Arquidiocese de Braga -

2 novembro 2025

Testemunhar a Esperança pascal

Fotografia DACS

Homilia do arcebispo, D. José Cordeiro, na Comemoração de todos os Fiéis Defuntos - 2 de novembro

1. Esperar a ressurreição dos mortos

«Espero a ressurreição dos mortos» professamos nós sempre que rezamos o Credo. E é com este tom de esperança que neste dia vivemos a Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos em continuidade com a celebração de ontem, a solenidade de todos os santos (as). 

Se rezamos com fé o Credo e as fórmulas de fé que o Símbolo condensa, então o horizonte da vida humana não se esgota nos parâmetros biológicos, os quais determinam que, em determinado momento, a nossa vida terá um fim. Se rezamos o Credo com fé, e o transpomos para a nossa vida, então vivemos a vida atual com os olhos postos na vida futura, à qual se tem acesso com a morte biológica. Para nós cristãos a morte não é eterna, é uma Páscoa, passagem para a vida definitiva, a vida que Deus quer partilhar e que nos está prometida desde a ressurreição de Cristo. 

Sim, «A Igreja existe para testemunhar ao mundo o acontecimento decisivo da história: a ressurreição de Jesus. O Ressuscitado traz a paz ao mundo e dá-nos o dom do seu Espírito. Cristo vivo é a fonte da verdadeira liberdade, o fundamento da esperança que não engana, a revelação do verdadeiro rosto de Deus e o destino último do homem» (documento final n. 14).

2. Jesus Cristo, vencedor da morte

As leituras que hoje proclamamos acentuam ainda mais o horizonte de esperança com o qual devemos viver este dia de Fiéis Defuntos. Isaías, na primeira leitura, disse-nos: «o Senhor do Universo há de preparar para todos os povos um banquete de manjares suculentos. Sobre este monte, há de tirar o véu que cobria todos os povos, o pano que envolvia todas as nações; Ele destruirá a morte para sempre». Por seu lado, Paulo escreveu: «Se acreditamos que Jesus morreu e ressuscitou, do mesmo modo, Deus levará com Jesus os que em Jesus tiverem morrido». 

Desse modo, não vivemos como os que “não tem esperança”, porque acreditamos que a morte não tem a última palavra e não é o fim. Isto não significa que este dia não nos traga a saudade daqueles que nos foram queridos; que não nos traga a dor por alguém com quem já não podemos conviver, porque a esperança na ressurreição dos mortos não é um anestésico que nos deixa atordoados e incapazes de perceber com claridade o que acontece à nossa volta. A esperança permite que não entremos em desespero, fazendo-nos atravessar a dor, acompanhados por Cristo, o vencedor da morte.

3. Partir o pão, remédio de imortalidade

E somos acompanhados por Cristo, porque Dele nos alimentamos na Eucaristia, o “banquete de manjares suculentos” preparado pelo Senhor. 

«Se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós». Cristo é viático, é pão para o caminho, atravessando connosco os vales tenebrosos, quer sejam os vales do luto e da saudade, quer sejam os vales da própria morte de onde Ele nos resgata. 

A grande Tradição da Igreja ensina-nos: «Reuni-vos todos, em particular e em comum, na graça e na única fé em Jesus Cristo, descendente de David segundo a carne, filho do homem e filho de Deus, para obedecerdes em harmonia de sentimentos ao bispo e ao presbitério, partindo o mesmo pão, que é remédio de imortalidade, antídoto para não morrermos, mas nos faz viver, em Jesus Cristo, para sempre» (S. Inácio de Antioquia, Carta aos Efésios 20, 2). 

Que a vivência deste Ano jubilar, que procura reabrir em nós a fonte da esperança seja também oportunidade para dar à morte o seu verdadeiro lugar na nossa vida: porta que se abre para a vida eterna após a peregrinação neste mundo. 

Santo Agostinho conforta-nos no caminho de Páscoa e no sufrágio de todos os fiéis defuntos, lembrando aqui especialmente os pastores da nossa amada Arquidiocese e os capitulares da Sé Primaz, ao registar: «O Filho de Deus desceu do céu, morreu e, por sua morte, livrou-nos da morte; morto pela morte, matou a morte».

Na verdade, a Liturgia da Igreja, na oração de sufrágio pelos defuntos, implora a vida eterna não só para os seus fiéis, mas também por todos os defuntos, cuja fé só Deus conheceu: «Lembrai-Vos também dos nossos irmãos que adormeceram na paz de Cristo e de todos os defuntos cuja fé só Vós conhecestes» (Oração Eucarística IV).

 

 

+ José Manuel Cordeiro