Arquidiocese de Braga -
8 dezembro 2016
Salama! Aqui… haverá outro cheiro a Natal
CMAB
Davide Duarte, Margarida Carvalho e Jorge Vilaça | Comunidade Salama! Cooperação Missionária Braga-Pemba
Passaram-se já mais de quatro meses desde que a equipa missionária de Braga aterrou em Pemba, Moçambique. Passou mais de um mês desde a nossa permanência na Missão de Sta. Cecília de Ocua, local para onde fomos enviados. Foi no dia Mundial das Missões que celebramos a nossa primeira Eucaristia com todos os representantes das comunidades e paroquianos presentes. A partir desse momento iniciamos um tempo de descoberta, encontro e proximidade com todos aqueles que esperavam a chegada dos novos missionários.
Com a chegada do tempo do Advento a Igreja iniciou um novo ano litúrgico. Assim, na paróquia de Sta. Cecília de Ocua, propomo-nos preparar e esperar a vinda de Jesus Cristo na vida concreta de cada um de nós. É um tempo para tentarmos que se contagie o sentimento de esperança de que Jesus possa nascer em cada um de nós, criando mais espaço para a solidariedade, verdade, paz e comunhão, nas nossas vidas.
Foi diferente a vivência deste tempo que antecedeu o início do Advento, pois habituamo-nos a um ambiente criado pelo comércio, com alguns sinais que nos fazem, mais facilmente, aperceber da proximidade do tempo Natalício! Acostumamo-nos a receber dos meios de comunicação, ou até nas redes sociais, um crescente número de anúncios publicitários ou notícias sobre as maiores árvores luminosas que adornam e iluminam as cidades do País! As montras das lojas enchem-se de estrelas, sininhos, bolas coloridas, ou imitações de neve. Nas cidades e shoppings ouvem-se músicas emblemáticas do Natal. Todo este clima sugestivo e bonito desperta em nós a nostalgia da nossa infância. Tudo isto já se enraizou de tal forma que nem nos deixa espaço para imaginar como seria viver este tempo na ausência destes sinais! Contudo, é na ausência deles que nos questionamos sobre a sua importância…
Aqui, na paróquia de Sta. Cecília de Ocua, não encontramos árvores de natal, luzes pisca-pisca, bonecos do pai Natal pendurados nas chaminés das casas. Não há mercadinhos tradicionais de objetos ou doces natalícios. Até o próprio calor que se faz sentir leva-nos a imaginar que continuamos no mês quente de agosto, estando ainda longe do tempo Natalício!
Aqui, as preocupações para a vivência deste tempo são bem diferentes das que estamos acostumados a viver do outro lado do Atlântico. Apesar de se aproximar o tempo das chuvas, onde não se poderão continuar os trabalhos nas machambas (hortas), e onde muitos nem poderão sair da própria comunidade por causa dos caminhos intransitáveis, as preocupações não são muito diferentes das que existem durante o resto do ano. Aqui, onde provavelmente as crianças nunca ouviram falar do Pai-Natal, não existem moradas nem carteiros para fazerem chegar as cartas de Natal. Contudo, vemos todos os dias as crianças a brincar na rua, à sombra das mangueiras, enquanto esperam que um vento especial faça cair mangas para as poderem comer ou levar para casa. Aqui, não encontramos ninguém a fazer uma lista de prendas. Mas vemos mulheres, com os filhos pendurados por uma capulana, a carregar baldes de água sobre a cabeça para suas casas. Aqui, não encontramos ninguém preocupado com o menu para a ceia de Natal da sua família. Mas vemos homens a ir ao mato cortar lenha para o lume, para poderem cozinhar.
É neste ambiente que também nós queremos viver este tempo Natalício. Até podemos colocar algumas luzes no exterior da casa, ou improvisar uma árvore de Natal. Mas será isso fundamental para que se crie um ambiente natalício, em Ocua? Estamos certos que novos sinais irão surgir neste Advento. Aqui… haverá outro cheiro a Natal.
Artigo publicado no Suplemento Igreja Viva de 08 de dezembro de 2016.
Partilhar