DACS | Fotografias: Ana Marques Pinheiro | 31 Mar 2019
Segunda conferência do ciclo Nova Ágora 2019 lançou o debate sobre os Populismos.

Na passada sexta-feira foi a vez da Casa das Artes, em Vila Nova de Famalicão, receber uma conferência do Ciclo Nova Ágora, desta feita dedicado aos Populismos.

Ao palco subiram os “Olhares” de Paulo Rangel, Deputado ao Parlamento Europeu e Vice-Presidente do PPE, José Filipe Pinto, Professor Catedrático da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, e Felipe Pathé Duarte, Professor/Investigador Universitário e Consultor. O jornalista Carlos Magno moderou o debate.

 

D. Jorge Ortiga: “A sociedade de amanhã constrói-se hoje com a responsabilidade de todos”

Foi um Arcebispo preocupado mas, ainda assim, com esperança no futuro, que inaugurou a noite que juntou dezenas de pessoas na Casa das Artes.

“Com todas as edições da Nova Ágora pretendemos criar momentos de reflexão, abordar todas as temáticas com simpatia pela escolha das mais candentes. Não esquecendo a mensagem cristã, mas abrindo-nos a espaços culturais diferentes, nunca pretendendo impor, mas reconhecendo juntos que a sociedade de hoje se constrói com o confronto sereno com a diferença”, começou por dizer.

O prelado sublinhou a crença na “policromia da sociedade hodierna” e explicou que é suficiente um caminho conjunto pelo bem comum apesar da diversidade existente. Sem esquecer a religião, adiantou ainda que a Arquidiocese pretende ser uma Igreja em Braga ao serviço da comunidade, sendo as temáticas abordadas um pretexto para um compromisso colectivo.

“Sinto-me preocupado com os caminhos que a sociedade actual está a percorrer. Não descortino um futuro melhor. Acredito que é possível. Não podemos ignorar os problemas, temos que os tornar numa oportunidade para construir uma sociedade alicerçada num verdadeiro humanismo nunca submisso a ideologias unilaterais mas possuído pela urgência de uma integridade de valores. A sociedade de amanhã constrói-se hoje com a responsabilidade de todos”, afirmou. 

O Arcebispo Primaz disse ainda que o tema dos populismos poderá parecer não ter grande importância no panorama lusitano, mas, recordou, não é possível esquecer que o país caminha numa aldeia global onde tudo diz respeito a todos.

“Depois da destruição causada pelas Guerras Mundiais, os populismos e movimentos extremistas ganharam novas forças e estabeleceram-se em diversas partes do mundo. Parece-me necessário encarar os populismos com preocupação. Não se trata de uma novidade, já vimos resultados noutras épocas, mas ganhou importância nas preocupações da sociedade actual. Devemos aperceber-nos do potencial de efeitos nocivos que podem provocar nas democracias”, afirmou.

 

Paulo Rangel: “O populismo é o reino das paixões”

O deputado Paulo Rangel começou por dizer que o populismo é uma coisa que está em voga mas que tem, ao contrário do que é costume ser dito, raízes europeias e não europeias, lembrando líderes como Trump, Putin ou Erdogan.

“O populismo não é, de todo, uma questão europeia! Tanto está presente em países como o Brasil, os EUA e as Filipinas, como na Turquia, Rússia ou França. Hoje em dia temos um avanço de ideias populistas que não se deve a Bruxelas”, explicou.

O Vice-Presidente do PPE adiantou então a grande razão que lhe parece ter ditado o avanço dos populismos e das políticas populistas a que as pessoas cada vez mais recorrem.

“A digitalização e consequente globalização causaram uma enorme mudança nas nossas vidas. Um dos impactos que a globalização teve foi o de criar um fosso entre um conjunto de pessoas a que chamarei de info-excluídas e outro grupo que acredita ser o cosmopolita, os tais cidadãos do mundo muito avançados, os info-incluídos”, afirmou.

