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10 Nov 2020
Homilia na Vigília dos Seminários 2020
Homilia proferida por D. Nuno Almeida, Bispo Auxiliar de Braga, na Vigília dos Seminários, a 6 de Novembro de 2020.
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Queridos irmãos e irmãs!

Proclamar, em coro, que Jesus está vivo no meio de nós renova o nosso desejo de O seguir, a nossa vontade de viver com paixão o seu seguimento. Qual modo melhor para reforçar a nossa amizade com Jesus do que partilhá-la com os outros?
Como nos sugere o Evangelho proclamado (Mc 3, 13-19), os doze distinguem-se dos demais discípulos e da multidão pela proximidade e intimidade com Jesus e pela tarefa recebida: a responsabilidade de continuar a Sua missão!

A porta do seminário só pode ser aberta para quem quer aprender a dizer sim ao chamamento e sim ao envio de Jesus. Para quem deseja permanecer na mais profunda comunhão com Ele e se deixa enviar para O servir e amar nos irmãos. A porta do Seminário só pode abrir-se para quem está disposto a centrar a sua vida no amor a Cristo e no serviço aos irmãos. Portanto, só pode ser seminarista quem for verdadeiramente “excêntrico” no sentido etimológico: situado fora do centro!

A Semana dos Seminários visa aumentar o amor pelos seminários expresso em gestos de oração, de afeto e de generosidade. Existe para termos cada vez mais consciência da importância vital do serviço que presta o seminário: O Seminário mais do que instituição é casa, mais do que casa é causa! Mais do que instituição, o Seminário é casa e causa que diz respeito a todos.

1. Como instituição, o Seminário foi criação do concílio de Trento (séc. XVI) para a formação de sacerdotes capazes de protagonizar a missão eclesial comunitária: celebrando o sacramento da Páscoa de Cristo, anunciando a Palavra da salvação, e testemunhando no espírito do Reino de Deus.

2. Como casa, o seminário é chamado a ser lar, família, onde se faz a experiência de filhos muito amados de Deus Pai e por isso irmãos em Jesus Cristo pela força suave Espírito Santo. Casa onde se cultiva, portanto, a fraternidade mística, verdadeiro antídoto para relacionamentos humanos frios ou indiferentes, mas também cura para relacionamentos de dependência e asfixiantes, que impedem o amadurecimento afetivo e humano.
Jesus quer entrar e permanecer nesta casa que é o Seminário. Ele dará conta das vossas preocupações, das vossas dificuldades …, mas espera, acima de tudo, que O escuteis, O encontreis e recebais nas pessoas com quem partilhais esta casa, a rua, o grupo ou a universidade.

Para que a comunhão com Cristo se aprofunde sempre mais e seja fonte perene de envio e missão é preciso deixar-me:

1. Educar para a escuta: significa cultivar o silêncio, familiarizar-me com a Palavra de Deus, habituar-me a rezar todos os dias, com a atitude própria do discípulo: “Falai, Senhor, que o vosso servo escuta” (1 Sm 3,9)! Pode ser então que, fora do ruído exterior, eu entre na onda divina e me torne não apenas um ouvinte, mas também um ministro da Sua Palavra. E porque não ser padre?

2. Educar para a pobreza: implica uma vida sóbria e simples, com generosidade de alma e coração, de tal modo que eu não reserve nada para mim, mas seja capaz de dar tudo e com alegria. Quantas vezes as riquezas, pessoais e materiais, são a minha desgraça, porque me tiram a liberdade de seguir e servir o Senhor? Pode então acontecer que sinta o desejo de seguir a vida sacerdotal para me dar inteiramente a Cristo, incluindo os meus pecados e limitações, servindo o Senhor, com o meu tudo e o meu nada. E porque não ser padre?

3. Educar para o serviço: tal supõe humildade no trato, considerando os outros superiores a mim mesmo; disponibilidade para ajudar, sem olhar ao próprio interesse; espírito de sacrifício, alegria e gosto em fazer o bem. Isto torna-me capaz de me colocar diante de Deus, pronto para tudo, e dizer: “Senhor, que quereis que Eu faça”? Ou então: “Que faria Cristo, no meu lugar”? Pode ser que este lugar seja o de Padre! E porque não ser padre?

4. Educar para a comunidade: trata-se de renunciar a mim mesmo, para valorizar a família, a paróquia; descentrar-me de mim, para aprender a viver em grupo; sair de mim, para participar na vida comunitária e empenhar-me pelo bem comum. Que eu ganhe um tal amor à Igreja, que esta se torne Casa de Família e Família de Famílias. Pode ser que nesta casa, eu descubra a alegria de me tornar o seu primeiro servidor, como padre. E porque não ser padre?

