Arquidiocese de Braga -
7 novembro 2025
“Jardim da Esperança - O sim criativo”
Mensagem dos bispos para o tempo de Advento-Natal
Amados irmãos e irmãs da Arquidiocese de Braga,
Neste tempo de Advento e Natal, caminhando juntos, somos convidados a entrar no “Jardim da Esperança” que Deus planta silenciosamente no coração do mundo.
Advento é novamente oportunidade para sermos boa terra onde a sementeira discreta, quase impercetível, lançada por Deus, há de germinar.
1. O “sim” criativo que transforma o mundo
A história da salvação inteira avança graças a “sins” criativos.
O“sim” de Maria, pronunciado numa pequena casa de Nazaré, foi terreno onde germinou a maior esperança que o mundo já conheceu. Ela não compreendia tudo, mas confiou, arriscou, deixou-se surpreender: “Deus ama surpreender; quem não se deixa surpreender bloqueia o Espírito” (Papa Francisco, Homilia, 08 de maio de 2018).
Também hoje precisamos deste “sim” ousado e confiante: nas famílias, no trabalho, nas comunidades, e nas decisões silenciosas que moldam a vida de cada dia. Um “sim” que acredita que, mesmo no meio da incerteza, Deus continua a semear.
Segundo o filósofo Byung-Chul Han, a esperança parece frágil. Ele lembra que vivemos tempos de fadiga e dispersão, marcados pela aceleração e pelo cansaço, onde “já não habitamos o tempo; corremos atrás dele”. É precisamente aí que o testemunho cristão ganha força: quando ousamos dizer “sim” à vida, à fé e aos outros, apesar da fadiga ou do medo. A verdadeira criatividade nasce quando o amor procura caminhos onde antes só víamos obstáculos.
2. A semente lançada à terra pode parecer pequena — mas sempre germina
No Evangelho, Jesus recorda-nos: “Se o grão de trigo não cair na terra e morrer, fica só; mas se morrer, dá muito fruto” (Jo 12, 24). Assim acontece connosco: cada reconciliação, cada palavra amiga, cada cuidado oferecido em silêncio é uma semente que Deus faz germinar.
O Natal é exatamente isso: Deus a semear de novo. Semeia paz onde há divisão. Semeia alegria onde há cansaço. Semeia justiça onde há indiferença. Semeia fraternidade num mundo que tantas vezes se fecha. Semeia esperança mesmo no mais rigoroso dos invernos... Tudo isso são sementes. E Deus nunca deixa de as semear em nós.
Nenhum gesto de amor se perde. Nenhuma obra de justiça fica estéril. Nenhuma renúncia generosa deixa de produzir frutos.
3. O Natal: tempo de nova sementeira
Viver o Advento é deixar-se cultivar pela ternura de Deus. Celebrar o Natal é acreditar que, de novo, Deus semeia a sua Palavra na humanidade inteira. Ele não desiste de nós. Ele não se cansa. Ele recomeça. E pede- nos que recomecemos com Ele.
Nas nossas famílias — verdadeiros “jardins de esperança” — somos chamados a semear e a cultivar a beleza que salva o mundo:
- a alegria que se partilha, mesmo quando os dias são difíceis;
- a justiça que começa em casa, na forma como tratamos quem vive connosco;
- a paz que nasce de conversas serenas e da capacidade de escutar;
- a solidariedade que nos faz olhar para além das paredes do nosso lar;
- a fraternidade que nos recorda que ninguém se salva sozinho.
Neste Advento, vamos, então, aceitar o convite para abandonar palavras vazias, de circunstância e vamos abraçar atitudes concretas de forma ativa e criativa. Talvez seja telefonar àquela pessoa de quem nos afastámos. Talvez seja passar menos tempo diante dos ecrãs e mais tempo diante das pessoas. Talvez seja guardar tempo para a oração e para a contemplação. Talvez seja transformar a mesa de Natal num lugar onde cada um é reconhecido e amado, desde a criança ao mais idoso, desde o familiar mais próximo ao vizinho que vive só.
O Papa Leão XIV diz: “Efetivamente, todaarenovação eclesial sempre teve entre as suas prioridades esta atenção preferencial pelos pobres, que se diferencia, tanto nas motivações como no estilo, da atividade de qualquer outra organização humanitária” (Dilexi te, 103). O Natal lembra-nos esse amor primeiro e convida-nos a responder com gestos simples, mas cheios de verdade.
4. Horizonte: alegria que floresce, esperança que não morre
Queridos irmãos e irmãs, neste Natal, deixai que o Senhor semeie no vosso coração um jardim de esperança viva. Não permitais que a indiferença, a pressa, o medo ou o cansaço vos roubem a capacidade de vos maravilhar.Cristo nasce no silêncio da noite para dizer que a luz é mais forte do que qualquer escuridão. Nasce pobre para nos enriquecer com a simplicidade e a beleza do amor. Nasce como criança para nos recordar que a esperança é sempre mais jovem do que nós.
Que cada cristão, cada família, cada comunidade da nossa Arquidiocese viva este Natal com alegria renovada, com criatividade amorosa e com esperança perseverante. Que cada um seja terra boa onde Deus possa plantar sementes de vida nova.
Um santo e fecundo Natal para todos. O Senhor vos abençoe e vos guarde.
D. José Cordeiro, Arcebispo Metropolita
D. Delfim Gomes, Bispo Auxiliar
D. Nélio Pita, Bispo Auxiliar
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