Arquidiocese de Braga -

21 novembro 2022

Congresso Internacional abriu espaço para debates e partilhas

Fotografia DM

DACS com DM / Seminário Conciliar

O Congresso Internacional sobre a Problemática dos Seminários Católicos decorreu durante quatro dias e marcou a celebração dos 450 anos da criação do Seminário Conciliar de São Pedro e São Paulo.

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Terminou no  sábado, dia 19 de novembro, o Congresso Internacional sobre a Problemática dos Seminários Católicos. Foram quatro dias de debates e partilha de experiências, com oradores de vários países. 

Segundo o cónego Vítor Novais, reitor do Seminário Conciliar de Braga, o evento pretende ser “o ponto de partida para algo que se impõe”. Ao fazer um balanço do mesmo, referiu que um dos grandes ensinamentos a retirar desse período de intenso debate é que “a reflexão é sempre um passo muito importante para a transformação, mas é só o primeiro passo”, sendo que, “depois desta sequência, será necessária uma consequência efetiva em processos que são sempre de arriscar”. 

Sobre este Congresso, o cónego Vítor Novais acredita que o êxito passará por “não nos resignarmos ao que está, mas termos sempre a ousadia de continuar a sonhar que é possível algo mais”.

Já o cónego Joaquim Félix, vice-reitor no Seminário Conciliar de Braga, considerou que “os frutos” colhidos nestes quatro dias foram “de diálogo aberto, sem clichés, mas com questões fortes”. 

“Todas as pessoas de uma forma complementar, quer de Portugal como de França, Itália e Espanha, nos ajudaram a ver a problemática a partir de outros olhares como declinações do olhar de Jesus”, destacou, enaltecendo este intercâmbio, até porque “a realidade na Europa não anda muito distante” do que se passa em Portugal. 

“Todos vamos sentindo, em termos de Igreja universal, mas em particular na Europa, que esta é uma temática que está a exigir uma profunda reflexão, atos de coragem, sem abandonar a delicadeza na transição de modelos, de acentuações em função das circunstâncias novas como jamais tivemos”, sustentou.

Para o seminarista Pedro Fraga, que acompanhou os trabalhos, a participação no Congresso lhe proporcionou um envolvimento ainda maior. “Somos envolvidos num processo não só de imaginação, mas também de transformação que exige de nós, de certa forma, sermos capazes de agarrar a oportunidade que nos está a ser dada. Foi a oportunidade de revisitar uma memória, não só uma memória para ficarmos agarrados, mas uma memória que nos leva a ter noção desse processo que nos é exigido para o futuro. Penso que é um Pentecostes que nos é aberto para podermos ter voz e sentido para um futuro novo que nos irá abrir», disse o jovem.

Desafios e narrativas são debatidos no Congresso

Na sexta-feira, dia 18, os trabalhos reflexivos começaram com o conferencista italiano Alberto Melloni (Universidade de Modena-Reggio Emilia / Fundação de Ciências Religiosas João XXIII de Bolonha), que salientou alguns problemas relativos à formação dos seminários, uma vez que, não poucas vezes, percebe-se que “se criaram seminários, em vez de seminaristas”, e em alguns casos, “não se formaram jovens seminaristas, apenas protegeram e produziram jovens”. 

A francesa Céline Béraud (Diretora dos Estudos da EHESS - École des Hautes Études en Sciences Sociales) fez uma análise sociológica a cerca do contexto presbiteral em França. Perante as “pressões sociais, o desalento do ministério, os recentes casos de abusos no seio da Igreja, muitos padres sentem-se desmotivados e coagidos a agir com medo”, disse. Primeiramente, propôs uma “reconfiguração do ministério do padre, descentralizando-o da sua exclusividade enquanto ministro”. Deste modo, os seminários devem ser instâncias de cultura nova e não de fechamento comunitário.

Durante a tarde, o painel  com o tema “O papel de uma Faculdade de Teologia para a formação dos futuros presbíteros” foi abordado pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, Dom António Couto, Bispo de Lamego e João Manuel Duque (Pró-Reitor da UCP), sob a moderação do jornalista Paulo Rocha (Agência ECCLESIA).

D. Manuel, numa alusão ao número 186 do documento Ratio Fundamentaslis, referiu a “necessidade de procurar caminhar de síntese em síntese, transmitindo de forma sólida e clara os conhecimentos” adquiridos na Faculdade de Teologia.

Referente à formação universitária dos futuros presbíteros, Dom António Couto refere a “necessidade de estimular boas questões, para que este modo interpelativo de agir seja um hábito relacional nos formandos”. A Faculdade de Teologia “tem o papel de questionar”.

Por fim, numa alusão aos conceitos de poder e autoridade, o professor João Manuel Duque, afirmou que o “reconhecimento da autoridade do presbítero acontece pela dimensão pública da fé, implicando a inserção no mundo, nunca podendo existir uma limitação eclesial”. Assim sendo, a universidade deve ser a “relação constante de outros e outras, numa permuta interdisciplinar com os conterrâneos”.

A arte religiosa

Já no sábado, o congresso transformou-se num espaço privilegiado de reflexão e debate sobre a arte religiosa, em particular sobre a presença da arte moderna nos edifícios religiosos. Além de abordar a forma como a arte tem evoluído e sofrido alterações, fruto da passagem dos tempos, foi também uma oportunidade para compreender que algumas modificações artísticas e arquitetónicas que recentemente têm sido feitas, quase num sentido de regressão no tempo, têm sido menos bem conseguidas, e alteraram para pior o “rosto” de algumas das igrejas e capelas portuguesas. 

O arquiteto João Alves da Cunha (Centro de Estudos de Arte Arte Religiosa da UCP) citou vários exemplos de norte a sul do país, para defender que nenhuma alteração deve ser decidida unilateralmente, mas antes deve envolver a Igreja, os arquitetos e a comunidade. 

“Temos em Portugal uma riqueza tremenda em termos de estatutária, pintura, vitral e de todo o tipo de técnicas, que nos provam que é possível que os artistas modernos, a cultura moderna estejam presentes, saibam dialogar e transmitir os desejos da Igreja”, defendeu o arquiteto, acrescentando que “mesmo os artistas não crentes têm sabido transmitir o essencial porque souberam abrir-se ao diálogo”.

“Se a Igreja quer estar no nosso tempo e demonstrar que o Evangelho é vivo nos nossos dias e que tem algo a dizer nos nossos tempos, não pode fugir a este diálogo, não pode ter medo”, afirmou, dando como bom exemplo o Seminário Conciliar de Braga e a Capela Imaculada.

O arquiteto defende que “o Seminário de Braga tem sido exemplar neste diálogo”, citando a Capela Imaculada como um dos exemplos mais positivos ao nível do país, “considerando-a “belíssima e de uma humanidade extrema, porque se mistura com o povo, em ato de humildade”.

“Há, contudo, que ser justo e honesto para declarar a Capela Imaculada como uma obra exemplar porque está dentro dos parâmetros da História das que têm capacidade de resistir ao tempo”, disse, vincando “que não é apenas a obra, mas tudo o que ela traz com ela e que vai ao encontro do espírito do Concílio Vaticano II, que defende uma Igreja próxima. E esta Nossa Senhora é essa proximidade que evoca”, concluiu.

 

 



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