justiça, trabalhando para a abertura da inteligência e da vontade às exigências do bem” (N. 28). Instaurar todas as coisas em Cristo é, assim, aceitação duma laicidade do Estado onde as realidades temporais se regem pelas suas características orientações dentre as quais ocupam dimensão imprescindível as instâncias éticas que encontram o seu fundamento na essência do homem. Garantir e promover a dignidade da pessoa e o bem comum não significa violação da laicidade do Estado mas atenção para a importância, na vida pública e privada, dos princípios éticos. São estes valores a testemunhar a toda a humanidade - crente ou não crente – sabendo que não estamos a impor critérios mas que, apenas, prestamos uma ajuda ao itinerário duma vida verdadeira e duma liberdade autêntica. 2 – Um estilo repleto de actualidade Esta presença, talvez incómoda, mas geradora de verdadeiro sentido para as pessoas e seriedade, tem, para nós, pressupostos essenciais. Também eles podem parecer ultrapassados. São vitais e condicionam o nosso bem estar psíquico e humano. 1 – Nunca poderemos renunciar à Palavra. Como Amós seremos ou devemos ser Profetas, homens que falam em nome de Deus. Saber-nos humildes – simples pastores – que o Senhor tirou do meio do povo para agir em favor do mesmo. Só que – teremos de rectificar sempre as nossas intenções – a força do nosso discurso está na nossa vida. Só esta tem capacidade para defender os valores que proclamamos. A linguagem terá de ser actualizada. Só a vida convence e arrasta. Por vezes, penso que os Sacerdotes se deixam dominar pela ânsia das obras materiais. Acredito que a grande obra é a santidade e é esta que mostra o nosso valor. 2 – Esta vida – humana como todas as outras – deve ser a de Cristo para trabalhar com Ele e por Ele. Trata-se dum projecto que nunca pode ser condicionado por “mas” ou “se”. Ou é ou não é. O meio termo engana os outros e engana-nos a nós. Este estilo identifica-se, essencialmente, por três atitudes que nascem da ordem deixada por Cristo aos seus discípulos: “não levar nada para o seu caminho” (Mc. 6.8). - É o nada da nossa capacidade de ter e usufruir riquezas. Todos compreendem um coração desprendido e que não anda atrás das compensações que a vida pode oferecer. Tudo é maravilhoso e belo. Nem tudo convém na nossa vida. E um pouco de reflexão ou senso comum impediria certos comportamentos e suscitaria outros. - É o nada de compensações afectivas numa castidade libertadora porque aceite conscientemente. Ninguém impõe nada. Assumimos livremente e somos capazes duma doação a todos sem nos prendermos a ninguém. O Sacramento da ordem é uma livre entrega para uma aventura de sinceridade e transparência num mundo que apregoa o sensível e emotivo. - O nada das novas ideias e vontade que enriquecemos quando as colocamos ao serviço dum amor de Deus interpretado por um Superior que pede para servir em determinado local ou trabalho. A obediência continua a ter um valor incontornável sabendo que não nos sujeitamos a critérios duma mobilidade humana mas a segredos dum discernimento da vontade de Deus. Tudo feito em diálogo e oferta de reflexão pessoal. Só que algo nos poderá ultrapassar e certas decisões só se compreendem quando abraçadas com fé e espírito eclesial. 3 – Com uma dimensão comunitária Como se actualizará esta maneira de interpretar o ministério sacerdotal na experiência do nada levar para possuir tudo numa obediência serena, numa castidade sincera e numa pobreza eloquente? Jesus “enviou dois a dois” (Mc. 6-7). Regressamos à prioridade de Deus como opção radical. Não somos funcionários a quem se entrega uma tarefa que alguns ainda consideram nobre e sublime. Seguidores de Cristo, porque nos chama, sabemos que só Ele é a força e a coragem. “Onde dois ou três… Eu estarei no meio deles” (Mt. 20, 22). O Estatuto Social do Sacerdote está ultrapassado. O Sacerdote vale se é alegre amizade sacerdotal, alegria dum trabalho em conjunto, festa de encontros sacerdotais. Que poderei sugerir neste contexto? Quando a ideia da comunhão sacerdotal entra nas nossas prioridades capazes de secundarizar outras actividades, o amor torna-se inventivo e não necessita de esperar que um superior determine ou que um Seminário tenha educado. Tudo sacrificamos para ter este tesouro, esta pérola preciosa que para possuir exige a venda de tudo o resto. Daí que em Programa Pastoral sobre a Família, e hoje quero recordar o meu sétimo aniversário de Arcebispo que delineei como compromisso para que todos sejam um, gostaria de pedir aos sacerdotes o testemunho de que fossemos uma família. Poderei não ser o pai esperado. Alguns mereciam melhor. Só a unidade sincera entre todos é força dum presbitério que ultrapassa todas as dificuldades. 