Arquidiocese de Braga -

7 outubro 2012

O ADN CRISTÃO

Fotografia Colaborador

+ Jorge Ortiga, A. P.

Homilia de D. Jorge Ortiga na Eucaristia de Abertura do Ano Pastoral, na Sé Catedral de Braga.

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Caros capitulares, sacerdotes e religiosas

Estimados doentes e idosos que sois o espelho da autêntica esperança

Irmãos e irmãs na fé em Cristo Jesus



Há cerca de 50 anos, o mundo começava a pagar a fatura das consequências da II Guerra Mundial. Vivíamos o despoletar da Guerra Fria, a reconstrução da Europa, a independência das colónias africanas, as greves juvenis… E com tudo isto, o mundo acordava para um novo virar de página. Foi neste cenário e com estas exigências que, a 20 de Janeiro de 1961, o jovem Presidente dos Estados Unidos da América, John Kenedy, na sua tomada de posse, afirma: "não perguntem o que o país pode fazer por vós; perguntem antes o que vós podeis fazer pelo vosso país!"



1. Tomando estas palavras, neste dia em que iniciamos o novo Ano Pastoral, eu também afirmo: “não perguntem o que a Igreja pode fazer por vós; perguntem antes o que vós podeis fazer pela Igreja!"

De facto, no evangelho de hoje Jesus educa os seus apóstolos sobre o que eles podem fazer pelo Reino de Deus: “Quem não acolher o reino de Deus como uma criança, não entrará nele!” Ele indigna-se com os apóstolos, porque em vez de facilitarem o acesso das crianças, dos frágeis e dos desconhecidos à Sua pessoa, dificultam-no! Ele recorre às peças mais frágeis da sociedade, as crianças, para indicar o primeiro foco de atenção da comunidade: os indefesos!

Jesus prefere assim o acolher ao separar, porque se procedemos todos do mesmo Criador, como escutávamos na primeira leitura, todos fazem parte desta comunidade e todos são alvo da Salvação desejada pelo Pai (2.ª Leitura).



2. Neste sentido, a graça de um Ano da Fé concedido pelo Papa Bento XVI, com início a 11 de Outubro, apresenta como principal linha de acção pastoral a nova-evangelização, “para descobrirmos de novo a alegria de crer e reencontrar o entusiasmo de comunicar a fé.”1

Continuando a nossa peregrinação eclesial, depois duma consciencialização sobre a centralidade da palavra na vida dos cristãos e das comunidades, queremos dar início a um novo ciclo. Não se trata duma rutura como algo de novo a iniciar colocando de lado o que nos orientou. Até porque como diz S. Francisco de Assis. “Ler a Sagrada Escritura significa pedir um conselho a Cristo”.

Já envoltos na vivência da fé queremos, durante cinco anos, aprofundar os conteúdos e exigências, através duma “redescoberta da identidade cristã”. Sabemos que identidade é aquilo que carateriza uma coisa ou uma pessoa. O cristão, como tal, também tem o seu ADN.

Este é o plano para os próximos cinco anos. E hoje declaramos aberto um novo ano pastoral, colocando-nos perante todas as interpelações duma vida marcada pela fé.

Sem esquecer outros âmbitos da vida segundo a fé, este ano concentramo-nos no conhecer para professar e deixamo-nos orientar por três grandes sugestões apontadas no Programa Pastoral: o essencial da fé, ou seja, confiança pessoal e absoluta em Cristo; o Credo que professamos em variadas ocasiões e que para ser sinal da nossa identidade deve ser aprofundado nos seus conteúdos; somos crentes na Igreja que é comunidade de Cristãos. A fé não é uma aventura pessoal. Acreditando todos em Cristo encontramo-nos como irmãos ao serviço da sociedade.



3. O cinquentenário do Concílio Vaticano II, que também foi uma consequência da II Guerra Mundial, acompanha-nos neste novo ciclo. A propósito, recordo a Homilia de Paulo VI, no dia 8 de Dezembro de 1965, encerrando os trabalhos Conciliares, quando afirma: “a Igreja, reunida em Concílio, entendeu sobretudo debruçar-se sobre si mesma e sobre a relação que a une a Deus (Fé); e também sobre o homem, tal e qual ele se mostra realmente no nosso tempo: o homem que vive; o homem que se esforça por cuidar de si. (…) A Igreja declarou-se quase a escrava da humanidade.”

Sem dúvida que o homem moderno necessita de muitas coisas. A crise apenas revelou parte das suas carências. No seu íntimo a sua grande necessidade é a fé. É este o dom e serviço que os católicos podem fazer pela Igreja: testemunhar aos homens a fé em Jesus, o Cristo.1

Aqui está a identidade a descobrir ou redescobrir, a novidade a oferecer ao mundo desorientado e a felicidade de ser, num contexto diferente, discípulo de Cristo que o escolheu e amou.

Esta Abertura do Ano Pastoral acontece no dia em que, em Portugal, se encerra a Semana nacional da Educação Cristã sob o tema: “descobrir a solidez da fé: urgência e Missão”. São muitos os obstáculos à transmissão da fé e o Instrumentum Laboris do Sínodo, a decorrer em Roma e com o qual nos devemos sentir em comunhão espiritual, refere alguns problemas internos à vida da Igreja, como por exemplo: o hábito duma fé vivida em privado e dum modo passivo; a recusa em reconhecer a necessidade duma educação da fé; uma separação nítida entre a vida e a fé; e outros, provenientes de fora ao âmbito eclesial, como o consumismo, o hedonismo, a recusa de abertura à transcendência, o vazio do mundo cultural com expressões contraditórias.

Tudo isto reforça, na verdade, a urgência de educar na fé e, particularmente, uma missão a assumir por todos os membros da Igreja numa tarefa única com intérpretes diferentes.1



4. Posto isto, durante este ano ouviremos falar em inúmeras iniciativas pastorais. E cada cristão deverá delinear o seu próprio programa pastoral, de modo a redescobrir os conteúdos da fé que professa.

Por seu turno, aos movimentos e comunidades compete-lhes proporcionar subsídios e meios diversificados em âmbito paroquial, arciprestal e diocesano. Além disso, e à semelhança dos Grupos Sinodais nos anos 90, desafio à criação de “Grupos fé e Missão”, nos quais a fé seja um tema a debater entre baptizados, crentes de outras confissões e religiões, ateus e indiferentes.



Para terminar, quando vi pela primeira vez o título desta Carta Apostólica Porta Fidei, veio-me à memória aquele célebre cântico, por nós entoado inúmeras vezes: “Eu estou à porta e chamo, diz o Senhor. Se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com Ele”.

Pois bem, Cristo quer criar intimidade connosco e quando lhe abrimos a porta do coração, ele faz-nos descortinar o rosto do mundo a amar. Isto é um jogo de amor no qual vale a pena participar.

A fé é o nosso ADN! Portanto, vamos agora professa-la, celebra-la, vive-la, anuncia-la e contempla-la em qualidade. Pois esta será a melhor resposta à pergunta do Senhor, quando no fim da vida, nos disser: “Afinal, o que foi que fizeste pela minha Igreja?”