Arquidiocese de Braga -

26 maio 2022

Matteo Zuppi, novo presidente da Conferência Episcopal Italiana: “O meu sonho é uma Igreja capaz de estar nas ruas na Babel do mundo”.

Fotografia DR

DACS com La Stampa

Zuppi circula de bicicleta e escolheu morar na "Casa del clero", onde moram os padres idosos, e não no apartamento do arcebispado.

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Da periferia de Roma chegou à via Aurélia, de onde conduzirá os bispos italianos nos próximos cinco anos. Com um grande sonho: uma Igreja que “fica nas ruas, fala a todos e quer chegar ao coração de todos”, usando “uma única linguagem, a do amor”, para se fazer entender “na Babel do mundo”. Estas são as primeiras palavras de sabor programático do cardeal Matteo Maria Zuppi, arcebispo de Bolonha, nomeado ontem pelo Papa Francisco como presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI).

Na sua cidade adoptiva, ninguém o chama de “Eminência”, para todos é sempre “Pe. Matteo”. Zuppi circula de bicicleta e escolheu morar na "Casa del clero", onde moram os padres idosos, e não no apartamento do arcebispado.

Nascido em Roma a 11 de Outubro de 1955, quinto de seis filhos, nos corredores do Liceo Virgilio nasceu e solidificou o vínculo com Andrea Riccardi, fundador da Comunidade de Santo Egídio, durante os anos em que frequentava a escola outro amigo, David Sassoli, futuro presidente do Parlamento Europeu.

Zuppi começou a frequentar as periferias romanas, as escolas populares para crianças marginalizadas, as festas para idosos sozinhos e não autossuficientes. E depois os sem-abrigo, os ciganos, os imigrantes, os prisioneiros. Aos 22 anos, depois de se formar em Letras na Universidade La Sapienza, ingressou no seminário da diocese de Palestrina, seguindo os cursos de preparação para o sacerdócio na Pontifícia Universidade Lateranense, onde obteve o bacharelato em Teologia.

Ordenado sacerdote em 1981, tornou-se vice do pároco da Basílica romana de Santa Maria in Trastevere, Vincenzo Paglia, futuro monsenhor presidente da Pontifícia Academia para a Vida e conselheiro espiritual de Santo Egídio.

“Conheço-o desde jovem”, diz Paglia, “D. Matteo é um cardeal-pastor que não perdeu o espírito do padre de rua e é capaz de dialogar com todos, dentro e fora do recinto católico”.

Zuppi, promotor do diálogo inter-religioso, é protagonista das mediações no mundo com a “ONU de Trastevere” (como é chamada Santo Egídio, da qual se tornará assistente eclesiástico) para levar de volta a paz onde parecia ser impossível, especialmente em Moçambique.

Em 2010 foi chamado para liderar uma paróquia da periferia em Torre Angela. Pouco depois, a 31 de Janeiro de 2012, Bento XVI escolheu-o como bispo auxiliar de Roma. A 27 de Outubro de 2015, Bergoglio confiou-lhe a sede de Bolonha e a 5 de Outubro de 2019 nomeou-o cardeal.

Em Bolonha, Zuppi viu-se como “titular” da Faac, multinacional de portões automáticos. Mas revelou-se mais sindicalista do que empresário: “não” às demissões, “sim” às iniciativas que facilitam a relação dos funcionários, dos pais com os filhos são as suas directrizes.

“Sinodalidade e colegialidade”, sem esquecer os sofrimentos do mundo. Assim apresenta a sua missão como novo presidente da CEI. Olha para a actualidade e para “o momento que se está a viver, seja em Itália, na Europa e no mundo, como Igreja, porque tudo isso está intimamente ligado”. Portanto, “as pandemias”: primeiro a Covid “com tudo o que revelou sobre as fragilidades e fraquezas da Igreja, com as questões que abriu, as consciências e as insanidades que provocou”. E agora “a pandemia de guerra” que o Papa “com tanta insistência” estigmatizou nos últimos anos. Numa recente entrevista ao La Stampa, Zuppi pediu para se “ajudar as vítimas na Ucrânia e parar a carnificina”, mas também destacou que “a guerra não pode ser superada com a guerra. Existe o direito à legítima defesa, mas ainda mais existe o direito à paz”.

A proximidade é para Zuppi uma das coisas que mais o “anima”. E confidencia sentir nos seus próprios ombros a “pequenez e inadequação”: “espero estar sempre consciente disso".

Depois, uma lembrança aos antecessores. Agradece pela “fraternidade que criou” ao cardeal Gualtiero Bassetti; e “pela sua sabedoria” aos cardeais Camillo Ruini e Angelo Bagnasco: “Entrei em contacto com eles há pouco e pedi uma audiência”.

 

Artigo de Domenico Agasso, publicado no La Stampa a 25 de Maio de 2022.