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DACS com La Croix International | 22 Nov 2021
A evangelização honesta precisa de jornalismo honesto
A Igreja precisa desesperadamente de fontes de notícias honestas, objectivas e profissionais, ou será inútil para a proclamação do Evangelho.
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Há quase duas décadas, fui convidado para ser o editor-chefe do jornal semanal publicado pela Conferência dos Bispos Católicos do Japão.

A minha primeira reacção foi desatar às gargalhadas. Quando recuperei o fôlego, disse ao padre que fora enviado para apresentar a proposta: “Olhe só para a minha cara!”. Na verdade, não havia precedentes em pedir a um estrangeiro para dirigir um jornal em língua japonesa.

Mais tarde, conheci o bispo que era o contacto com o jornal e perguntei-lhe se teria o tipo de liberdade editorial e autoridade que é usual para um editor de jornal. Ele respondeu: “Contanto que não comece a publicar heresias, tem essa liberdade. Teste-nos”.

Aceitei o emprego e, pouco depois, tivemos o primeiro teste.

Um bispo tinha sido processado num caso que não tinha sido mencionado em qualquer meio de comunicação católico. A única cobertura tinha acontecido num jornal local secular e num jornal budista. Os católicos da sua diocese que conheciam a história foram, na sua maioria, intimados ao silêncio.

Quando o bispo perdeu o caso, disse aos meus funcionários que isso era notícia, mas dado que todo o caso tinha sido escondido dos Católicos, teríamos que elaborar um artigo que explicasse os seus antecedentes e história.

Quando os jornalistas demonstraram hesitação, assegurei que o único emprego que estava em risco era o meu. A história foi para a primeira página.

No dia em que foi impressa, o bispo que me disse para testar os bispos estava em Tóquio e convidou os padres que trabalhavam na conferência episcopal para jantar com ele antes de voltar para casa, para a sua diocese. Quando chegou a sobremesa, o bispo chamou o meu nome. Imediatamente, todos os garfos e chávenas de café foram pousados enquanto os padres esperavam para ouvir o que viria a seguir.

“O seu predecessor [que tinha vindo para o jornal de uma revista publicada pela sua ordem religiosa] não teria publicado essa história”.

Eu respondi: “O meu antecessor não estava a tentar gerir um jornal”.

“Sim, mas nós queríamos que ele o fizesse”.

Todos voltaram à sobremesa e café.

Uns dias depois, chegou uma encomenda do bispo interveniente na história. Continha os seus papéis sobre o caso, juntamente com uma nota dizendo que ele não iria recorrer do veredicto e que eu poderia usar os papéis gratuitamente se achasse necessária cobertura adicional. A minha mãe uma vez queixou-se sobre uma relação totalmente diferente entre a imprensa Católica e um prelado no seu jornal diocesano. “Havia nove fotos do bispo nas primeiras 11 páginas!”. Presumo que nenhuma das fotos ilustrasse um artigo sobre um processo judicial.

 

Fontes de notícias católicas que são objectivas e profissionais são raras

O Papa Francisco recentemente homenageou dois jornalistas cuja “área de acção” inclui o Vaticano. Nenhum dos dois trabalha para uma agência de notícias relacionada com a Igreja. Durante a cerimónia, o Papa agradeceu a todos os jornalistas que apontaram “o que existe de errado com a Igreja”.

Com poucas exceções, têm sido os meios de comunicação sem nenhuma ligação com a Igreja a realizar esse serviço. Abusos sexuais cometidos por clérigos e encobrimentos por parte de quem se encontrava em posições de responsabilidade foram destacados pelos média seculares.

Há outras histórias que mais cedo ou mais tarde serão contadas, mas provavelmente não nos média relacionados com a Igreja.

Quando alguns meios de comunicação independentes relacionados com a Igreja tentaram apresentar essas histórias, foram atacados por aqueles que afirmam estar a “proteger a Igreja”, embora na maioria das vezes isto não seja mais do que um exercício de autodefesa. Fontes não independentes imprimem fotos de bispos.

Fontes de notícias católicas que são objectivas, profissionais e, francamente, honestas, são raras. Francisco elogiou os jornalistas, mas a instituição ainda não quer ver jornalismo real.

Há dois mil anos, quando ainda não existia jornalismo, Jesus apontou a hipocrisia de quem exerce o poder entre e contra os fiéis. Hoje, isso faz parte da vocação do jornalismo.

Se isso não acontecer hoje, se as comunicações da Igreja forem apenas relações públicas, a Igreja e sua missão sofrem.

Todos ficamos constrangidos quando, como é inevitável, a corrupção e o escândalo que estavam ocultos são expostos por terceiros. O número cada vez menor daqueles que têm grandes expectativas fica escandalizado.

Os idealistas que, de outra forma, poderiam escolher uma vida de serviço na Igreja, afastam-se de uma instituição que valoriza o encobrimento da verdade. Alguns abandonam a Igreja com nojo.

Comparado a tudo isso, como é que os administradores da Igreja podem alegar que a má publicidade, mesmo (ou especialmente) quando é verdade, é um problema?

O maior problema é a perda de credibilidade para a verdadeira mensagem da Igreja, o Evangelho. A Igreja precisa desesperadamente de fontes de notícias honestas, objectivas e profissionais, ou será inútil para a proclamação do Evangelho. Essa honestidade, embora às vezes embaraçosa, também será a confirmação para o mundo de que estamos comprometidos com a verdade e, portanto, somos dignos de alguma confiança.

Os bispos do Japão sabiam que apresentar a imagem completa da Igreja é, em última análise, um serviço ao Povo de Deus e ao Evangelho. Os outros administradores da Igreja não deveriam aprender com eles?

 

Artigo do Pe. William Grimm, publicado no La Croix International a 22 de Novembro de 2021.

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Palavras-Chave:
Média  •  Meios de Comunicação  •  Igreja  •  Honestidade  •  Verdade  •  Transparência
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