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"Juntos no caminho de Páscoa"

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17 Out 2021
Onde nos conduzirá o Espírito
Homilia na abertura da fase diocesana do Sínodo
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  © Avelino Lima / DM

Hoje estamos a dar início a um momento de graça. Entramos em comunhão com o Santo padre e nele com a Igreja Universal, para fazer, como nunca, uma verdadeira experiência sinodal. Temos tido muitos momentos de consulta. Só agora o Santo Padre deseja que as dioceses do mundo inteiro se concentrem na unidade para ouvir o que o Espírito Santo tem a dizer sobre o que é o essencial da Igreja. Passou por muitas configurações, mais ou menos de índole piramidal e de estrutura de sociedade perfeita onde tudo acontece e se idealiza a partir de uns tantos pre-escolhidos. Como Povo de Deus temos sido conduzidos por Pastores dotados de autoridade divina e agora as exigências de uma nova era mostra que o Povo de Deus tem de interpretar a responsabilidade que Deus lhe concede. 

Devemos passar da passividade e obediência a um compromisso corresponsável no pensar e no agir. Não se trata de nada de novo. Talvez tenha estado adormecido. Somos todos templos do Espírito Santo e é Ele que conduz o seu povo na diversidade de dons, a convergir, na complementaridade e insubstituibilidade, para a unidade. É chegada a hora de dar rosto a esta realidade. Da parte da Arquidiocese já temos vindo a trabalhar desde o ano passado. Agora entramos num percurso comum, a Igreja Universal que envolve todas as dioceses e nestas todas as instâncias que as compõem. Os cristãos individualmente são chamados a tomar a palavra e todas as outras instâncias terão de encontrar modos de o fazer. Não vamos dizer aos movimentos, às irmandades, misericórdias, Congregações religiosas, como devem agir. A liberdade é criativa mas ninguém pode fugir a esta responsabilidade. Para esta tarde convidamos os responsáveis. Entregamos-lhes a missão. A Igreja espera os seus trabalhos até meados do mês de Março. Poderemos e deveremos trocar ideias sobre o processo. Fundamental é que não fiquemos à espera de mais orientações. Entramos em caminho e não queremos que haja desculpas.

Como sínodo vamos caminhar juntos. Cada um no seu caminho e circunstancialismo mas a caminhar, talvez com ritmos diferentes, e respostas com maior ou menor consistência. Temos o Documento Preparatório e o Vademecum. Dois documentos que todos deveriam possuir. Depois abramo-nos ao Espírito. Anotemos os pensamentos discernidos em comum. Tudo é importante. Enviados serão tratados de uma dupla maneira. O resumo que mandaremos para a Santa Sé e a integridade de pensamentos e orientações que estruturaremos para o peregrinar da nossa arquidiocese. Nada será desconsiderado. No final do nosso Sínodo Diocesano, 1993-1997, elaboramos o Documento do Sínodo. Neste momento elaboraremos um segundo volume. Naquele tempo preparamos 1500 grupos sinodais. Façamos idêntica experiência de grupos. Não teremos Assembleias Sinodais mas as conclusões poderão ser estudadas como modo de compreender quanto o Santo Padre dirá no final deste percurso singular.

Por vezes ouve-se dizer que há vozes que ninguém ouve. Da minha parte tenho procurado ser ouvido atento e aberto. Com este processo gostaria que muitos daqueles que não andam pelos nossos ambientes, mas se interessam minimamente por estas coisas, que não tivessem medo de fazer chegar as suas ideias. Pessoalmente, gosto de quem pensa diferente, de quem incomoda na sinceridade e transparência. Sonho com a unidade, mas não monocórdica. Importa o plural concorde para ver o verdadeiro alcance das realidades. Todos contam e têm igual valor desde que a verdade acompanhe o seu pensar.

Esta atitude de abrir as portas para que todos os pensamentos possam entrar dando um contributo onde a sinodalidade se expressa numa comunhão efectiva, numa participação responsável e numa missão diversificada não têm condicionantes. O Santo Padre foi muito feliz na homilia da concelebração de abertura do processo no passado dia 10. “Fazer caminhar é colocar-se no mesmo caminho do Verbo feito homem: é seguir as suas pisadas, escutando a sua Palavra dos outros.” Prioridade das prioridades é que, caminhando com todos, nos coloquemos no justo caminho que inequivocamente teremos de aceitar. Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. O Caminho é Cristo e não poderemos tergiversar. Há caminhos paralelos mas o d’Ele é só um. Nesse caminho único sabemos que Ele é o primeiro caminhante. Caminha connosco. Estará nos momentos alegres de conquistas felizes e fáceis, mas também nas controversas e nos confrontos. Nas dores e contradições, nos calvários que parecem nos conduzir à Páscoa Ele também está. Importa descobri-Lo e não desanimar perante a primeira dificuldade. Ele pode estar para além das curvas ou das irregularidades dos caminhos. “Estarei sempre convosco”. 

