Arquidiocese de Braga -
24 dezembro 2017
MENSAGEM DE NATAL DO ARCIPRESTE DE V. N. DE FAMALICÃO, O P.E ARMINDO PAULO FREITAS
Departamento Arciprestal da Comunicação Social
«Espelho do Amor de Deus Pai»
O tempo de Advento que vivemos foi um forte apelo à nossa capacidade de saber esperar: «Quem Esperas?». Ajudou-nos a reconhecer os tempos e os seus sinais, para neles identificar a presença dinâmica do Espírito - «No meio de vós está quem vós não conheceis» (Jo 1, 26) - e a tornar disponível o nosso coração para acolher a alegre notícia que nos transforma e nos põe sempre em acção para a construção do Reino.
Foi um tempo de meditação e de preparação do mistério da Incarnação, pedra fundamental da nossa identidade cristã, que encontra a sua mais autêntica expressão na disponibilidade de Jesus para cumprir o desígnio salvífico do Pai: «Eis que venho, ó Deus, para fazer a tua vontade» (Heb 10, 7).
O mistério da Incarnação revela-nos não somente a razão e o objecto, mas também o estilo da nossa verdadeira condição: Discípulos Missionários. Jesus veio para o meio de nós por causa do Amor inultrapassável do nosso Deus que nunca esquece o homem e lhe oferece, cada dia, a salvação, «como sol que nasce das alturas» (Lc 1, 78). Este desígnio salvífico, este poder do seu Espírito, assumem forma humana e caminham no meio de nós (Jo 1, 14), partilhando a nossa condição, as nossas fraquezas e sofrimentos e até a morte e morte de cruz (Fil 2,8). Mas, na pessoa de Jesus de Nazaré, este projecto salvífico actualiza-se também nos sinais concretos de disponibilidade para Deus - na escuta, no silêncio, no louvor e na súplica - e de anúncio de divina solidariedade e salvação, tornadas presentes no dom gratuito do Evangelho, nos gestos para com os doentes, os pecadores, os marginalizados da sociedade, aos quais é oferecida a comunhão com Deus, através do dom do Espírito.
Hoje somos chamados, como todas as gerações que nos precederam, a abrirmo-nos ao amor de Deus e ao seu desígnio de salvação e a encontrar, com os mesmos sentimentos de sensibilidade e solidariedade, as palavras, os gestos e também a organização que tornam transparente a vida e a salvação que Deus quer oferecer aos homens e mulheres de Boa Vontade. Da nossa escuta e da nossa capacidade de transformar em gestos concretos de vida aquilo que escutamos, depende o futuro do nosso serviço.
Hoje, não basta afirmar que somos Igreja, nem sequer fazer sobre ela os melhores discursos. É preciso mesmo que toda esta reflexão, necessária para abrir a nossa mente e mobilizar o nosso coração, transforme a nossa vida e a nossa missão. Precisamos de Ser homens e mulheres que se colocam diariamente na escuta de Deus e da realidade que nos rodeia, mas que ao mesmo tempo desenvolvem uma sensibilidade e uma coerência de vida, que faz com que nos tornemos transparência do amor do Senhor que nos conduz.
A nossa missão estará sempre em perigo de cair em activismo estéril e em anúncio de nós mesmos se não brotar de um contacto fecundo com Deus que nos envia, de uma disponibilidade que abana o nosso comodismo, de uma abertura ao amor universal de Deus que abre de par em par os horizontes da nossa realidade, de uma comunhão que nos torna arautos da vida experimentada na Igreja.
Trata-se de nos abrirmos ao mistério da Incarnação do Verbo e de configurar a nossa existência à de Jesus. Exactamente porque estamos conscientes da urgência da acção para a transformação do mundo, como nos tem interpelado o Papa Francisco, sentimos a necessidade de nos pormos, em silêncio, à escuta do Senhor da história que nos guia e nos sustenta. É deste encontro, como discípulos, que provém a nossa missão de profetas e operários do Reino.
Tornados capazes de sonhar e de Esperar, com um coração aberto e disponível para acolher, reflectir e decidir, como Maria; com o empenho de traduzir em atitudes novas a adesão ao Reino que vem, como João Baptista; e uma vida oferecida a Deus: poderemos, deste modo, ser verdadeiros discípulos, profetas e apóstolos do Senhor – do Menino Deus – onde se espelha o Amor de Deus Pai.
A todos desejamos um Santo Natal, na paz e na alegria proclamada pelos anjos como sinal da vinda do Senhor. Que no coração de cada um de nós e de cada uma das nossas comunidades, este anúncio se transforme em reconciliação, acolhimento e fraternidade e que todos possamos levar o testemunho de Deus que amou tanto o nosso mundo que veio habitar no meio de nós.
Padre Armindo Paulo da Silva Freitas, Arcipreste
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