Arquidiocese de Braga -
19 agosto 2011
TESTEMUNHAS DE CRISTO NO MUNDO

Colaborador
Catequese de D. Jorge Ortiga aos jovens nas Jornadas Mundiais da Juventude em Madrid.
JORNADAS MUNDIAIS DA JUVENTUDE 2011
TESTEMUNHAS DE CRISTO NO MUNDO
Catequese dia 19:
Paroquia Santissimo Cristo de la Vitoria”
Quando se fala em anunciar Cristo, dá-Lo a conhecer àqueles que ainda não O conhecem, à nossa mente podem vir os países mais recentes, aqueles onde o Cristianismo chegou há pouco tempo, há quatros ou cinco séculos, ou até menos.
Mas gostava de vos convidar a olhar melhor para a realidade dos nossos países! Somos provenientes de vários lugares. Acontece que temos uma história mais ou menos cristã. O Cristianismo já se pode considerar implantado com estruturas mínimas, pelo menos na maior parte das regiões do mundo. Reparai, porém, que mesmo nas Igrejas mais antigas de Portugal, onde a fé cristã já chegou há muitos séculos, é urgente uma Nova Evangelização que, no dizer de João Paulo II, se concretiza através de um novo ardor, novos métodos e novas concretizações.
O mundo de hoje, todo ele, converteu-se numa verdadeira terra de missão. O ser humano esqueceu-se de Deus, por isso está árido e faminto de verdade e de sentido. É este o campo onde devemos semear a Palavra de Deus. Todos nós, baptizados, não apenas sacerdotes e religiosos, estamos todos convocados para a missão de anunciar Jesus Cristo, através do nosso testemunho, concretizado numa vida alegre e feliz, porque enraizada em Cristo.
Actualmente, nas palavras de Bento XVI:
«Há uma forte corrente de pensamento laicista que pretende marginalizar Deus da vida das pessoas e da sociedade, perspectivando e tentando criar um “paraíso” sem Ele. Mas a experiência ensina que o mundo sem Deus se torna um “inferno”: prevalecem os egoísmos, as divisões nas famílias, o ódio entre as pessoas e entre os povos, a falta de amor, de alegria e de esperança. Ao contrário, onde as pessoas e os povos acolhem a presença de Deus, O adoram na verdade e ouvem a Sua voz, constrói-se concretamente a civilização do amor, na qual todos são respeitados na sua dignidade, cresce a comunhão, com os frutos que ela dá. Contudo existem cristãos que se deixam seduzir pelo modo de pensar laicista, ou são atraídos por correntes religiosas que afastam da fé em Jesus Cristo. Outros, sem aderir a estas chamadas, simplesmente deixaram esmorecer a sua fé, com inevitáveis consequências negativas a nível moral» (nº 3).
Tomemos consciência dos “alertas” do Papa. Resumo: Que cada um veja a real situação: pensamento laicista a marginalizar Deus, promessa dum “paraíso” sem Deus. Mas ao lado desta corrente há pessoas que mostram o valor do Amor de Deus. Como exame de consciência, as Jornadas são para isso, somos desses ou deixamo-nos seduzir pelos enganos duma sociedade que vive como se Deus não existisse? Deixamos esmorecer a nossa fé, a sua força, vitalidade e visibilidade?
É neste mundo tão complexo que os jovens têm de ser protagonistas duma nova etapa na vida da Igreja, a que chamamos de Nova Evangelização. Cristo convida-nos a dedicarmos a nossa vida a testemunhar o Seu amor a todas as pessoas, nomeadamente e particularmente, àqueles que nos estão mais próximos. Evangelizar significa, sobretudo, revelar Cristo através das nossas palavras, mas sobretudo pelas nossas obras, pela nossa vida. Se os nossos gestos e atitudes falam de Cristo, então temos de estar também impelidos para falar explicitamente da nossa fé e a dar testemunho da Sua acção na nossa vida, sem queremos protagonismos ou louvores. É de Cristo que damos testemunho, daquilo que Ele diz e faz na vida de cada um de nós e em favor do Seu povo. Os tempos são difíceis? São os mais adequados para fazer com que a esperança que vem de Deus incida no mundo.
Permiti que vos leia um texto, um cântico, que marca a minha vida e a vida de toda a Igreja. Recitámo-lo sempre ao cair da tarde:
«A minha alma glorifica o Senhor
e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador.
Porque pôs os olhos na humildade da sua serva.
De hoje em diante, me chamarão bem-aventurada todas as gerações.
O Todo-poderoso fez em mim maravilhas.
Santo é o seu nome.
A sua misericórdia se estende de geração em geração
sobre aqueles que o temem.
Manifestou o poder do seu braço
e dispersou os soberbos.
Derrubou os poderosos de seus tronos
e exaltou os humildes.
e aos ricos despediu de mãos vazias.
lembrado da sua misericórdia,
como tinha prometido a nossos pais,
a Abraão e à sua descendência, para sempre.» (Lc 1, 46-55)
Por certo que reconheceis o texto, é o Cântico de Maria, o Magnificat!
Mas reparai o modo como Maria dá testemunho: não diz o que ela disse ou fez, antes relata o que Deus fez nela! É esta a grande lição: sermos capazes, como Maria, de cantar as maravilhas que Deus fez e faz nas nossas vidas, nas nossas comunidades. Primeiro deixar Deus fazer. Será isto que acontece quando falamos de Deus? E as actividades dos nossos grupos, movimentos? Onde colocamos o essencial: no espectáculo, na vaidade, na concorrência ou na competição?!
Somos chamados a falar explicitamente da nossa fé, a dar testemunho da acção de Deus na nossa vida. Isso pode levar a que tenhamos de mudar de atitudes e de comportamentos, na fidelidade a Deus, para mostrar o Seu rosto, agindo de acordo com a Sua Palavra (A Palavra é o Código da Vida), exercendo a caridade no mundo, sobretudo no auxílio aos mais pobres. “Disto conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes”. Só o verdadeiro amor dá testemunho de Deus.
A actualidade é de crise. Os cristãos não podem fugir à responsabilidade de responder, ver os problemas, e ter coração acolhedor. Nem sempre são necessários os discursos para testemunhar Cristo. Pessoalmente gosto do silêncio duma vida que fala pela atenção aos outros, pelo respeito aos mais velhos, pelo amor que mata a fome e é capaz de vestir os nus. Permiti uma pergunta: conheceis as pessoas da vossa rua ou lugar? Não conhecer só pelo nome, mas na realidade da sua existência. Se assim for, os jovens contribuem para uma presença real da Igreja no mundo: «vós sois o sal da terra e a luz do mundo». Escutemos o que escreveu para nós Bento XVI:
«Na história da Igreja, os santos e os mártires auriram da Cruz gloriosa de Cristo a força para serem fiéis a Deus até à doação de si mesmos; na fé encontraram a força para vencer as próprias debilidades e superar qualquer adversidade. De facto, como diz o apóstolo João, “Quem é que vence o mundo senão aquele que crê que Jesus é Filho de Deus?” (1 Jo 5, 5). E a vitória que nasce da fé é a do amor. Quantos cristãos foram e são um testemunho vivo da força da fé que se exprime na caridade; foram artífices de paz, promotores de justiça, animadores de um mundo mais humano, um mundo segundo Deus; comprometeram-se nos vários âmbitos da vida social, com competência e profissionalidade, contribuindo de modo eficaz para o bem de todos. A caridade que brota da fé levou-os a dar um testemunho muito concreto, nas acções e nas palavras: Cristo não é um bem só para nós próprios, é o bem mais precioso que temos para partilhar com os outros. Na era da globalização, sede testemunhas da esperança cristã em todo o mundo: são muitos os que desejam receber esta esperança! Diante do sepulcro do amigo Lázaro, morto havia quatro dias, Jesus, antes de o chamar de novo à vida, disse à sua irmã Marta: “Se acreditasses, verias a glória de Deus” (cf. Jo 11, 40). Também vós, se acreditardes, se souberdes viver e testemunhar a vossa fé todos os dias, tornar-vos-eis instrumentos para fazer reencontrar a outros jovens como vós o sentido e a alegria da vida, que nasce do encontro com Cristo!» (nº5).
