Arquidiocese de Braga -

20 maio 2025

Igreja tem papel essencial na denúncia de casos de violência sexual na sociedade

Fotografia DM

DM - Carla Esteves

Ideia foi transmitida pelo Grupo VITA, numa ação de formação dirigida a sacerdotes e diáconos da Arquidiocese de Braga

A Igreja Católica tem um papel essencial na denúncia de casos de abuso e violência sexual de crianças, jovens e adultos vulneráveis ocorridos nas mais diversas dimensões da sociedade. A ideia foi transmitida esta terça-feira, por Rute Agulhas e Ricardo Barroso, membros do Grupo VITA - Grupo de Acompanhamento das situações de abuso sexual de crianças e adultos vulneráveis no contexto da Igreja Católica em Portugal, no decorrer de uma ação de formação subordinada ao tema da prevenção da violência sexual, dirigida a sacerdotes e diáconos da Arquidiocese de Braga.

Segundo a coordenadora do Grupo Vita é «indispensável desmistificar a ideia, veiculada, de forma enviesada, de que os abusos sexuais “apenas” sucedem na Igreja, e que faz com que cada membro da Igreja tenha “uma espada em cima da cabeça”, pairando sobre ele, de imediato, a suspeição». 

«É muito injusto, tendo em conta que a maior parte das situações de abuso, de facto, não acontecem na Igreja, mas antes no seio familiar e em relações muito próximas em que a criança se encontra, como a Igreja, sim, mas também no desporto, e no mundo digital», alertou a coordenadora do Grupo Vita, Rute Agulhas, salientando que «é preciso desmistificar este tema». 

Rute Agulhas avançou que, de acordo com a estatítica mais recente da Polícia Judiciária (PJ), apresentada apenas há alguns dias atrás, o mundo digital representa 30% dos casos de violência sexual em Portugal, nos últimos anos, sendo os restantes 10% estranhos ou pessoas que a criança não conhece de forma alguma, sobrando depois o grosso dos casos (60%) ocorridos sobretudo na família e em relações de proximidade. 

Dirigindo-se aos membros da Arquidiocese de Braga presentes na ação de formação, Rute Agulhas reforçou que 90% da informação partilhada na iniciativa é transversal a todos os contextos, englobando as dinâmicas, formas de prevenir e cuidados que devem ser tidos em todos os contextos da vida da criança, incluindo um clube de futebol, uma escola ou um centro  de explicações ou ATL. 

Rute Agulhas aproveitou a oportunidade para apelar à Igreja para que assuma o seu papel enquanto denunciadora e veículo de transmissão da denúncia realizada pela criança ou jovem. 

«É muito importante que não esqueçam que são vocês, Igreja, não só padres, mas toda a comunidade da Igreja, que é, muitas vezes, o local seguro onde a vítima pede ajuda. Tenho tido muitas situações no meu consultório, em que há crianças que são abusadas pelos irmãos, pelos pais, pelos avós, enfim, num contexto de família, e que vão pedir ajuda ao dirigente dos escuteiros, ao catequista, ou seja, a pessoas em quem elas confiam e que estão, de facto, no contexto da Igreja», afirmou. 

Alertou, contudo, para a importância da Igreja  tomar todas as precauções, criando ambientes mais seguros e protetores onde as pessoas estejam capacitadas para saber ouvir e saber o que fazer e não fazer perante uma situação destas, caso sejam confrontadas com um pedido de ajuda». 

Acerca do trabalho que vem sendo desenvolvido nesta área em Portugal, Rute Agulhas considerou mesmo que «a Igreja tem dado, e continua a dar, um exemplo à sociedade civil, fazendo o que o Ministério da Educação ainda não fez, criando respostas e programas nas escolas católicas que as escolas públicas não possuem ainda». 

«Nós vamos ter, em breve, respostas e programas para as escolas católicas, que as escolas não católicas não têm. Portanto, diria também que vocês, a Igreja, estão a dar aqui um exemplo muito positivo, estão a abrir caminho e, de alguma forma, a mostrar o caminho que deve ser feito. Nós no Grupo Vita sentimos isto de forma muito clara, porque, cada vez mais, temos recebido pedidos de ajuda de entidades da sociedade civil», afirmou, apontando o exemplo de CPCJs, de Câmaras Municipais, Juntas de Freguesia,  Ordem dos Advogados e a própria Direção-Geral da Educação, que pediram ajuda para saber o que é que se deve fazer nas escolas públicas, à semelhança do que está a acontecer nas católicas.