Arquidiocese de Braga -
23 janeiro 2017
Oração Ecuménica nos Congregados: derrubar muros, caminhar na unidade
DACS
Frio não foi entrave à celebração e Basílica acolheu dezenas de crentes que participaram na Oração Ecuménica.
A Basílica dos Congregados acolheu, na passada sexta-feira, dia 20, a Oração Ecuménica que assinalou a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos a nível nacional. Presentes estiveram o Arcebispo Primaz, D. Jorge Ortiga, o Bispo da Guarda, D. Manuel Felício, o Presidente do Conselho Português das Igrejas Cristãs (COPIC) e Bispo da Igreja Metodista, Sifredo Teixeira, o Bispo D. Jorge Pina Cabral, da Igreja Lusitana, o Pastor Emanuel de Carvalho e a Pastora Eunice Alves, da Igreja Metodista.
A Semana de Oração deste ano foi subordinada ao tema “Reconciliação – É o amor de Cristo que nos impele” (2 Cor 5,14-20) e assinalou os 500 anos da publicação das 95 teses de Martinho Lutero.
Neste sentido, e tendo em conta as divisões que pautaram a Reforma, a cerimónia que se viveu nos Congregados foi dotada de alguns momentos simbólicos, como a construção de um muro assente em pecados e o seu consequente desmoronamento e transformação na cruz de Cristo.
Durante a oração, o Arcebispo Primaz, D. Jorge Ortiga, lembrou que a Reconciliação é um dom de Deus que foi oferecido a todos.
“Basta que cada um de nós se queira reconciliar. Reconciliamo-nos em Deus, e em Deus com todo o mundo. A reconciliação é fonte de reconciliação, de vida nova, de vida reconciliada. É o amor de cristo que nos impele. Pensemos nesta tarefa que Deus nos concede com alegria, porque Deus nos reconciliou”, sublinhou.
“Precisamos de viver com Cristo e em Cristo. Mesmo que haja dificuldade e sacrifícios, Ele está sempre connosco.”
Sifredo Teixeira, Presidente do COPIC
O prelado leu ainda uma passagem da Declaração Conjunta assinada pelo Papa Francisco e pelo Presidente da Federação Mundial Luterana, Munib Yunan, por ocasião da comemoração conjunta católico-luterana da Reforma: “Pedimos a Deus inspiração, ânimo e força para podermos continuar juntos no serviço, defendendo a dignidade e os direitos humanos, especialmente dos pobres, trabalhando pela justiça e rejeitando todas as formas de violência. Deus chama-nos a estar perto de todos aqueles que anseiam por dignidade, justiça, paz e reconciliação. Hoje, de modo particular, levantamos as nossas vozes para pedir o fim da violência e do extremismo que ferem tantos países e comunidades, e inumeráveis irmãos e irmãs em Cristo. Exortamos luteranos e católicos a trabalharem juntos para acolher quem é estrangeiro, prestar auxílio a quantos são forçados a fugir por causa da guerra e da perseguição, e defender os direitos dos refugiados e de quantos procuram asilo”. D. Jorge Ortiga apontou o facto de esta ser uma proposta em sentido positivo, que olha mais para aquilo que une do que aquilo que separa as diversas confissões religiosas cristãs.
Por sua vez, o Bispo Sifredo Teixeira, Presidente do COPIC, agradeceu o acolhimento e confessou ser uma grande alegria rever amigos e irmãos diante do Senhor.
“Somos chamados a celebrar a Alegria do Evangelho. Temos que partilhá-lo com alegria e para isso precisamos do dom da Reconciliação que é dado por Deus mas depende de nós. Se não o soubermos aproveitar, não adianta. Esta é uma oportunidade para fortalecer o nosso testemunho e a sua importância. Precisamos de viver o amor de Cristo reconciliados. Temos que acreditar num tempo novo, temos que acreditar que nunca estamos sozinhos. Precisamos de viver com Cristo e em Cristo. Mesmo que haja dificuldade e sacrifícios, Ele está sempre connosco”, adiantou.
“Devemos começar sempre do ponto de vista da unidade e não da divisão. Temos que multiplicar estes tempos de encontro em que nos tornamos irmãos e através de passos concretos, atingir uma unidade visível.”
D. Jorge Pina Cabral
O Presidente do COPIC afirmou ainda que os 500 anos de Lutero são uma oportunidade para celebrar o dom da paz e o testemunho enquanto Cristãos e de valorizar o ministério de todos os crentes, já que “Cristo quer o serviço de todos”. “O nosso mundo precisa de embaixadores da reconciliação que construam pontes, derrubem muros, tudo em nome de Cristo”, defendeu.