Paulo Rangel disse ainda que o Brexit e a eleição de Trump foram os dois grandes momentos de consciencialização sobre o avanço dos populismos, aos quais associou duas grandes características.

“Por um lado temos um claro ataque ao estado de direito, como se a democracia fosse da maioria. Vejamos o caso do Brexit: o argumento mais utilizado é o de que a maioria falou e já está! Isto é totalmente errado... E depois temos outro aspecto muito ligado à globalização, nomeadamente o fim das mediações. Estamos a destruir a maioria representativa, como o nosso parlamento. Hoje em dia temos a mania de que não precisamos dos políticos para nada, mas a verdade é que eles são os nossos mediadores”, sublinhou. 

O deputado explicou que a eleição de alguém pressupõe uma dose de racionalidade do eleito ao tomar decisões por outras pessoas, coisa que não acontece com o populismo. 

“O populismo é o reino das paixões, da maioria directa. E leva-nos à ilusão de que todos podemos governar”, concluiu.

 

Filipe Pinto: “Cuidado: o populismo tem o encanto do Canto das Sereias...”

O professor José Filipe Pinto começou por explicar que o populismo constitui uma ameaça para o regime democrático e não uma oportunidade para melhorar aspectos do sistema que têm vindo a ser questionados.

“O populismo é uma forma de articulação do discurso assente na luta pela hegemonia, concebida na sua dimensão política, uma visão bem mais redutora do que aquela que esteve na génese do processo”, defendeu. 

O professor Catedrático afirmou ainda que, para além de uma manobra discursiva, o populismo também representa uma estratégia política.

“O populismo, neste jogo de luzes e sombras, já não se contenta com uma posição anti-sistema em que o outro já não é somente um adversário, mas sim um inimigo. Ele agora procura chegar ao poder!”, alertou.

O orador explicou que  os populismos se devem não só aos papéis insuficientes dos partidos tradicionais, mas que se relacionam também com a natureza humana.

“Problemas conjunturais, como a crise económico-financeira e a chegada de refugiados e imigrantes, apenas acentuaram e de forma desigual,  uma tendência que vinha de trás. Os populismos serviram para responsabilizar a elite governante e para denegrir a sua imagem junto do eleitorado”, avançou, lembrando a ideia de Paulo Rangel.

José Filipe Pinto afirmou que é preciso ter em consideração a recente alteração da postura de alguns partidos populistas para perceber a real dimensão dessa mudança e ainda deixou um alerta.

“Cuidado: o populismo tem o encanto do Canto das Sereias”, concluiu.

 

Felipe Pathé Duarte: “Populismo age através do medo e insegurança e mina a relação de confiança pré-estabelecida”

“O populismo será o resultado do espírito dos tempos ou um aproveitamento discursivo de uma patologia política? Será um problema estrutural ou conjuntural?”, questionou o Investigador mal iniciou a sua intervenção.

O consultor explicou ainda que com o populismo aparece uma certa “galvanização moral” que acaba por colocar o povo contra o poder, um movimento político que acaba por ser fácil ver com bons olhos.

“Os populistas são rudes, têm uma linguagem altamente provocatória e procuram criar ruptura para chegar à crise, que é a galvanização do movimento. Trata-se de um discurso permanentemente anti-político, anti-intelectual e anti-elite que se traduz numa megalomania de objectivos”, sublinhou.

Felipe Pathé Duarte afirmou que através do medo e da insegurança, os populistas têm como objectivo primordial minar a relação de confiança entre povo e governantes.

A Nova Ágora termina na próxima sexta-feira, dia 5 de Abril, com as Migrações a serem debatidas no Espaço Vita, em Braga.

António Vitorino, Director-geral da Organização Internacional para as Migrações, Pedro Calado, Alto-comissário para as Migrações, e José Luís Carneiro, Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, discutem as "Migrações" e encerram o ciclo de conferências. A moderação fica a cargo de Ana Paula Marques, Professora da Universidade do Minho.

 A inscrição é obrigatória e deve ser feita em www.novaagora.pt.

PARTILHAR IMPRIMIR
Palavras-Chave: