Arquidiocese de Braga -
3 junho 2020
Narrativas de jovens universitários estrangeiros
Departamento da Pastoral Universitária
Vladimir Djata | Mestrado em Português Língua Não Materna – LE/L2 (UMinho)
Como é viver fora do teu habitat? A vida é uma caixa de surpresas e reserva-nos coisas fascinantes. Foi como um sonho, mas quando dei conta, percebi que estava a concretizar um dos meus maiores desejos, o de estudar em Portugal. A vida pode tornar-se difícil, mas eu diria que qualquer pessoa deve aguentar os bons e maus momentos, pois viver no estrangeiro é uma coisa que ninguém deve deixar de fazer, pelo menos uma vez na vida, pois permite experienciar uma realidade nova.
Mudar e começar do zero num país desconhecido e culturas totalmente diferentes é uma das experiências mais desafiantes e, ao mesmo tempo, mais aterrorizante de sempre, sobretudo neste momento da pandemia, com o distanciamento social. Mas viver esta experiência em Braga completa-me e torna-me um cidadão do mundo, pois permitiu-me provar os benefícios de estudar no estrangeiro.
Quando mudei para cá, juntei-me a uma outra realidade e passei a ter duas moradas (a de cá e a do meu país) e duas moedas no meu bolso. A moeda constitui o primeiro entusiasmo, ter Euro, era o que mais queria. Ai! Como é bom tê-lo agora todos os dias!
Ser cidadão de dois mundos e ter duas personalidades e isto é o que me mais me fascina.
Tudo começou nos meados de outubro quando, pela primeira vez, tive que deixar a Guiné-Bissau para vir estudar para Portugal, e Braga foi o destino escolhido. Acredito mesmo que foi destinado pelo Altíssimo, DEUS-PAI, porque não tive problemas em adaptar-me. Aqui conheci pessoas maravilhosas, acolhedoras e especiais.
A parte mais fascinante de toda a minha experiência foi quando conheci pessoas que fazem os possíveis e impossíveis para manter o contacto e ajudar o próximo. Primeiro, foi com a organização Ser Mais Valia, que me orientou nos primeiros dias da minha estadia aqui. Depois, com o Centro Pastoral Universitário, onde aprendi um pouco sobre o sentido do voluntariado, tendo sido apoiado no meu estudo, onde frequentava, antes da pandemia, aulas de informática sem qualquer custo, dadas por outros universitários. Seguidamente, num piscar de olhos, através mais uma vez da Pastoral, conheci a cidade santa de Portugal, Fátima, cidade que desde criancinha sonhava um dia conhecer. Tive a felicidade de partilhar este momento com outros jovens universitários, que também acompanharam a Pastoral Universitária no Encontro Nacional de Estudantes do passado dia 7 de março para uma importante reflexão sobre o serviço ao outro.
Sou um estrangeiro num país e numa cidade que não me olham como estrangeiro, mas um ser humano como qualquer outro, um residente da sua cidade. Mas também, como não gostar de Braga, quando aqui consegui conviver com os quatro cantos do mundo? Sim, quatro cantos do mundo! Ásia, através dos chineses, cidadãos de Macau; América, com os brasileiros a representarem um número significativo; África, com os angolanos, moçambicanos, cabo-verdianos, são-tomenses; e, enfim, o próprio povo português. Braga é uma das cidades mais multiculturais da Europa, onde a Universidade do Minho foi considerada a mais multicultural.
Quando partir, levarei comigo boas recordações desta cidade e de pessoas maravilhosas que conheci, pessoas que me fizeram compreender, através dos seus gestos e carinhos, que todos nós somos um ser uno, independentemente da cor da pele.
Braga e a Pastoral Universitária, as minhas segundas casas, o meu segundo habitat.
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