Arquidiocese de Braga -

8 dezembro 2007

Colocar-se na Escola de Maria

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D. Jorge Ortiga

Sameiro " Imaculada Conceição

\nA celebração da festa da Imaculada Conceição no Santuário do Sameiro permite-me regressar à mensagem que o S. Padre dirigiu aos Bispos Portugueses por ocasião da Visita ad Limina. Na verdade, o aproveitamento faccioso por parte da Comunicação Social duma ideia desintegrada do seu verdadeiro contexto, não ousando afirmar que foi intencional mas que conduziu muita gente a descurar uma leitura integral da mesma mensagem, fez com que muitos outros aspectos fossem desconsiderados.
E como não podemos permitir que passem ao esquecimento, quero referir-me a uma passagem maravilhosa que encerrava o seu discurso.
Referia-se a Fátima. Penso que podemos e devemos aplicar a todos os santuários Marianos e o Sameiro deveria, pelo seu amor ao Papa, aceitar as palavras do Papa Bento XVI como um autêntico programa capaz de rectificar – ou, se quisermos usar o verbo sublinhado pela comunicação social e pelo Papa, mudar estilos e mentalidades – para que este santuário e os outros se tornem, como tantas vezes tenho sublinhado, lugares privilegiados de Evangelização.
O Santo Padre diz que Maria “ergueu (em Fátima e nos Santuários) a sua cátedra para ensinar… as verdades eternas e a arte de orar, crer e amar”, tornando-os uma autentica “escola de fé com a Virgem Maria por Mestra” onde todos nos devemos colocar, em atitude humilde, como “alunos que necessitam de aprender a lição”
Estas palavras dispensam qualquer comentário. Penso, porém, que imprimem um sentido autêntico à piedade mariana que caracteriza a vida dos nossos fiéis e comunidades. Importa peregrinar e rezar. Impõe-se, porém, que o façamos na atitude de discípulos de Maria que, como Mestra, nos coloca, dum modo permanente e constante, na sua Escola de Fé. Uma fé que se torna motivadora das nossas opções quotidianas, ou seja, verdadeiro aprofundamento dos conteúdos da mensagem, sempre abertos à mudança e conversão. Na fé, como abandono nas mãos de Deus, procuramos progredir, numa atitude dum artista que nunca se satisfaz com a beleza das obras realizadas, mas caminha para novos projectos
São três as dimensões recordadas:
- A arte de orar que nunca pode estar no repetir monocórdio e monótono de fórmulas feitas, mas se exprime na intimidade de dois amigos que partilham sentimentos e emoções. Trata-se duma oração feita vida e uma vida feita oração.
- A arte de crer como coragem de mergulhar num conhecimento de Deus feito Amor para colocar a fé a provocar atitudes fundamentais na família, na profissão, na comunidade. A fé está na coerência com a doutrina e na transparência corajosa de quem não teme ficar mal perante outros que militam em fileiras diferentes. Basta de nos adaptarmos com tanta facilidade. A fé é diferença a marcar e sugerir que o mundo deve percorrer outros caminhos.
- A arte de amar como distintivo do cristão num mundo de tantas contradições e negações do verdadeiro amor. Importa reinventar o amor e mostrar que ele está no dar a vida e que só isto mostra que somos cristãos.
Se os Santuários devem ser esta escola de fé, quem os procura não deve ter outra intenção e quem os orienta não deve ter outro programa. Vale o que conduz a este encontro com Cristo. Para esta finalidade é importante, mas também pode ser oportuno reflectir sobre se é este o critério que está a acompanhar as iniciativas e os projectos.
Nada é alheio à realidade da fé. Só que o anúncio explícito tem de encontrar muitas propostas concretas e variadas capazes de seduzir e atrair os públicos mais variados. Precisamos de cuidar das pessoas mais simples mas não podemos ignorar as pessoas dos diversos mundos da vida humana. Há problemas concretos e realidades humanas que precisam de se encontrar com a luz da fé. A arte, a economia, a política, a educação, a administração pública, o trabalho, os tempos livres são exemplos a suscitar uma criatividade grande para que os leigos manifestem o seu compromisso cristão no mundo.
Os movimentos apostólicos necessitam de abertura a problemáticas novas e não de simples limitação a um carisma que pode ser muito importante mas que só encontra a sua razão de ser se gerar para uma fé adulta.
Este colocar-se na Escola de Maria tem um contexto muito próprio que o Papa sublinhou duma maneira enfática. “A palavra de ordem era, e é, construir caminhos de comunhão”. Não se trata por isso de aventureirismos pessoais de quem aposta no que lhe parece melhor. O futuro da Igreja está na comunhão que se conseguir viver e oferecer no momento presente. O Papa chama-lhe “palavra de ordem”; eu diria alegria de testemunhar a unidade. Os caminhos conduzem sempre a algum lugar. Importante seria que conduzissem à comunhão dentro e fora da Igreja. Não nos resta outra hipótese e é esta mudança que o Papa pede pois a frase mais citada segue-se imediatamente a este dever de construir comunhão. Teremos, por isso, de mudar mentalidades e estilos de organização para estar em sintonia com o Papa. Pode custar muito por causa dos hábitos adquiridos. Renovadamente assumo-me, procurando concretizar o meu lema “que todos sejam um”, comprometido neste “construir comunhão”. Não se trata duma tarefa fácil. São muitas as vezes em que o particular pretende impor-se ao universal. Com a Palavra de ordem do papa, conseguiremos.
Que a Senhora do Sameiro nos estimule para que todos – sacerdotes e leigos – se coloquem na sua escola, reconhecendo que podemos e devemos aprender, mudar e crescer como discípulos.
Sameiro, 08-12-07
† D. Jorge Ortiga, A.P.