Arquidiocese de Braga -
1 fevereiro 2017
NÃO HÁ FAMÍLIAS PERFEITAS
Departamento Arciprestal da Comunicação Social
É já no próximo Sábado, dia 4 de Fevereiro, que se realiza em Vila Nova de Famalicão a XII Jornada da Família, subordinada ao tema “Não há famílias perfeitas”.
Não há famílias perfeitas.
É uma frase na negativa, mas não é uma afirmação negativista.
A primeira ideia que deve afirmar-se como essencialmente positiva é a existência de FAMÍLIA. Esta é, e deve ser, a primeira aspiração do ser humano, do ser homem e ser mulher, o “ser família”.
Depois, constatamos que não há, individualmente, homens ou mulheres perfeitos.
Costuma dizer-se usualmente: ninguém é perfeito.
Logo, quando se juntam, pelo amor, duas imperfeições, não quer dizer que o resultado vai ser a obtenção da perfeição, mas um todo, também ele, imperfeito, à busca do aperfeiçoamento.
A afirmação de que não há famílias perfeitas não deve ser motivo de conformismo, desânimo, ou mesmo desculpa para as nossas fraquezas ou limitações.
Deve, antes, ser fonte de estímulo e de conforto no crescimento e amadurecimento contínuos das relações amorosas, conjugais e familiares.
E porque não há famílias perfeitas?
Por vezes, idealiza-se o amor idílico, fantasioso, só feito de ternura e facilidades, bem-estar material, satisfação psico-sensitiva, só com tonalidades harmoniosas e de sucessos.
Quando se parte para a vida com tais expectativas, repara-se, depois, que não é bem assim.
Na vida familiar real, há diferenças de humor, de gostos, de opiniões, de dons. Nem sempre estamos de boa saúde, enérgicos, alegres, cooperantes, tolerantes.
Em todos os tempos houve condicionantes à vida familiar, mas nos tempos modernos assistimos a uma sociedade que nos distrai e convida ao individualismo e consumismo, ao narcisismo, o que leva a afastarmo-nos da partilha do nosso ser e do nosso ter.
A exigência da vida familiar é uma exigência tão natural, como natural é constituir família. E esta exigência assusta, por vezes, muita gente, ou apanha desprevenidos os que não se prepararam para a constituir, particularmente aqueles a quem a propaganda da “família fantasiosa” contagiou.
Homem e mulher são incompletos, imperfeitos, incorrendo na necessidade de amarem e serem amados.
A vida partilhada significa dar e receber, sem contabilizar o que se dá ou recebe, no são princípio de “dar sem perder; adquirir sem tirar”.
Um sabe fazer umas coisas, o outro sabe fazer outras. Ambos fazem coisas idênticas.
É preciso saber ocupar o mesmo espaço e arranjar tempo para os dois, e para a família crescente.
Nesta gestão do mesmo espaço e do mesmo tampo, é importante não só fazer as coisas ordinárias da vida, mas criar coisas novas, sair da monotonia.
Uma das grandes criações do casal é a geração dos filhos. Sublime força do amor, encantamento da família, são também, tantas vezes, fonte de preocupações, conflitos, desencanto.
E há os contratempos:
O trabalho não corre bem. O corpo está fatigado. O corpo está dentro do lar, mas a mente está fora. O olhar está perto e tão distante. A vontade de ajudar está fraca. O cozinhado não está apetecível. Não se pode gozar deste ou daquele prazer. O filho chora, faz birra, não aceita admoestações ou ordens.
Pode-se ouvir dizer: “foi para isto que eu casei?”
Por tudo o que sabemos das experiências de vida, é sempre possível ouvir:
“ Não, não foi para isto, mas é, por isto, que me mantenho casado, porque cultivo o que me levou ao casamento: o amor conjugal e familiar que opera nas horas boas e más “
É, assim, tão exigente viver em família? É.
Mas, de tão natural que é a sua origem, não deveria ser uma realidade complicada ou para complicar a vida do homem e da mulher, e, por isso, as suas exigências não deveriam constituir um entrave à constituição de família, ou motivo para a desfazer quando as expectativas saem algo diversas do imaginado, porque a vida é, também, risco e imprevisto, e sobretudo, é feita de alegrias e tristezas, de saúde e de doença.
O sentimento de pertença subjacente à contracção do matrimónio, além do amor que o fundamenta, leva à celebração pública dessa comunhão, formando um lar juridicamente reconhecido e religiosamente celebrado para quem o dom da fé preenche a sua vida.
Teologicamente falando, o sacramento do Matrimónio Cristão significa que o amor de Jesus, com que nos amou até à morte, circula no amor dos cônjuges e transforma-os.
Por isso, se apela (a Igreja e não só) a não deixar cair os vínculos, os compromissos, lutando contra as adversidades do quotidiano da vida, que decorre na imperfeição, tentando ajudar o outro, e a si próprio, a tornar a vida mais conseguida, mais humana, mais perfeita.
É importante perceber e transmitir a ideia de que o vínculo civil ou sacramental, encerra compromissos que não devem ser tomados como conjunto de proibições ou impedimentos na vida, mas uma vez assumidos em liberdade, são forma de nos libertarmos da prisão dos egoísmos e são abertura à vida, não só geracional, mas também de realização pessoal com o “outro” e através do “outro”.
Nem sempre se conseguem superar as crises. Então, surgem mudanças de rumo, outra forma de vida pessoal ou em comum, outras reconstituições de família que partem para um novo projecto, vivido com as mesmas imperfeições humanas, mas com a legítima aspiração de ser feliz e a imperiosa obrigação de tornar felizes aqueles que lhe estão ao cuidado.
A FAMÍLIA É O FUTURO DA HUMANIDADE, logo cuidemos bem deste património insubstituível.
Manuel Leite
Equipa de Pastoral Familiar de Sto. Adrião, VNF
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