Arquidiocese de Braga -

5 dezembro 2025

S. Geraldo, servidor criativo do Evangelho

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Homilia o arcebispo, D. José Cordeiro, no dia do Padroeiro da cidade de Braga - 5 de dezembro de 2025

1. Acolher e integrar

Celebramos S. Geraldo, padroeiro da cidade de Braga e arcebispo primaz, cujo episcopado constitui um marco na história da Arquidiocese e da cidade de Braga. S. Geraldo marcou o seu tempo através das reformas por ele promovidas e pela sua entrega à missão criativa de comunicar o Evangelho, mesmo quando as forças físicas já lhe faltavam, tornando-se, assim, exemplo de fidelidade e amor a Jesus Cristo em todas as circunstâncias da vida. 

Na Carta das Religiões. Locais de culto em Braga, recentemente publicada e apresentada pelo Município bracarense, afirma-se: “Braga revela hoje uma face mais plural e multicultural no domínio religioso, reflexo dos tempos atuais e das novas formas de pertença e convivência social”. Esta transformação, notada sobretudo no aumento do número de cristãos pertencentes a comunidades protestantes ou evangélicas, acentuou-se sobretudo nos últimos anos, resultando dos fluxos migratórios recentes. 

A mesma Carta mostra que a pertença à Igreja Católica é maioritária, destacando-se a ação social prestada pela Igreja Católica, a qual tem “grande relevância e impacto na cidade”, percebendo-se igualmente que não há conflitos entre as comunidades maioritárias – católicas e protestantes/evangélicas – sinal da boa integração daqueles que chegam à nossa cidade. 

As comunidades cristãs, nomeadamente as paróquias, devem ser o rosto de uma Igreja acolhedora, samaritana, sinodal e missionária. As equipas de acolhimento criadas durante a pandemia de Covid-19 são sinal desta Igreja que cuida o acolhimento de todos. Em algumas paróquias, estas equipas mantiveram-se ativas mesmo depois da pandemia, promovendo não só o acolhimento dos fiéis para as celebrações litúrgicas, mas também a hospitalidade para com aqueles, portugueses ou migrantes, que andam em busca de lugares e comunidades para celebrar a sua fé.

2. Escutar e acompanhar 

Sabemos que o tesouro da nossa fé, é um tesouro que se transporta em “vasos de barro (...) para que se conheça que um poder tão sublime vem de Deus e não de nós” (2Cor 4, 7), por isso, é fundamental estarmos vigilantes e atentos, de modo a reconhecermos os sinais que o Senhor nos dá da sua presença e da sua vinda até nós, e que podem surgir nos locais e nas pessoas de quem menos esperamos. 

Ao contrário do que à partida se poderia esperar, a geração jovem adulta está desperta para as questões da fé, tal como mostra o relatório “Escutar para Acompanhar: um olhar pastoral sobre a geração jovem adulta” resultante de um estudo levado a cabo pela Companhia de Jesus. As conclusões pedem uma Igreja capaz de escutar, acolher e acompanhar com autenticidade, desenvolvendo novos modos de presença junto destas pessoas.  

Precisamos de redescobrir o dom da escuta. Onde for possível, criem-se centros de escuta e acompanhamento. Escutar a Palavra, escutar os outros, escutar o grito dos que sofrem e a sabedoria que brota mesmo fora das fronteiras visíveis da Igreja, tudo isto é Evangelho em renovação. Nos serviços arquidiocesanos de Braga funciona um centro de escuta e acompanhamento espiritual. No ano de 2024 foram escutadas e acompanhadas 592 pessoas provenientes dos nossos 13 arciprestados.

3. Servir e acolher a todos

Assim sendo, a disponibilidade para estar ao serviço do outro e o testemunho coerente que cada um de nós der da sua fé serão sempre fatores muito importantes para a transmissão dessa mesma fé. Dos primeiros cristãos dizia-se “vede como eles se amam” (Tertuliano). O modo como as comunidades cristãs viviam, levava a que os ditos pagãos olhassem para elas com deslumbramento, dada a sua capacidade para acolher, respeitar e cuidar uns dos outros, sendo o amor mútuo a marca mais distintiva dos discípulos de Cristo. 

A variedade de “oferta” religiosa que marca cada vez mais a nossa cidade de Braga, e os desafios que as gerações mais novas nos colocam, mais do que intimidar-nos, devem interpelar-nos, de diversos modos. 

Mas, sobretudo, deve-nos fazer colocar algumas questões: que testemunho de fé estou a dar aos outros? O que estou disposto a fazer para aprofundar a fé? De que modo poderei tornar-me cada vez mais próximo do outro, acolhendo-o e escutando-o para melhor responder às suas necessidades? 

Quando se decide renovar, no início, há uma sensação de insegurança causada pelas mudanças que o novo traz. Todavia, na vida pastoral e espiritual não pode haver temor: «faço novas todas as coisas» (Ap 21, 5). Deus é a novidade perene.

Um jovem da nossa Arquidiocese, o venerável Bernardo de Vasconcelos, OSB, (1902-1932), quis seguir o mesmo caminho religioso de São Geraldo, perguntava: «conheces a “vida viva” / que nem a morte cativa?», para depois confessar na hora da morte – isto é, na conclusão terrena do caminho de Páscoa –: «Jesus, Jesus, sou todo de Jesus». Todos os dias são dias de Páscoa e neles somos chamados a testemunhar o Evangelho.

O coração inquieto é a raiz desta peregrinação de Páscoa.

 

+ José Manuel Cordeiro