4 – Estímulo para os Sacerdotes Se formulo este pedido aos sacerdotes para que sejam família, gostaria de pedir ao Beato Bartolomeu dos Mártires que celebraremos no dia 18 – ele que escreveu o Estímulo dos Pastores - que, nas nossas comunidades aparecerem homens e mulheres comprometidos em serem verdadeiros estímulos dos padres. Parece-me ser urgente e imperioso reexaminar-nos e sentir como apelo da hora que passa esta vivência de Igreja. Há por aí pouco amor aos sacerdotes e muito amor que não deveria existir. O Padre é e deve ser sempre Pai e, como tal, respeitado e reverenciado através da oração e do sentido de presença e estímulo alegre e perseverante. Houve um tempo em que, nos Seminários, existiam as chamadas madrinhas dos seminaristas. Estes não as conheciam mas tinham a certeza de que alguém rezava e se sacrificava por eles. O nome era conhecido no dia da ordenação mas nem sempre apareciam. Era o amor invisível das violetas que perfumam a vida sem serem vistas. O aspecto económico não contava. Só a doação e espírito de comunhão. Não necessitaremos de algo similar talvez adaptado às circunstâncias, mas sempre no segredo do amor eclesial. Numa realidade de corpo místico cresceríamos todos e serviríamos melhor a Igreja. Que a Senhora do Sameiro suscite estas vocações e que apareçam pessoas disponíveis para estimular os pastores com a oração. Também a Casa Sacerdotal poderia entrar neste espírito de comunhão sacerdotal. Aí se reza pelos benfeitores - não só de bens materiais – todas as quintas-feiras. Se acharem interessante a ideia espero que alguém queira, comigo, pegar nela. 5 – Uma experiência singular Em trabalho da Conferência Episcopal tive a graça de reencontrar-me com a vocação missionária que sempre marcou a história de Portugal e da Igreja. Existem marcas indeléveis que testemunham uma verdadeira paixão por Cristo e pela Igreja. Foram muitas as dificuldades, mas a fé superou-as. Nem sempre é fácil compreender a verdadeira dimensão das perplexidades e confrontos com inimigos reais – de ordem natural e humana. Fixei-me, entre outras coisas, no lema de vida de S. Francisco Xavier colocado na sua sepultura onde rezei duma maneira especial, pelo presbitério. “Mox inimica fugit”. No radicalismo da fé, na sinceridade duma obediência, num zelo ardente pelo povo a quem comunicar o dom da fé… as dificuldades desaparecem imediatamente. Por vezes, detemo-nos, com facilidade, nos enigmas que se acumulam na vida de qualquer pessoa. Pretendendo uma vida consentânea com o espírito do mundo, deixamos de sonhar e perdemos o ardor. Se na Eucaristia, no Túmulo de Francisco Xavier recordei, quase um a um e pelo seu nome, quero esperar mais transparência da fé, mais docilidade ao Espírito e maior comunhão entre todos. “My message is my life”, li na Casa de Gandhi. Precisamos de renovação pastoral e maior consistência na dimensão humana do Sacerdote. Mas, o que deveríamos trabalhar quotidianamente é a entrega incondicional das nossas vidas para que elas falem de Deus. Um Sacerdote que não transpareça Deus não só faz muito pouco como pode ser prejudicial à causa do Reino. Como instrumento, em tudo permitirá que resplandeça o divino. Continuarei a rezar para que sejamos o que devemos ser e teremos alegria de o ser. Numa consagração, livre e voluntariamente aceites, Cristo e a Igreja valem mais que as nossas vidas. Somos d’Ele, para Ele. Vivemos e devemos ser capazes de ir morrendo por Ele. A Igreja é a nossa paixão e nela colocamos os cristãos acima dos nossos interesses. Somos servos e a nossa realização está em fazer tudo pelo povo que amamos e a quem consagramos a vida. Que assim seja. Sameiro, 16 de Julho de 2006 + Jorge Ferreira da Costa Ortiga, Arcebispo Primaz
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