Arquidiocese de Braga -
15 novembro 2013
GABINETE DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO
Artigo do Pe. Marcelo Correia sobre o Gabinete de Conservação e Restauro.
Gabinete de Conservação e Restauro
A Arquidiocese de Braga, em resultado da preocupação do Senhor Arcebispo, D. Jorge Ortiga, em evitar, como lhe chamou recentemente, as “aventuras subjectivas que permitem que algum património seja delapidado”, tem um gabinete de apoio para a conservação dos bens patrimoniais da Igreja. Provavelmente conhecido por uns e desconhecido por muitos mais, o Gabinete de Conservação e Restauro é uma das secções do Instituto de História e Arte Cristã (IHAC), existente desde 25 de Janeiro 2001.
É competência e área de intervenção deste Gabinete de Conservação e Restauro, preferencialmente, todo o património da Igreja Diocesana. Inclui-se, portanto, com naturalidade, o património das paróquias.
Mais importante do que apresentar a história e as obras do Gabinete ao longo de dez anos, são os seus propósitos, assim é preciso que todos percebamos o porquê da existência deste Gabinete.
Quantos de nós párocos, bem-intencionados, sentimos a vontade de fazer o melhor para as nossas comunidades e não sabemos como tratar o seu património. Levados pelo amor à Igreja, e porque também assim nos comprometemos no dia da tomada de posse, “servir bem e fielmente” os bens das paróquias, nem sempre o conseguimos da melhor forma. Ou então, são os paroquianos que se mostram preocupados com a visível degradação do património e nos pedem uma intervenção urgente, procuramos, às vezes mal aconselhados, a ajuda onde não devíamos.
Pondo de parte todos os caprichos e teimosias entre nós e o povo, que podem acontecer e que são notórios, são vários os problemas ou as dificuldades na hora de decidir o melhor para as nossas obras.
Primeiro, ao procurar qualquer literatura sobre o assunto, depressa tropeçamos nas palavras e no alcance das mesmas; para exemplo: preservar, conservar, zelar, restaurar, manter, arranjar, guardar, proteger, estabilizar, ambientar, etc… Depois, o objectivo da intervenção, isto é, o que se quer da peça como “produto final”, nem sempre é claro. Ou seja, torna-se ainda muito mais confusa a nossa decisão quando não sabemos tampouco o fim a que se destina: é para veneração ou musealização? Queremos arranjar para continuar afecto ao culto, ou queremos conservar para guardar? Depois existem problemas técnicos, a pergunta fundamental impõem-se: há só uma forma de conservar bem? Não, não há!
Às vezes, para maior confusão nossa, o melhor é não fazer nada! E dizemos isto, uma vez que se apresenta na verdade como a melhor decisão. Uma peça que se encontra estabilizada; perfeitamente adaptada às condições do seu meio ambiente onde “vive”; habituada a suportar as diversas amplitudes a que sempre da mesma forma, ano após ano, se foi adaptando; sujeita ciclicamente aos mesmos valores de luminosidade e de humidade, etc… o simples mudar de canto, pode sentenciar uma imagem de séculos. A melhor forma de pensar a conservação e restauro das nossas peças é pensar que estão vivas, em especial, as de origem orgânica.
Esta incerteza e incómodo, sentimo-lo muitas vezes, nós os párocos, como se nos devorasse o zelo pela nossa casa. Para Deus, o melhor, diz o nosso povo. O passado apresenta-se como uma herança riquíssima em património, o que para nós significa ao mesmo tempo, herança pesadíssima. O presente é um conflito entre um orçamento reduzido e o clamor do povo, que reclama uma intervenção urgente. O futuro impõe respeito, à medida que tomamos consciência de que mais tarde iremos ser julgados pelos vindouros das decisões acertadas ou não; decisões que foram tomadas por nós, isto é, “no tempo do padre…”. O pior de tudo isto, é quando afinal é tudo uma questão de negócio; de quem fez o melhor preço; de quem melhor nos soube fintar; de quem teve tudo de bom, menos respeito pela peça; de quem consegue o milagre do rejuvenescimento.
O IHAC (Instituto de História e Arte Cristã) nasce desta tomada de consciência de que o valor do nosso património arquidiocesano não pode continuar a ser gerido sem critérios, ao sabor de vontades. Também, não é porque se seguem as regras que se respeita o património! É por ser peça de arte que se deve continuar a ver a arte da peça; é por ser sentimento e partilha de Fé que se deve continuar ver essa expressão de fé sentida e partilhada.
Consciente do valor deste legado histórico, artístico, religioso, o Gabinete de Conservação e Restauro do IHAC está ao dispor das paróquias. Citando dos estatutos do IHAC: ”O Gabinete de Restauro da Arquidiocese não tem fins lucrativos, norteando-se pela preocupação exclusiva da preservação e requalificação do património Arquidiocesano”, importa, por isso, referir de novo que o objectivo é servir.
Este Gabinete tem as suas instalações no edifício do antigo Seminário Conciliar da rua de Santa Margarida, mais propriamente, junto ao antigo salão de jogos. Fica lançado o convite para nos visitar, e se for vontade dos arciprestes, o desafio de nos apresentarmos aos arciprestados. Fica o desafio de reflectirmos sobre o que realmente interessa no restauro: dar vida às obras de arte, dar vida aos legados da fé.
Pe. Correia
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