Arquidiocese de Braga -
11 março 2025
Esperança e Sínodo são marcas de Francisco para o futuro

Vatican News - Rui Saraiva
Nos 12 anos da eleição do Papa Francisco, o seu biógrafo, Austen Ivereigh, ajuda-nos a descobrir a importância da virtude da Esperança no mundo atual e a conversão que o Sínodo propõe no caminho da Igreja
O Papa Francisco completa 12 anos de pontificado no dia 13 de março. O estado de saúde do Santo Padre que obrigou à sua hospitalização continua a preocupar e a unir os católicos em oração. Nos últimos dias o Papa regista uma “melhoria gradual e ligeira” no seu estado de saúde.
No passado dia 6 de março foi ouvida de novo a voz do Papa Francisco na Praça de S. Pedro. Foi durante a oração do Terço e na curtíssima mensagem áudio a partir do hospital o Papa agradeceu de todo o coração as orações pela sua saúde. “Que Deus vos abençoe e que a Virgem cuide de vós”, disse Francisco.
Neste momento de fragilidade do Papa e nos 12 anos da eleição de Francisco, o seu biógrafo, Austen Ivereigh, ajuda-nos a descobrir a importância da virtude da Esperança no mundo atual e a conversão que o Sínodo propõe no caminho da Igreja neste pontificado. Esperança e Sínodo são marcas de Francisco para o futuro.
Esperança é virtude em tempo de turbulência
Austen Ivereigh, autor de títulos como “Francisco, o Grande Reformador” e “O Pastor Ferido”, sublinha a oportunidade do tema Esperança no Jubileu do ano 2025, pois considera ser esta “a virtude e capacidade que mais necessitamos nesta época de muita turbulência” a nível mundial.
“A esperança é talvez a virtude e capacidade que mais necessitamos nesta época de muita turbulência. Eu não conheço ninguém que não pense que este é um tempo escuro, que tem muita similitude com a época de Pio XI que foi Papa entre 1923 e 1939, ou seja, desde o Mussolini até à Segunda Guerra Mundial. E que foi uma época dos homens fortes e do declínio da democracia liberal. E a esperança neste contexto não quer dizer que a Igreja pode mudar o cenário e que tenha o poder de evitar a guerra, por exemplo. Mas o que se pode fazer é criar uma cultura e fazer um testemunho que depois de uma guerra ou de uma época de ditadores, pode sustentar a base de uma coisa nova. Nesse sentido, criar um novo futuro é uma coisa que me tem ensinado o Papa Francisco. Criar um novo futuro e fazer as ações que podem não ter um efeito direto amanhã, mas estão alinhadas com a vontade de Deus e criam espaço para um novo futuro. E sobretudo, cuidar dos vínculos de pertença, primeiro a Deus, à Criação e os vínculos humanos, sociais, comunitários. Cuidar é em si mesmo um ato de esperança. E o Jubileu, nesse sentido, está a criar esta consciência nos fiéis”, diz Austen Ivereigh.
Sínodo é modelo de participação e diálogo
Para o biógrafo do Papa, o Sínodo é talvez “o mais importante legado” do pontificado de Francisco. “O processo eclesial mais importante depois do Concílio Vaticano II”, assinala Austen Ivereigh considerando ser “a consulta maior na história da humanidade”. “Um modelo de uma cultura de participação, de diálogo, de discernimento, de fazer decisões, que vai ser muito importante no futuro”, afirma.
“O Sínodo está em fase de receção e as várias comissões estão a estudar várias mudanças e várias possibilidades. São importantes estas comissões e acho que vão abrir novas portas. Mas o horizonte é muito maior do que as comissões. No fundo a conversão à qual nos está a chamar o Documento Final do Sínodo, é uma conversão da nossa cultura interna, a forma e o modo como fazemos sessões nas paróquias, nas dioceses, a forma como facilitamos a participação de todos, na vida e na missão da Igreja e superamos a corrupção do clericalismo e a ideia de que a Igreja tem uma classe profissional e o resto é uma casta menor, passiva. Superar estas dicotomias é muito mais importante de qualquer conclusão destas comissões. Os resultados das comissões vão facilitar a nível estrutural e legal da Igreja. Mas a leitura que eu faço de todo o processo sinodal é que tem sido o processo eclesial mais importante depois do Concílio Vaticano II e é talvez o passo mais importante na implementação do Concílio que, certamente, continua a ser a consulta maior na história da humanidade. E nesse sentido é um modelo de uma cultura de participação, de diálogo, de discernimento, de fazer decisões, que vai ser muito importante no futuro, na recuperação de uma democracia autêntica. E isto talvez vai ser o mais importante legado de Francisco que só vamos ver só daqui a muito tempo”, revela Ivereigh.
Fátima e JMJ Lisboa, lugares do pontificado
Nos 12 anos já percorridos no pontificado do Papa Francisco, Portugal foi um lugar com dupla visita e especial relação com o Santo Padre: em 2017 o centenário das aparições de Nossa Senhora em Fátima e em 2023 a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de Lisboa.
Em Fátima, pela esperança e pela paz, o Papa fez-se peregrino, foi recebido com emoção, envolveu-se no clima de oração e canonizou os pastorinhos Francisco e Jacinta.
Na Cova da Iria estiveram centenas de milhares de pessoas que fizeram do silêncio uma emoção colorida de sentimentos com as suas velas acesas, verdadeiro sinal da esperança de quem caminha com fé.
Aos peregrinos o Papa Francisco disse-lhes para serem “sentinelas da madugada” que contemplam o “verdadeiro rosto de Jesus Salvador” e, assim, descobrem “o rosto jovem e belo da Igreja, que brilha quando é missionária, acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica no amor”.
Na JMJ Lisboa 2023, “todos, todos, todos”, pode ter sido a expressão que marcou o imaginário de quem participou ou assistiu pela televisão a este grande encontro. O Santo Padre disse-a várias vezes pedindo inclusão na Igreja. “Na Igreja há lugar para todos”, disse o Papa.
O modo como decorreu a JMJ de Lisboa foi bálsamo de fé e de esperança. Os participantes chegaram inspirados pela sua fé em Jesus Cristo e convocados pelo Papa Francisco. Rumaram a Portugal vindos de mais de 180 países.
Das suas bandeiras fizeram convites à relação. Espalharam a alegria pela cidade comunicando as suas sensibilidades e tradições nacionais. Com as suas canções, danças, orações, jogos, sorrisos, lágrimas e abraços, semearam a beleza da diferença.
Eram cerca de um milhão e meio de jovens de mãos dadas, sem preocupações com hierarquias e lugares. Uma multidão acreditando na paz e na fraternidade.
Apresentaram-se sedentos de encontro, abertos ao diálogo, disponíveis para partilhar a vida na simplicidade. Nos momentos de oração e celebração revelaram-se capazes de fazer silêncio.
E neste 12º aniversário da eleição do Papa Francisco, precisamos desse silêncio, dessa paz, dessa oração para continuarmos a rezar pela saúde do Santo Padre.
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