Arquidiocese de Braga -

4 janeiro 2014

O SONHO DA COMUNHÃO ACTIVA

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Discurso no encontro com o Cabido Primacial Bracarense.

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O Papa Francisco, ao “indicar caminhos para o percurso da Igreja nos próximos Anos” (EG 1), quando se refere aos Bispos diz que eles devem “favorecer sempre a comunhão missionária na sua Igreja Diocesana, segundo o ideal das primeiras comunidades cristãs, em que os crentes tinham um só coração e uma só alma (cf. Act 4, 32)”.

Construir uma Igreja Comunhão é o projeto que me apaixonou desde os primeiros anos do meu sacerdócio. A ordenação episcopal veio dar consistência a um sonho que, diariamente, procuro transformar em realidade.

O modo de o efetuar é simbolicamente apresentado pelo Santo Padre dum modo que se está a tornar, para mim, exame de consciência quotidiano. “Para isso, às vezes pôr-se-á à frente a indicar a estrada e sustenta a esperança do povo, outras vezes manter-se-á simplesmente no meio de todos com a sua proximidade simples e misericordiosa e, em certas circunstâncias, deverá caminhar atrás do povo, para ajudar aqueles que se atrasaram e sobretudo porque o próprio rebanho possui o olfato para encontrar novas estradas.”

A responsabilidade hierárquica coloca-me à frente. Todos reconhecem não ser meu gosto e, particularmente, devo aceitar uma certa incapacidade – temperamental, espiritual e intelectual – para, competentemente, exercer este ministério da autoridade episcopal. O orgulho de ser sacerdote desta estimada Arquidiocese não é suficiente e pode ser obstáculo. Sinto-me bem no meio da comunidade, sendo um que peregrina procurando discernir as melhores opções numa proximidade que não me diminui mas dá alegria. Colocar-me atrás para aprender, reconhecendo a capacidade de quem vive no meio das realidades humanas e eclesiais, proporciona-me uma situação humana de realização alegre e feliz. Daí que não ousando fugir à responsabilidade que – assim o acredito – Deus me outorgou, gosto, ou procuro gostar das três atitudes, embora com uma predileção especial por aquela que me coloca no meio.

Para concretizar esta proposta, o Santo Padre torna-se concreto. “Na sua missão de promover uma comunhão dinâmica, aberta e missionária, deverá estimular e procurar o amadurecimento dos organismos de participação propostos pelo Código de Direito Canónico e de outras formas de diálogo pastoral, com o desejo de ouvir a todos, e não apenas alguns sempre prontos a lisonjeá-lo. Mas o objetivo destes processos participativos não há de ser principalmente a organização eclesial, mas o sonho missionário de chegar a todos” (E.G. 31).

Antes de sublinhar algumas palavras deste texto recordo que a Conferência Episcopal Portuguesa confiou aos Cabidos das Dioceses “as funções que por direito competem ao Colégio de Consultores” que, de harmonia com o Cân. 502, proporciona uma assistência ao Bispo de forma continuada, necessária e estável e, algumas vezes, duma forma vinculante.

  Agradecendo, neste início de ano, uma corresponsabilidade construída, renovo o pedido duma construção efetiva duma comunhão dinâmica, aberta e missionária. Três palavras, uma infinidade de oportunidades para lhes dar conteúdo em ordem a uma verdadeira efetivação. O meu desejo foi sempre ouvir a todos e não procuro lisonjas de ninguém. A hora atual é desafiante. Não vivemos para conservar a memória duma Arquidiocese multisecular cuja história nos orgulha. A missão está aí à procura de estradas novas e não pode ser sonhada e, particularmente, realizada só por alguns. Conservar instituições que tornam a Igreja uma “organização” com organigramas bem elaborados, com história ou de recente constituição, não concretiza sonhos e, muito menos, um projeto de Igreja para estes tempos.

  A gratidão por este encontro torna-se, deste modo, prece para que assumamos, com coragem, a responsabilidade alegre de ser Igreja que anuncia a Alegria do Evangelho.

Jorge Ortiga, A.P.

Paço Episcopal, 4 de Janeiro de 2014.