O sempre é certeza a não permitir desânimos. No caminho e com o caminhante que vai à frente e de quem seguimos as pegadas, escutamos as Suas palavras que encerram coisas novas e velhas, algo pensado e muitas coisas vindas para além do nosso pensamento. No silêncio não só exterior, mas interior, escutaremos orientações que nos impressionarão. Mas escutamos as suas palavras juntamente com os outros, não somos os únicos a escutar. Ele fala onde quer e como quer. Por vezes de modo claro outras implicitamente. Quando estamos juntos a Sua voz amplia-se e torna-se mais evidente. “Onde dois ou mais estiveram reunidos no meu nome” (Mt 18, 18). A sua presença acontece desde que não se suponha à comunhão, mas que se queira construir a comunhão através da disponibilidade de dar a vida uns pelos outros que, muitas vezes, se expressa no saber perder ideias ou sentimentos. 

Um amor oblativo entre todos disponível a dar tudo até ao último pormenor e pronto para perder tudo por amor. Nada interessa. Vale o que aconteceu como fruto espontâneo de amor. Aqui está uma verdadeira espiritualidade sinodal que tem de ser cultivada permanentemente. Não é algo adquirido. Tem-se dito que a sinodalidade não é democracia, resultado de votos expressos na maioria da assembleia. A verdade poderá estar na pequenez de uma partilha que parece insignificante. O Espírito fala pelas pequenas coisas como falou através de Maria. Sabemos quanto ela representou na comunidade primitiva de Jerusalém que percorria os primeiros passos do caminho da Igreja. Não sabemos muitas das suas palavras. Soube estar presente e marcou muitas discussões. Sem uma espiritualidade sinodal poderemos chegar a uma nova forma de parlamentarismo na Igreja mas não descortinaremos o verdadeiro caminho que, ao fim e ao cabo, deve ser a continuação da vida trinitária coma história da salvação a querer chegar a todos os homens.

Vamo-nos ouvir mas abramos, também, os ouvidos ao mundo. Não são suficientes os nossos raciocínios intra-eclesiais. Teremos de sair e não basta sair para ouvir como cronistas. Precisamos de sair para ouvir a voz do mundo a partir de dentro. Deixemos que ele fale e nos aponte as nossas incoerências e infidelidades. Pode custar muito e poderemos não ter vontade de o ouvir. Mergulhemos no mundo e deixemos que manifeste as suas insatisfações e expectativas. Não coloquemos filtros. Façamos o vazio de nós mesmos sempre prontos para acolher o bom e o mau. Não interessa o conteúdo. Contentemo-nos com a mensagem nua e crua. É fundamental que isto aconteça em todos os âmbitos onde teremos de chegar pelos nossos católicos. Aproximemo-nos. Saiamos das nossas zonas de conforto. Já estamos cansados de ouvir as nossas vozes e as nossas apreciações. Escutemos e, sobretudo, inventemos maneira para que o façam. Seremos capazes?

Sei que este processo vai exigir o que já tenho pedido muitas vezes. Precisamos de nos preparar para concretizar uma conversão sinodal. Não bastará falar por falar. Oferecer ideias interessantes e inovadoras mas depois continuarmos com os mesmos processos de uma igreja autorreferencial e piramidal, com a verdade em poucas pessoas. Há novos hábitos e rotinas a concretizar. A sinodalidade em exercício não pode deixar as coisas na mesma. Acolhemos e passamos para a acção. Não bastará esperar pelos documentos que poderão surgir no final das decisões emanadas pelo sínodo em 2023. É um treino com execução imediata. Com certeza que as opções terão de acontecer e os caminhos novos irão ser descobertos. É hora de uma Igreja sinodal e não da Igreja que poderá vir a ser sinodal. Poderemos intuir contornos novos. A opção tem de estar tomada e a conversão terá de ir acontecendo.

Santa Maria de Braga, que caminhou com a vontade do Pai, discernida em diversos momentos, nem sempre coincidente com a Sua e que juntamente com S. José foi percorrendo os caminhos de uma novidade constante, nos concedam o dom da escuta e a vontade de a concretizar para caminharmos juntos com eles sonhando juntos a Igreja de hoje.

 

† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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