Arquidiocese de Braga -

14 maio 2016

Domingo de Pentecostes

Fotografia Pio Si

Carlos Nuno Salgado Vaz

Esta festa realça que este é o tempo da Igreja, tempo no qual são superadas todas as barreiras.

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Com a festa de Pentecostes, dos 50 dias de Páscoa, a coincidir coma festa judaica das primeiras colheitas e interpretada também como celebração da aliança feita por Deus com o povo no monte Sinai, concluímos a caminhada solene pascal. Esta festa quer dizer-nos que, com a Páscoa é instaurada uma nova lei: a lei do Espírito.

O Espírito é o intérprete perfeito da palavra de Cristo. E o sinal de que essa presença está operante na Igreja é o amor aos irmãos, radicado em Cristo que, por nós morreu, ressuscitou e foi glorificado. O Espírito gera a comunhão dos filhos com o Pai: «Viremos a ele e faremos nele a nossa morada». Quer isto dizer que a Igreja está chamada a colaborar com o Espírito para renovar o mundo através do anúncio e do testemunho de todos quantos sabem que estão salvos.

O tempo da Igreja

Esta festa realça que este tempo é o tempo da Igreja, tempo no qual são superadas todas as barreiras étnicas, religiosas e linguísticas. A alegre notícia é para todos. É possível uma nova comunicação entre os homens, entre todos os homens. No Sinai, era Deus que falava. No Pentecostes, são os homens que anunciam uma alegre notícia, uma palavra criadora.

A função do Espírito Santo é precisamente a de permitir aos homens comunicarem a experiência do Ressuscitado. Não é o Espírito que fala. É Ele porém que torna possível a experiência do comunicar. O Espírito não nos diz que coisas devemos fazer, nem pode fazer aquilo que devemos ser nós a fazer. Mas é Ele que nos dá a força e a possibilidade de operar tudo quanto nós devemos fazer e operar.

Em Pentecostes, vemos de um lado, os apóstolos, e do outro, homens sedentos de verdade. O Espírito faz com que, entre os apóstolos e todos os homens presentes, seja possível comunicar, com isso afirmando que, quem com sinceridade procura a verdade, acabará por a alcançar. Por isso, é possível comunicar a Boa Nova de Jesus, mantendo a própria cultura, a própria identidade e diversidade.

Ao contrário de Babel, em que os homens se desentenderam e separaram, em Pentecostes, cessam as incompreensões, as divisões, invejas, ciúmes, ódios e indiferenças, e nasce um mundo novo de comunhão e comunicação plenas, pois todos nos entendemos tão bem que parece estarmos perante a nossa língua materna, não a língua do país em que nascemos e crescemos – o português, no nosso caso – mas aquela linguagem que existe entre a mãe e o seu bebé, a palavra antes das palavras, uma humana e divina lalação. Chame-se-lhe confiança, intimidade, ternura. Impõe-se, nesta bela comunidade, uma atitude de vigilância permanente, pois será sempre grande a tentação de querer levar o Espírito à letra! Todos consideraríamos um absurdo a existência de um intérprete entre a mãe e o seu bebé! É esta divina lalação, — única vez que aparece no Novo Testamento — este falar de intimidade do Espírito, que nos ensina a compreender que 'Jesus é o Senhor e que Deus é Pai' (cf. Dom António Couto).

A diversidade apresenta-se como uma riqueza e uma renovada possibilidade de encontro e verdadeira comunicação e comunhão.

Cada dia, a Igreja recomeça sempre que um grupo de homens e mulheres, adultos e jovens, velhos e crianças, se reúnem para escutar a palavra do Ressuscitado, tornada presente e operante pelo poder do Espírito. Por isso, de alguma maneira, nós estamos sempre na aurora da Igreja. O Pentecostes convida as comunidades cristãs a porem-se em caminho para atingirem todos os homens.

Os discípulos, pela ação do Espírito Santo, transformam-se de medrosos em testemunhas convincentes, preparados para retomar o caminho de Cristo e continuar a sua obra de salvação e de perdão, anunciando assim que o futuro não está fechado, e que tem sentido caminhar e trabalhar por um mundo à altura da dignidade do homem, imagem de Deus.

Comunidade missionária

Cada um de nós recebe do Espírito o próprio dom para o crescimento de todos. Por isso a lógica de cada cristão e da comunidade tem que ser a do serviço, da disponibilidade e do acolhimento e integração. A esta luz, a comunidade cristã é chamada a ser missionária. Nela, todo o crente recebe o dom de manifestar o Espírito para o bem de todos. Este é que é o modo de viver realmente segundo o Espírito.

O ensinamento do Espírito Santo é o mesmo que Jesus fez e que recebeu do Pai, mas vem depois do de Jesus, e processa-se na interioridade da inteligência e do coração de cada ser humano. Como o óleo, é unção que lentamente penetra em nós, ocupa o nosso interior, suaviza as nossas asperezas, cura as nossas dores e faz crescer entre nós comunidade e comunhão (A. Couto).