Arquidiocese de Braga -

11 abril 2025

Senhora Mãe da esperança

Fotografia Irmandade dos Congregados

Homilia de D. José Cordeiro - Festa de Nossa Senhora das Dores, Basílica dos Congregados, 11 abril 2025

A liturgia e a piedade popular contemplam a Senhora das dores ou da soledade com a metáfora da topografia do coração trespassado. É significativo o gesto ritual que acontece especialmente aqui na Basílica dos Congregados na conclusão da celebração da vigília pascal – a coroação da imagem da Senhora das dores, retirando uma a uma as sete espadas.

A Mater dolorosa, a Mãe com a espada no coração, é o modelo da com-paixão, que é fundamental na fé cristã, isto é, um não profundo à indiferença. Com a Virgem Santa Maria, Senhora das dores podemos aprender a autêntica compaixão, a sensibilidade e proximidade face ao sofrimento alheio.

Aos pés do Crucificado, que morre pelos pecadores, ou melhor que morre no meio de dois pecadores, está a Mãe e o discípulo que Ele amava. Aos pés da cruz inicia-se, assim, deste modo surpreendentemente belo, a comunidade dos crentes, a Igreja. «Não há Maria sem Cristo, nem mariologia sem cristologia» (J. Moltmann).

Jesus não está sozinho. A Igreja nasce da cruz e nasce como família: «eis o teu filho; eis a tua mãe» (Jo19, 26-27). Claro que não se pode excluir que com estas palavras Jesus cumpre um gesto de amor filial para com a sua mãe. Todavia, a Igreja, viu nestas palavras e nestas personagens, um papel representativo: o último ato de Jesus foi um ato fundador da Igreja, na pessoa da mãe e do discípulo.

Aos pés do crucifixo, Maria aparece como a discípula perfeita e modelo de todo o discípulo. «A fé madura é aquela que sabe ver o esplendor de Deus no rosto do Crucificado» (B. Maggioni).

Não basta entender a cruz, é preciso partilhá-la. Também não é necessária outra cruz, mas a mesma cruz de Jesus. Por isso, a Igreja, ao longo dos séculos, soube adaptar esta cruz e continua a fazê-lo. Servir Jesus nas pessoas, amando-os.

As dores de Maria são enumeradas pelo número simbólico – sete dores – transmitidas pela piedade popular: a dor da profecia de Simeão, a dor da fuga para o Egipto, a dor da perda de Jesus no Templo, a dor do encontro no caminho do Calvário, a dor da morte na cruz, a dor de Jesus morto nos seus braços e a dor do sepulcro fechado.

A poesia canta o coração de Maria: «Senhora das tempestades e dos mistérios originais / quando tu chegas a terra treme do lado esquerdo» (M. Alegre).

Na verdade, «à teologia da glória está indivisivelmente ligada a teologia da cruz. Pertence ao servo de Jahvé a grande missão de ser o portador da luz de Deus para o mundo. Mas esta missão cumpre-se precisamente na escuridão da cruz» (Bento XVI).

Henri Du Lubac, no seu livro Paradoxo e mistério da Igreja, designa a espiritualidade do sábado santo nestes termos: «...Nietzsche, por um dia, teve razão: Deus morreu, o Verbo deixou de se fazer ouvir no mundo, o corpo foi enterrado e selado o sepulcro, e a alma desceu no abismo sem fundo do schéol».

A Senhora das dores e do silêncio é, por excelência, a Mãe da esperança: «Senhora de azul vestida, / da cor do mar em bonança, / se em teus braços tens a vida, / em teus olhos mora a Esperança» (P. Joaquim Alves).

Tempo de tristeza que conduz ao tempo de alegria. A devoção à Senhora das Dores desenvolve-se plenamente na piedade à Senhora dos Prazeres ou da alegria, que se pode celebrar na segunda-feira depois da Oitava da Páscoa. Embora não apareça no atual calendário próprio da Arquidiocese, aprovado em 2024, não significa que não se possa continuar a celebrar onde se considerar pastoral e espiritualmente oportuno.

A esperança, a que nos convoca este Ano Santo Jubilar, é fixar os olhos em Jesus Cristo, ressurreição e vida, que está para lá da morte. Sejamos peregrinos de esperança com Maria e, sobretudo, como Maria, que esperou contra toda a esperança.

Como posso fazer da compaixão o primeiro princípio da ação na minha vida e na vida da minha comunidade?

«À vossa proteção nos acolhemos, Santa Mãe de Deus.
Não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades,
mas livrai-nos de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita».

+ José Manuel Cordeiro