Arquidiocese de Braga -

29 março 2024

As sete palavras de Jesus na Cruz

Fotografia

Ofício de Laudes - Sexta-Feira Santa

\n \n

Uma enorme piedade envolve as sete últimas palavras de Jesus proferidas na cruz e que são palavras da única Palavra de Vida dada na Ressurreição:

1. «Perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem» (Lc23,34)

2. «Hoje estarás comigo no Paraíso» (Lc 23,43)

3. «Mulher, eis o teu filho! Filho, eis a tua mãe!» (Jo19,26-27)

4. «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?» (Mc 15,34)

5. «Tenho sede!» (Jo 19,28)

6. «Tudo está consumado» (Jo 19,30)

7. «Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito» (Lc23,46)

A primeira e última das sete palavras dirigem-se ao Pai, bem como a quarta palavra, colocada no centro da equação setenária, como grito de abandono e de confiança.Contemplar estas palavras derradeiras juntamente com Maria, Mãe e filha da Igreja é viver o mistério da Cruz com Aquela que é Mãe e Filha do Seu próprio Filho. A via-sacra é uma expressão da piedade popular que nasceu no século XIV e continua muito bem acolhida na vida da Igreja.

Hoje, gostaria de vos convidar a sublinhar a primeira das sete palavras:

1. «Perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem» (Lc 23,34)

Lucas é o evangelista da misericórdia e do perdão. Aqui narra-se a oração de Jesus ao Pai na hora da crucificação. 

O perdão é para o futuro, não só para o que passou. O perdão não é um mero sentimento, mas uma decisão e, sobretudo, uma atitude. O perdão constitui um bem mais forte que um mal.

A atitude fundamental é: “eu quero a paz”; “eu quero perdoar”.

Na verdade, «O perdão dá a vida aos mortos e enche de beleza os feios. O perdão significa que a cruz é a nossa arvore da vida». Recomeçar sempre é o caminho feliz da vida, porque a própria vida é feita de recomeços constantes.

Precisamos de olhar para o futuro com esperança,num compromisso com uma educação integral que significa também saber formar para a justiça e a paz. É necessário ajudar as crianças, os adolescentes e os jovens a desenvolverem uma personalidade de paz, no respeito pela sacralidade da outra pessoa, com a força interior de construir o bem comum, mesmo quando isso custa sacrifício e diálogo, com a reconciliação e o perdão.

Não basta constatar, é necessário e urgente agir e dar memória ao futuro!

Os jovens não podem ficar na varanda ou à janela a olhar para a vida que passa na rua ou viver sentados num sofá ou nas bancadas. 

A paz nasce de um coração amado e perdoado. Em cada celebração manifesta-se o dom da paz e por isso na sua conclusão somos enviados em missão como edificadores da paz: «Ide em paz e o Senhor vos acompanhe».

Uma educação e uma cultura para a paz exige o perdão, como sintetizou lapidarmente o bispo anglicano Desmond Tutu: «não há paz sem perdão».

«No meio da humanidade dilacerada por divisões e discórdias, reconhecemos os sinais da vossa misericórdia, quando dobrais a dureza dos homens e os preparais para a reconciliação. Com a força do Espírito Santo moveis os corações, para que os inimigos procurem entender-se, os adversários se deem as mãos e os povos se encontrem na paz e concórdia.  Pelo poder da vossa graça, o desejo da paz põe fim à guerra, o amor vence o ódio e a vingança dá lugar ao perdão» (Oração eucarística da Reconciliação II).

 

+ José Manuel Cordeiro