Arquidiocese de Braga -

2 fevereiro 2025

Sabedoria da Esperança

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Dia da Universidade Católica Portuguesa

1.    Encontros iluminantes

A festa da Apresentação do Senhor, 40 dias após a solenidade do Natal do Senhor, celebrada em Jerusalém desde 386 e acolhida em Roma no século VII, chamava-se a festa do encontro (Ypapanté). É o encontro entre o Menino Jesus, que os seus jovens pais apresentam no Templo, e os velhos Simeão e Ana que esperavam sem descansar “a consolação de Israel”.

Maria e José, são uma família peregrina. Primeiro vão a Belém, para obedecer a um edital do imperador romano e agora vêm com Jesus a Jerusalém para cumprir a Lei do Senhor. A leitura do evangelho dá cumprimento da profecia de Malaquias que escutámos como primeira leitura, isto é, o Messias entra no templo e toma posse dele, tornando a humanidade apta para oferecer um novo tipo de culto divino.

Simeão, habitado pelo Espírito Santo, viu em Jesus “a salvação” e “luz para revelar às nações e glória de Israel”. Sim, Jesus é a luz da luz que vem ao nosso encontro. Na verdade, como escreve Erri De Luca: «Não criou o sol, o fogo, nem a lua, nem estrelas já criadas, mas deu a vista aos cegos, e este é um modo de inventar a luz».

Com a Senhora da luz, ou das candeias, recordamos o Batismo que recebemos na graça da Luz de Cristo e renovamos juntos a alegria de sermos peregrinos de esperança.

Há 800 anos São Francisco de Assis escreveu a bela e poética oração, o “cântico das criaturas” ou “Laudato Si’”, onde sublinha a sabedoria iluminante: «Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas, especialmente, o meu senhor, irmão Sol, o qual faz o dia e por ele nos alumia. E ele é belo e radiante, com grande esplendor: de ti, Altíssimo, nos dá ele a imagem».

2.    A Universidade Católica – lugar de Esperança

O dia da Universidade Católica Portuguesa assinala-se hoje com o mote: o saber como esperança. 

Aqui em Braga, também somos chamados a continuar a narrativa de uma esperança educativa com as comunidades da Faculdade de Teologia e a Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais.

Enquanto o conhecimento nos ajuda a resolver problemas e a entender o mundo, a sabedoria ensina-nos a ser pessoas. 

A UCP procura cultivar a esperança, porque ensina que as nossas ações e o nosso conhecimento podem contribuir para alcançarmos um mundo melhor. A UCP quer ultrapassar a “lógica tecnocrática que instrumentaliza”, colocando o saber ao serviço da pessoa, na esperança de transformar as pessoas e a sociedade, vencendo as desigualdades do nosso tempo (cf. Mensagem da Reitora para o dia da Universidade 2025).

O profundo compromisso da Igreja pela escola e sobretudo pela Universidade e Institutos Superiores, remonta às origens das próprias instituições, já que o seu nascimento é historicamente incompreensível sem a mediação da Igreja. Daí que a síntese entre a cultura e a fé não seja só uma exigência da cultura, mas também da fé. A Pastoral da evangelização da cultura é um dos meios que a Igreja Católica procura usar, de modo a manter uma ligação fecunda com o mundo universitário. 

Alguns desafios para a pastoral universitária foram também apontados pelo Papa Francisco, no encontro com os universitários durante a Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023, com “saudade do futuro”: estamos em caminho e chamados a algo mais, a uma descolagem sem a qual não há voo. As respostas fáceis anestesiam; procurar e a arriscar. Substituir os medos com os sonhos: «Por isso, tende a coragem de substituir os medos pelos sonhos: substituí os medos pelos sonhos, não sejais administradores de medos, mas empreendedores de sonhos!».

Temos necessidade de uma ecologia integral, escutando as necessidades do planeta juntamente com as dos pobres. O pacto educativo global convida para a educação ao acolhimento e à inclusão.

3.    Peregrinar com sabedoria

O Jubileu é uma ferramenta pastoral que que a Igreja se serve desde o ano 1300. A indulgência, que é a expressão maior de cada Ano Santo, significa o perdão ilimitado de Deus. Como recorda o Bula de promulgação deste Ano jubilar: «perdoar não muda o passado, não pode modificar o que já aconteceu; no entanto, o perdão pode-nos permitir mudar o futuro e viver de forma diferente, sem rancor, ódio e vingança».

Os exercícios ligados à indulgência plenária: a peregrinação a Roma, a peregrinação à Sé Primaz ou a um dos lugares santos indicados, os sacramentos, as obras de misericórdia, a oração, o silêncio, são caminhos de conversão e de reconciliação.

O tempo que nos toca viver, o tempo da internet e da inteligência artificial é descoordenado. Por isso, os ritos de peregrinação têm a capacidade de dar um sentido. O encontro vivo e pessoal com Jesus Cristo é fonte de esperança.

Que alfabeto e gramática devemos usar para chegar à sabedoria da Esperança?

Podemos responder com a conclusão da nota – antiqua et nova sobre a relação da inteligência artificial e a inteligência humana – um texto conjunto entre os dicastérios para a Doutrina da Fé e para a Cultura e Educação, publicada no dia 28 de janeiro, memória de São Tomás de Aquino: «na perspetiva da sabedoria, os crentes estarão em condições de agir como agentes responsáveis capazes de usar esta tecnologia para promover uma visão autêntica da pessoa humana e da sociedade, a partir de uma compreensão do progresso tecnológico como parte do desígnio de Deus para a criação: uma atividade que a humanidade é chamada a ordenar até ao Mistério Pascal de Jesus Cristo, na constante busca da Verdade e do Bem».

                        + José Manuel Cordeiro