5. Educar para o amor: exige um clima saudável de amor familiar, que valorize a diferenciação sexual e ajude a descobrir o corpo como meio de relação e de comunicação. O dom aos outros supõe o domínio de mim mesmo. Ser Padre é também uma forma de amar com o coração dilatado e não mirrado! E porque não ser padre?

6. Educar para a radicalidade: aprender a dar a vida toda, a viver a vida em cheio, sem meias-medidas, darmo-nos inteiramente a Cristo e aos irmãos, recusando uma vida mais ou menos, uma vida assim-assim. Os jovens gostam de radicalidade (até chamam a alguns desportos: “desportos radicais”). Porque é que, entre tantas saídas profissionais, não haverá para mim uma saída fora da caixa, como a da vocação sacerdotal? E porque não ser padre?

7. Como causa, o Seminário é coração da Diocese, pois é nele que se pode implementar o futuro de uma igreja inspiradora de renovação espiritual; é a contribuição com que cada comunidade paroquial espera alimentar a garantia da sua continuidade; é a tarefa com que cada cristão deve assumir a sua parte em ajudar a construir o projeto de ser Igreja.
Se se pode dizer, com verdade, que o Seminário é o coração da Diocese, então ele é ministério da salvação a que Jesus Cristo nos enviou; ele é causa a que se torna imperioso aderir; e, para cada cristão e cada comunidade local, ele é desafio (que não se pode iludir) de o sentir como relação próxima e como relação própria .

Numa entrevista, nesta semana, de Fátima Campos Ferreira (RTP), o arquiteto bracarense Souto Moura repetiu várias vezes que na Igreja ficaram somente as velhinhas piedosas como a sua minha mãe, já não havia jovens. Foi insinuando que iremos ficar com muitas igrejas, muitos campanários, mas vazios, transformados em museus!
Se pudesse responder-lhe, procuraria dizer-lhe que, nos meus trinta anos de presbítero e quatro de bispo auxiliar, tenho experimentado a grande alegria de contemplar os anseios, o empenho, a paixão e a energia com que muitos jovens - entre os quais todos vós, queridos seminaristas - abraçam a vida. Ver ao vivo que quando Jesus toca o coração dum jovem, duma jovem, eles são capazes de ações verdadeiramente grandiosas. É estimulante ouvi-los partilhar os seus sonhos, as suas questões e o seu desejo de opor-se a quantos dizem que as coisas não podem mudar.
Hoje a Igreja e todos nós olhamos para vós, queridos jovens, e queremos aprender convosco (não somente e nem tanto as novas tecnologias), mas sim a renovar a esperança e a confiança no amor de Jesus Cristo que tem o rosto sempre jovem e não cessa de nos convidar para fazer parte do seu Reino.

Queridos jovens, queridos seminaristas, cultivai a paixão pela missão. Tende a coragem de deixar a comodidade para ir ao encontro dos outros. Dizer missão juntamente convosco é dizer amanhã, compromisso, confiança, abertura, hospitalidade, compaixão, sonhos.

Como dizia o Papa Francisco aos jovens, na JMJ de Cracóvia em 2016: “Entristece-me encontrar jovens que parecem ‘aposentados’ antes do tempo. Preocupa-me ver jovens que desistiram antes do jogo; que ‘se renderam’ sem ter começado a jogar; que caminham com a cara triste, como se a sua vida não tivesse valor. São jovens essencialmente chateados… e muito chatos! É duro, e ao mesmo tempo interpela-nos, ver jovens que deixam a vida à procura da ‘vertigem’, ou daquela sensação de se sentir vivos por vias obscuras que depois acabam por ‘pagar’… e pagar caro. Dá que pensar quando vês jovens que perdem os anos belos da sua vida e as suas energias correndo atrás de vendedores de falsas ilusões (na minha terra natal, diríamos «vendedores de fumaça», [entre nós “vendedores de banha da cobra”]) que vos roubam o melhor de vós mesmos.

Jesus Cristo é aquele que sabe dar verdadeira paixão à vida, Jesus Cristo é aquele que nos leva a não nos contentarmos com pouco e a dar o melhor de nós mesmos; é Jesus Cristo que nos interpela, convida e ajuda a erguer-nos sempre que nos damos por vencidos. É Jesus Cristo que nos impele a levantar o olhar e sonhar.
Todos discípulos missionários! Sim. E se o formos verdadeiramente, por certo, alguns de entre vós serão Padres, se Deus quiser e chamar. E porque não ser padre?

Eis-nos aqui, Senhor! Queremos acolher-Vos nesta Vigília de Oração e sempre, queremos afirmar que a vida é cheia de sabor e sentido quando é vivida a partir da fé e do amor; esta é a parte melhor que nunca nos será tirada. Ámen!

 

+Nuno Almeida
Bispo Auxiliar

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Palavras-Chave:
Homilia  •  D. Nuno Almeida  •  Seminários  •  Vigília
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