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8 Dez 2017
Maria, estímulo à esperança
Homilia na Solenidade da Imaculada Conceição
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“Cantai ao Senhor um cântico novo: o Senhor fez maravilhas” (Slm 98,1.2). É com a força e a alegria do Salmo 98 que damos graças a Deus no dia em que celebramos a Solenidade da Imaculada Conceição. O Senhor fez maravilhas em Maria e, por ela, deu-nos “a conhecer a salvação”. A salvação de Deus, como nos recorda o salmista, tem traços de bondade, de fidelidade e de alegria. É também com a maior alegria que nos reunimos em comunidade e família nesta capela dedicada à Imaculada.

Como sabemos, nenhum edifício, em si mesmo, é imaculado. Ao dedicarmos esta capela à Imaculada estamos a reconhecer em Maria uma fiel que nos educa na fé, uma mãe que nos abraça e uma crente que connosco reza. Olhando para esta antiga imagem de Nossa Senhora dizemos, com verdade, que estamos na capela da Imaculada. Com razão ensinava-nos Hipólito que “a arca, que foi feita de madeira incorruptível, era o Senhor. O Senhor não tinha pecado, porque em sua humanidade Ele foi formado a partir da madeira incorruptível, ou seja, da Virgem e do Espírito Santo, forrada dentro e fora como com o ouro mais puro da Palavra de Deus” (Hipólito, Comentário ao Salmo 22).

É neste espaço sagrado, e alimentados pela Palavra de Deus, que um tempo novo agora se abre diante de nós. Um tempo de expectativa, de paz, de confiança. Um tempo de esperança. Toda a esperança é fundada em Cristo, como recorda Paulo ao Colossenses: “Cristo entre vós, a esperança da glória” (Col 1,27). E foi precisamente Maria, a Imaculada, ao viver na esperança de Cristo que nos introduziu e nos abriu o caminho do seu filho. É tocante escutar num antigo hino do IX século a evocação mariana “Ave maris stella”, isto é, “Ave, estrela do mar”. A vida é um caminho, uma estrada que percorremos enquanto peregrinos até chegarmos à meta definitiva, que é Cristo, e na qual somos guiados pelo Espírito Santo com a protecção da comunidade dos santos. Nem sempre este caminho é límpido. Parece-nos até, por vezes, que estamos em mares agitados, navegando por águas agitadas. E, todavia, nunca estamos sós. Maria é a estrela do mar, ou seja, a estrela que reflecte a luz de Cristo e que nos  vai acompanhando até chegarmos a um porto seguro. Não é este o papel de uma mãe? Acompanhar, educar, proteger e, ao mesmo tempo, dar espaço para que o filho cresça e seja capaz de enfrentar as intempéries do mar numa atitude de permanente esperança? 

Neste dia da Imaculada, tomemos consciência de que o mundo sem esperança é um mundo sem luz, onde todos navegam na escuridão. José Saramago dizia que “a cegueira também é isso, viver num mundo no qual a esperança acabou”. Face a esta certeza, podemos formular duas atitudes para a nossa vida: a esperança é dom e responsabilidade. Enquanto dom, ela é oferecida por Cristo e o cristão vive em atitude de gratidão. Mas é também, e sobretudo, responsabilidade. Temos a obrigação de apresentar ao mundo as razões da nossa esperança (1 Pe 3,15). A esperança tem um potencial extraordinário porque é simultaneamente humanizadora e libertadora. Concede-nos a força interior necessária à construção de um modo novo, um mundo mais humano e justo. Desengane-se quem olha para a esperança como uma espécie de tranquilizante da consciência. Sendo uma virtude teologal, ela compromete-nos e interpela-nos perante situações que tornam o mundo quase inabitável. Maria, no “faça-se em mim segundo a tua palavra”, acolheu o dom de Deus e assumiu a responsabilidade de ser parte activa na transformação da realidade.

Aproveito esta ocasião para saudar os pais e familiares dos nossos seminaristas. É com alegria que, uma vez mais, nos encontramos neste ambiente familiar às portas do Natal. Nem eu nem a equipa formadora somos pais dos vossos filhos. Mas é com o mesmo espírito de paternidade que os acolhemos e acompanhamos. Queremos ser, como Maria, uma estrela que os conduz neste tempo de discernimento vocacional. É um tempo precioso, único nas suas vidas, e por isso assumimos com sentido de responsabilidade este voto de confiança que em nós depositaram. A vossa confiança é, para nós, um sinal de esperança. O seminário é um tempo e um espaço que Deus concede aos vossos filhos para discernirem a sua vocação e escutarem a voz de Deus livre de interferências. É um tempo para Deus, para crescerem na fé, para crescerem na formação teológica, nas relações humanas e na vida da diocese. É grande a alegria de trabalhar convosco para que os vossos filhos se encontrem com Cristo e o seu projecto vocacional de serviço na Igreja seja para o bem do mundo. Que a Imaculada nos conceda o dom de construirmos família e de acreditarmos que a entrega ao sacerdócio é experiência de verdadeira felicidade. 

Neste dia do Padroeiro, quero, também, dizer a vós seminaristas que o caminho do discipulado tem tanto de fascinante quanto de exigente. A primeira discípula de Cristo foi Maria. Desde o sim inicial no dia da anunciação até ao sim no dia da crucifixão, o coração de Maria esteve sempre em sintonia com o Senhor. Como sabemos, não há unidade sem sintonia de espíritos. Disso nos fala o Evangelho quando faz memória das palavras de Maria “faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). É o sim de Maria que abre a esperança de Cristo. Dócil ao Espírito, na escuta e no silêncio, Maria cresceu em graça e sabedoria. Cresceu como mulher e como discípula do seu próprio filho. Segui o seu exemplo e apostai numa séria experiência de discipulado. Trabalhai na necessidade de um encontro com Cristo, capaz de vos apaixonar por uma doação à Igreja Arquidiocesana que necessita de todos e de cada um e que vos garante que, na unidade eclesial, tereis um futuro de realização humana. Não duvideis nem tenhais medo. Vale a pena!

Neste dia em que acolhemos Maria Imaculada como a principal padroeira da Arquidiocese, ouso deixar um pedido. Crescer na esperança e na fé é o que gostaríamos de propor a toda a Arquidiocese de Braga neste triénio pastoral. Sugerimos, neste sentido, que se criassem “Grupos Semeadores de Esperança”. Pequenos grupos informais, domésticos, onde as pessoas se reúnem nas próprias casas à volta da Palavra de Deus. A metodologia dos pequenos grupos é importante porque nos concede espaço para falarmos, para partilharmos a nossa fé e, sem receios, mostrarmos quem somos. Seria bonito se os pais e familiares dos nossos seminaristas pudessem também constituir um pequeno grupo semeador da esperança. Ao fazerem isso, estariam a fazer a experiência, à imagem dos filhos, do discipulado de Cristo, de pensar a vida segundo os critérios de Cristo. Também vós seminaristas, de um modo espontâneo, podeis pegar nos subsídios que estão a ser usados pelos grupos. Entrai em sintonia com a Arquidiocese.

A Imaculada Conceição desperta em todos nós a convicção de que importa trabalhar o encontro com Cristo. Só a partir dele se vivencia a esperança e nos tornamos instrumentos de esperança neste mundo que procura um rumo e que parece não conseguir encontrá-lo.

† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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