Nestas Jornadas importa assumir a responsabilidade de ser testemunha de Cristo no mundo. Sublinho a palavra mundo. Ninguém ignora que as comunidades necessitam de ver o testemunho alegre dos jovens. É chegada a hora de sentir que somos enviados ao mundo. A nossa fé deve ser uma resposta aos problemas reais das pessoas. Não é uma mera teoria que se explica. Para poder convencer é necessário estar onde a vida corre, ou seja, na Universidade, no trabalho, na empresa, na escola, na economia, na política... É importante sair da segurança das nossas igrejas e dos centros pastorais. É fundamental ir por todo o mundo e dizer bem alto que Cristo Ressuscitado está vivo. Portugal é testemunha das Caravelas que partiam para descobrir novos mundos e para anunciar também a fé cristã. Hoje existem outras águas onde navegar.
Antes de concluir, gostaria de acrescentar duas coisas essenciais. Ser cristão exige uma escolha de Deus. Somos livres. É maravilhoso como Deus respeita a nossa liberdade. Podemos jogar a vida por muitas causas ou assistir que os outros façam a história. O jovem cristão só o é quando faz uma experiência de intimidade com Cristo. Sabe e gosta de estar com Ele. Coloca-se na Sua escola. Ouve-O. Dá-lhe crédito. É o Seu líder e Mestre.
Em segundo lugar, que esta adesão a Cristo, testemunhada na vida, não ser realiza de forma isolada. Precisamos de nos inserir sempre e cada vez mais nas nossas comunidades, nas nossas Igrejas locais, através da vida de fé em comunidade. A Igreja assiste a um novo Pentecostes. São muitos os grupos e os Movimentos. Aderi a eles. Aproveitai os seus carismas e diversidade.
Jovens, deixai-vos apaixonar por Cristo, e deixai que Ele vos abrace e acompanhe na Igreja para chegardes aos lugares mais recônditos onde é necessário anunciar o Seu amor.
ALGUMAS QUESTÕES PARA REFLECTIR
Questões para a vossa reflexão pessoal, ou em grupo, para trazer dificuldades concretas ou partilha de vida, formulando perguntas ou apresentando experiências concretas.
A fé não é consolação interior nem para uso pessoal. Cristo é o enviado do Pai. Hoje o cristão é a presença e a voz de Cristo.
- Onde está focalizado o nosso cristianismo: nos espaços eclesiais ou no mundo?
- Qual o significado e as exigências de ser testemunha de Cristo. Só a vida? Só as actividades com palavra, muito barulho, encontros fechados entre nós que nos conhecemos bem?
- Somos testemunhas de Cristo no mundo mas como Igreja. Que nos é pedido, como contributo específico, para que a Igreja seja este testemunho alegre, festivo, realizador de felicidade dum Cristo vivo e operante na história e no mundo?
TÓPICOS HOMILIA
A primeira leitura (Rm 10, 9-18) lembra-nos que se acreditarmos em Deus e professarmos a fé no Ressuscitado obtemos a salvação. Mas a salvação não é algo individualizado e intimista. Para alcançar a salvação é necessário anunciá-Lo e testemunhá-Lo. Podemos mesmo dizer que, na medida em que aceitamos a salvação oferecida por Deus, a nossa vida e as nossas palavras dão testemunho d’Ele. A fé é fogo que arde e queima. É como uma brasa colocada na mão. Tem de ser lançada fora para motivar outras.
O Evangelho (Mc 16, 15-20), que é o final do Evangelho segundo São Marcos, mostra-nos a responsabilidade de sermos continuadores da missão de Jesus Cristo: anunciar a proximidade do Reino de Deus e a salvação para toda a humanidade. Nenhum de nós se deve sentir excluído, antes incluído nesta missão de anunciar Jesus Cristo, fazendo acompanhar esse anúncio de sinais. E o grande sinal que hoje o mundo precisa é de jovens que tenham um sentido para a sua vida, que saibam onde vale a pena apostar a vida, que sejam felizes. Em poucas palavras, o que o mundo precisa é de cristãos comprometidos com Jesus Cristo.
Sejamos diferentes pela positiva. Quando era jovem, os jovens chamavam-me “sinaleiro” de Deus. Gostava deste nome novo. Sabia que não estava a pensar em mim, indicava caminho, dava segurança, dissipava dúvidas.
Que vos parece? Isto não vos dirá nada? Meditai um pouco em silêncio.
Madrid, 19 de Agosto de 2011
† Jorge ortiga, A.P.
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