D. Jorge Pina Cabral, da Igreja Lusitana, revelou aos presentes que teve oportunidade de participar na celebração que decorreu na Suécia, onde foi assinalada a declaração conjunta já referida, e partilhou o novo ânimo que esses momentos lhe trouxeram.
“Constituiu um momento de profunda elevação espiritual, de alegria e compromisso. Um dos aspectos que me marcou foi o ênfase dado ao baptismo. Somos irmãos e irmãs através do baptismo comum. Estamos indissoluvelmente ligados à pessoa de Jesus Cristo. É um ponto muito importante para a nossa caminhada de Reconciliação. É uma bênção, somos irmãos uns dos outros e juntos formamos o corpo de Cristo”, afirmou.
“É esta prece que se faz, para que a unidade de várias maneiras seja testemunhada e, consequentemente, o mundo possa acreditar. Se as Igrejas cristãs do mundo inteiro dessem o testemunho de unidade, com certeza que o mundo acreditaria.”
D. Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz
O bispo sublinhou também a necessidade de arrependimento dos pecados e o continuar uma era de união.
“Devemos começar sempre do ponto de vista da unidade e não da divisão. Temos que multiplicar estes tempos de encontro em que nos tornamos irmãos e através de passos concretos, atingir uma unidade visível. E não nos podemos esquecer do serviço ao mundo, somos chamados ao compromisso e ao serviço. É a missão da Igreja, a missão de Deus”, concluiu.
No final da celebração, a Pastora Eunice Alves, da Igreja Metodista, confessou ao DACS a sua alegria por este encontro na Basílica dos Congregados.
“Gostei muito, achei que foi um momento inspirador e que pôde expressar de algum modo os esforços ainda muito pequenos para nos encontrarmos e reconciliarmos em nome de Cristo e partirmos para o mundo, para servirmos, como foi dito. Reconciliados por Cristo para podermos servir”, disse.
Eunice Alves afirmou ainda que ser Pastora “é um grande desafio”, mas que muitas das dificuldades que já existiram foram sendo ultrapassadas.
“Lembro-me que quando comecei havia mais dificuldades porque as pessoas não estavam habituadas ao ministério feminino, mesmo dentro das igrejas protestantes. Mas hoje em dia é bastante comum e torna-se muito mais fácil lidar com as pessoas. Há determinada imagem que as pessoas têm, mas de maneira geral aceitam-nos muito bem”, revelou.
O padre Paulo Terroso, Reitor da Basílica, não escondeu a alegria pelo momento de celebração e também sublinhou a importância da unidade.
“Não ignorando a existência de muitos elementos que separam as Igrejas, sejam eles de ordem histórica, doutrinal ou mesmo política, não deixa de ser um sinal de esperança e dom do Espírito a comunhão das Igrejas na dimensão orante do ecumenismo. Fico feliz por terem escolhido a Basílica dos Congregados como a Igreja para acolher o o momento de oração pela unidade dos cristãos a nível nacional”, adiantou.
As palavras do padre Paulo Terroso foram reiteradas pelo Arcebispo Primaz que, durante o momento de convívio que procedeu a oração, voltou a insistir na necessidade de um caminho conjunto, um caminho “ecuménico” para alcançar a unidade entre os cristãos.
“A unidade é o testamento de Jesus Cristo porque é aquilo que Ele nos entregou. Para o podermos concretizar, a unidade tem que ser realizada dia-a-dia, momento após momento. E se a Igreja dá um testemunho de divisão na área das confissões, das pessoas que acreditam em Deus, isso não acontece. Hoje há um caminho intenso, um caminho de ecumenismo necessário para trabalhar a unidade dos cristãos. É um caminho que se está a percorrer em Portugal e no mundo inteiro todos os dias, mas nesta semana de modo mais intenso: em que se reza pela unidade, em que se reflecte sobre as exigências da vida em unidade e em que naturalmente se fazem experiências concretas de comunhão como esta que aqui fizemos. O facto de estarmos aqui todos é um sinal por si mesmo. Pedimos a unidade a Deus, este ano com um tema concreto, mas o fundamental é a oração pela unidade e depois no dia-a-dia acabar com as barreiras, excluir as divisões. É esta prece que se faz, para que a unidade de várias maneiras seja testemunhada e, consequentemente, o mundo possa acreditar. Se as Igrejas cristãs do mundo inteiro dessem o testemunho de unidade, com certeza que o mundo acreditaria”, concluiu.
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