Arquidiocese de Braga -

28 março 2014

VIANA DESEJA CANONIZAÇÃO DE FREI BARTOLOMEU DOS MÁRTIRES

Fotografia

O bispo da Diocese de Viana do Castelo assumiu, ontem, o «desejo» de ver canonizado o beato Frei Bartolomeu dos Mártires. A aspiração foi formulada no arranque do ano jubilar das comemorações dos 500 anos do nascimento do “santo do povo”.

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O bispo da Diocese de Viana do Castelo assumiu, ontem, o «desejo» de ver canonizado o beato Frei Bartolomeu dos Mártires. A aspiração foi formulada no arranque do ano jubilar das comemorações dos 500 anos do nascimento do “santo do povo”.

«Gostaríamos que ele fosse reconhecido como santo por toda a Igreja. Aqui já é santo, aliás desde que ele morreu que lhe chamavam “santo arcebispo [de Braga]” e ao povo ninguém lhe tira isso. Se a Igreja ouvisse a voz do povo, se calhar, já o teria canonizado», formulou, ontem, o bispo de Viana, D. Anacleto Oliveira. O «desejo» foi expresso pelo bispo de Viana do Castelo durante a sessão de apresentação do programa das comemorações dos 500 anos do nascimento do beato Frei Bartolomeu dos Mártires (maio de 1514).

As comemorações do ano jubilar dos 500 anos de nascimento do beato Frei Bartolomeu dos Mártires arrancam a 3 de maio e prolongam-se até 18 de julho de 2015. Durante este período, as suas relíquias, depositadas na igreja de São Domingos, em Viana do Castelo, vão percorrer todas as paróquias dos dez concelhos da diocese. Também vão realizar-se peregrinações desde outras dioceses, para «promover o mais possível o culto».

Este é precisamente um dos requisitos do processo de canonização, «ser reconhecido como modelo de vida e orientação para a Igreja universal», assim como o reconhecimento de uma «graça com caráter miraculoso por sua intercessão», explicou o bispo de Viana. 

«O processo de canonização, na prática, está completo, entregue em Roma e não há mais nada a acrescentar», apontou D. Anacleto Oliveira, referindo-se ao processo de beatificação anterior. Por isso, agora impõe-se que o beato seja «personalidade de culto o mais alargado possível». Daí aquele périplo das suas relíquias, que começarão por ser transportadas em procissão para a Sé de Viana, por todos os concelhos da diocese. «Queremos dá-lo a conhecer a todas as pessoas, a todos os cristãos, para já da diocese, mas lançar também o repto para que outras dioceses façam peregrinações a S. Domingos», sustentou.

Dando expressão nacional àquelas comemorações, será publicada uma nota pastoral pela Conferência Episcopal, muito provavelmente no dia do arranque do ano jubilar. «É mais um contributo importante para que o beato Frei Bartolomeu dos Mártires se torne cada vez mais conhecido, venerado e a quem as pessoas recorrem para obter as suas graças por parte de Deus», valorizou o prelado. 

Frei Bartolomeu dos Mártires foi arcebispo de Braga e a sua beatificação aconteceu com o Papa João Paulo II, em 2001. Desde essa altura que a Igreja Católica dedica o dia 18 de julho ao seu culto. Em Viana do Castelo, cidade a que está intimamente ligado, ficou conhecido por ter mandado construir o Convento de Santa Cruz – depois designado de São Domingos, tal como a igreja contígua -, mas sobretudo pela sua dedicação aos pobres. Renunciou como arcebispo em 23 de fevereiro de 1582 e recolheu--se no convento que mandou construir em Viana do Castelo, onde morreu a 16 de julho de 1590.

Foi sempre apelidado pelo povo como o “arcebispo santo, pai dos pobres e dos enfermos” e insistiu, em vida, na deposição dos seus restos mortais naquele convento, numa altura em que a diocese local ainda não existia, sendo liderada por Braga.

Notabilizou-se pelos contributos para o Concílio de Trento e pelos pensamentos que manteve sobre a reorganização da Igreja, nomeadamente através de reforma do clero, a «instrução e moralização» dos fiéis e com a «administração rigorosa» dos bens eclesiásticos.

O bispo de Viana do Castelo assegura que Frei Bartolomeu dos Mártires «merece ser conhecido e venerado» por todos, até mesmo declarado como «doutor da Igreja», face aos seus escritos e ensinamentos.

Embora considerando que «só por milagre» a canonização poderá estar concluída em 2015 – quando terminam as comemorações do ano jubilar –, D. Anacleto Oliveira admite que as «afinidades» históricas entre Frei Bartolomeu dos Mártires e o atual Papa Francisco podem contribuir para acelerar o processo. «Temos aqui o Francisco do século XVI. O Papa Francisco tem muitas, muitas, afinidades com o beato Frei Bartolomeu dos Mártires. Seria muito interessante se nós déssemos a conhecer a sua figura e obra ao Papa Francisco, porque o beato foi um precursor da sua ação», disse o bispo de Viana.  

D. Anacleto mostrou-se mesmo «convencido que se o Papa Francisco o conhecer em profundidade, dará o impulso necessário para que a canonização se realize. Temos no Vaticano pessoas muito próximas do Papa Francisco e, muito provavelmente, iremos também servir-nos disso para que Sua Santidade reconheça o beato Frei Bartolomeu dos Mártires», apontou, assumindo o desejo da canonização. «É um desejo que a gente tem e se este ano poder contribuir para isso ficaremos felizes. Sonhamos com isso», concluiu.

Em Destaque nas Festas da Sr.ª da Agonia

Entre outras iniciativas, as comemorações dos 500 anos do nascimento de Frei Bartolomeu dos Mártires estarão em destaque na Romaria d’Agonia, que se realiza em Viana do Castelo em agosto próximo.

Aquele anúncio foi feito, ontem, pelo presidente do Município de Viana, José Maria Costa, apontando que o tradicional cortejo histórico e etnográfico das festas maiores do concelho terá a figura do beato no centro. «O Dr. Francisco Sampaio, em colaboração com a Diocese, está a preparar com grande cuidado o cortejo histórico e etnográfico com uma componente da vida de Frei Bartolomeu dos Mártires», concretizou o autarca. 

Além daquele contributo para dar a conhecer o beato aos milhares que acorrem aos festejos de Viana do Castelo, o Município vai também reeditar o primeiro livro impresso em Viana do Castelo, com o apoio da autarquia de então, e que é precisamente uma Biografia de Frei Bartolomeu dos Mártires por Frei Luís de Sousa. A edilidade vai também destacar o “pai dos pobres” na sua feira medieval, feira do livro, jornadas e conferências, entre outros eventos.

Beatificado em 2001 pelo Papa João Paulo II e também lembrado pelo importante papel no Concílio de Trento, Frei Bartolomeu dos Mártires tem uma estátua de homenagem em Viana, no Largo de São Domingos. Existe ainda a rotunda Frei Bartolomeu dos Mártires e até uma Escola Básica e Secundária com o nome Frei Bartolomeu dos Mártires.

DM, 28 de Março de 2014