Arquidiocese de Braga -

25 junho 2021

Papa Francisco alerta para pregadores que "perturbam as comunidades"

Fotografia Vatican News

dacs

Pontífice afirma que não se pode voltar atrás e "cair na tentação de se fechar em algumas certezas adquiridas em tradições passadas".

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Na Audiência Geral de 23 de Junho, o Papa Francisco citou a Carta aos Gálatas para fazer um paralelismo com a realidade de hoje em dia, em que alguns "guardiães da verdade" tentam definir "a melhor maneira de ser cristão".

“Nesta Carta, Paulo faz muitas referências biográficas que nos permitem conhecer a sua conversão e a decisão de dedicar a vida ao serviço de Jesus Cristo. Também trata de algumas temáticas muito importantes para a fé, tais como a liberdade, a graça e o modo de vida cristão, que são extremamente relevantes pois tocam muitos aspetos da vida da Igreja de hoje. Esta é uma Carta muito atual. Parece ter sido escrita para os nossos tempos”, começa por dizer Francisco.

O Santo Padre referiu a “a grande obra de evangelização realizada pelo Apóstolo” e sublinhou que o caminho da evangelização nem sempre depende da vontade e dos projectos dos cristãos, requerendo antes a disponibilidade e abertura para seguir outros caminhos que não os delineados.

“O Espírito conduz também hoje muitos missionários que deixam a própria pátria e vão para outra terra em missão. O que verificamos, contudo, é que na sua incansável obra de evangelização o Apóstolo conseguiu fundar várias pequenas comunidades, espalhadas por toda a região da Galácia. Paulo, quando chegava a uma cidade, a uma região, não construía imediatamente uma grande catedral, não. Estabelecia as pequenas comunidades que são o fermento da nossa cultura cristã de hoje. Começava com as pequenas comunidades. E estas pequenas comunidades cresciam, cresciam e iam em frente”, explicou. 

Francisco afirmou que Paulo, após a fundação dessas comunidades, se apercebeu de um “grande perigo” para o crescimento na fé: “alguns cristãos vindos do judaísmo tinham-se infiltrado nestas igrejas e astutamente começaram a semear teorias contrárias aos ensinamentos do Apóstolo, chegando ao ponto de o difamar.”

“Começam com a doutrina «esta sim, esta não», e depois difamam o Apóstolo. É o caminho de sempre: tirar a autoridade ao Apóstolo. Como podemos ver, é uma prática antiga apresentar-se em certas ocasiões como os únicos possuidores da verdade – os puros – e procurar menosprezar o trabalho dos outros, até com a calúnia. (…) Muitas vezes vemos isto. Pensemos em alguma comunidade cristã ou diocese: começam as histórias e depois acabam por desacreditar o pároco, o bispo. É precisamente o caminho do maligno, das pessoas que dividem, que não sabem construir”, alertou.

Referindo a situação de crise em que se encontravam os Gálatas – ao não saberem a quem deviam dar ouvidos, com “incerteza nos corações” – Francisco explicou que essa condição não está longe da experiência que muitos cristãos vivem actualmente, já que existem muitos pregadores que, “especialmente através dos novos meios de comunicação, podem perturbar as comunidades”.

“Apresentam-se não para anunciar o Evangelho de Deus que ama o homem em Jesus Crucificado e Ressuscitado, mas para reiterar com insistência, como verdadeiros «guardiães da verdade» – assim se consideram – qual é a melhor maneira de ser cristão. Afirmam energicamente que o verdadeiro cristianismo é aquele ao qual estão ligados, frequentemente identificado com certas formas do passado, e que a solução para as crises de hoje é voltar atrás para não perder a genuinidade da fé. Também hoje, como outrora, existe a tentação de se fechar em algumas certezas adquiridas em tradições passadas”, explicou.

O Papa afirmou que uma das características do modo de proceder destas pessoas é a “rigidez”, contrariando a pregação do Evangelho, que torna os cristãos livres e jubilosos.

“Sempre a rigidez: deve-se fazer isto, deve-se fazer aquilo… A rigidez é própria dessas pessoas. Seguindo o ensino do Apóstolo Paulo na Carta aos Gálatas ajudar-nos-á a compreender qual caminho seguir. O caminho que o Apóstolo indicou é aquele libertador e sempre novo de Jesus Crucificado e Ressuscitado; é o caminho do anúncio, que se realiza através da humildade e da fraternidade, os novos pregadores não sabem o que é humildade nem fraternidade; é o caminho da confiança mansa e obediente, os novos pregadores não conhecem a mansidão nem a obediência”, concluiu.

Pode ler a intervenção do Papa Francisco na íntegra aqui.