Arquidiocese de Braga -
24 julho 2023
“Barro na Minha mão” – Barro na mão de Deus

Discurso de D. Roberto Rosmaninho Mariz na sua Ordenação Episcopal
GRATIDÃO:
Primeira palavra é de gratidão.
Começo por estender o olhar para todos que aqui estão e nos acompanham à distância. Povo de Deus, Igreja em comunhão que se alicerça e consolida em Cristo, agradecendo por me acompanharem nesta celebração e oração.
Um enorme obrigado à nossa amada Arquidiocese de Braga – com todos que caminharam comigo e me fizeram caminhar na fé -, com as Comunidades e Serviços em que nasci, cresci e servi: S. Pedro de Rates da Póvoa de Varzim; Seminários; Atães, Barros, Penascais, Vilarinho em Vila Verde e Vila Verde e Loureira; Lomar e S. José de S. Lázaro (onde mais tempo fui Pároco e desempenhei a missão sacerdotal); Todas a entidades em que estive ligado a partir da missão de Ecónomo da Arquidiocese e Seminários, olhando S. Bento da Porta Aberta, do qual sou peregrino e invoco o seu amparo; estendendo o coração a toda a amplitude da Ação Social canónica e civil, e ao Cabido da Sé de Braga.
A gratidão ao nosso Arcebispo atual pela amizade e confiança e Arcebispo Emérito, Bispos Auxiliares, todo presbitério de Braga do qual me sinto parte – colegas do curso - fazemos 25 anos de Ordenação sacerdotal; e, na união da Igreja universal, ao Sr. Núncio, D. Ivo Scapolo, obrigado pelo cuidado e atenção em todo processo; na comunhão com o Santo Padre, pedindo que transmita a gratidão pela confiança agora depositada e a profunda lealdade e disponibilidade no serviço do Evangelho.
É devido o agradecimento e reconhecimento à Arquidiocese de Braga e ao Cabido pelo cuidado e brio na preparação e vivência da presente celebração.
Agradecimento a todas entidades aqui presentes: religiosas – Cardeal D. António Marto, Todos Bispos, Representantes de entidades religiosas, Igreja Ortodoxa Ucraniana, e civis (culturais, cívicas, políticas, académicas e militares), com as quais muitas e muitas vezes senti a largueza da disponibilidade para se conseguirem traçar objetivos comuns.
Por fim, porque primeiro, à família, berço do ser humano para toda a vida. Onde se nasce, se cresce e se vive. Agradecido pela proximidade física e afetiva que sempre tivemos e que nada substitui.
SACERDOTE:
A segunda palavra situa a vocação e a vida sacerdotal.
O sonho vocacional de criança e jovem que amadureceu e se comprometeu: ser Padre / Sacerdote. Ao pensar no dia da ordenação episcopal: que paramento mandar fazer? Olhei o paramento da ordenação sacerdotal, que já se perfilava para a celebração das bodas de prata (19 de julho), e pensei: é este que vou usar e não outro. Mais que por razões de economia ou de ecologia, é sentir que a raiz e alicerce do que aqui celebramos hoje está no sim da vocação sacerdotal. Foi esse sim que comprometeu os restantes sins no serviço da Igreja.
Colocamos os símbolos episcopais, olhando e enriquecendo o seu significado, mas conscientes que em torno do Altar – de Jesus – na consagração, quando esses símbolos distintivos mais estão ausentes, é quando mais nos sentimos todos na mesma condição humilde, confiante e alegre perante Deus.
MISSÃO:
A terceira situa a Ordenação em função do serviço – da missão.
A missão nasce, alimenta-se, fortalece-se e orienta-se na Palavra de Deus.
Inspirados na semente que Deus nos coloca este domingo no coração:
. Jesus no Evangelho: “semeou boa semente no seu campo”. Campo semeado pelo Senhor, consciente do joio, com a alegria para ser terra que se deixa penetrar pela semente de Deus; com o empenho de ser semeador da Boa Nova.
. S. Paulo na 2ª leitura: “O Espírito Santo vem em auxílio da nossa fraqueza”. Certo e consciente da pequenez e limitações do meu ser, inunda a convicção profunda que isto não é nosso, nem estamos sós [repetir – não é nosso… nem estamos sós].
. Na 1ª Leitura: “ensinastes ao vosso povo que: deve ser humano, marcado pela bondade; e destes a esperança feliz que perante o pecado concedeis o arrependimento e o perdão” [citação ajustada]. Semeadores humanos e da reconciliação.
MISSÃO Atual
A quarta palavra olha a missão atual: Bispo de Vita e Auxiliar da Diocese do Porto:
Vita – Vida: A vida em Abundância que é Jesus… O Senhor deseja ser torrente no coração de cada ser humano para que tenha vida, e vida em abundância. Passo a integrar a família da Diocese do Porto. Sr. D. Manuel Linda, aqui estou disponível para o serviço e para a missão com a sua Presidência, para viver a comunhão com esta nova Diocese, com todo povo de Deus e pessoas de boa vontade que se encontram na Diocese do Porto, sendo mais um a olhar para Cristo Bom Pastor e a deixar-se conduzir por Ele, com os Bispos Auxiliares do Porto, todos sacerdotes, diáconos, consagrados, religiosos. Consciente das limitações e pequenez, disponível e empenhado em conhecer, amar e servir a grande Diocese do Porto.
- Existindo muitos Santos na Diocese do Porto e muitos na Arquidiocese de Braga - a qual começa com S. Pedro de Rates, permitam-me que cite um santo destes lados: S. Bartolomeu dos Mártires, no Estímulo dos Pastores, com as quais me identifico:
. “O Bispo deve promover muito diligentemente a paz com todos os homens”.
. “Embora vejamos muitos males, não devemos desanimar; antes, pelo contrário, devemos esperar sempre o melhor”.
Desejo ardentemente, e peço a graça, de ser homem da esperança e da paz a partir de Deus. Precisamos de pessoas de esperança e paz.
- O Papa Francisco diz aos Bispos: “Deixai-vos tocar e consolar pela proximidade de Deus”. “A proximidade a Deus torna-nos profetas para o povo, capazes de semear a Palavra que salva na história ferida”.
E pede: “Rezar pelos nossos bispos (…). Não importa se são simpáticos, ou se têm habilidades nos métodos pastorais — sim, tudo isto é bom! — mas que sejam humildes, mansos, servos”.
“BARRO NA MINHA MÃO”
Finalmente, o Lema episcopal para inspirar e guiar.
Interiorizo a frase proferida por Deus ao profeta Jeremias: “Barro na Minha Mão” (Jr 18, 6). Quando o Povo se tinha transviado do caminho do Senhor, é utilizada na Sagrada Escritura, por diversas vezes, esta comparação: O barro que é trabalhado pela mão do oleiro; se a peça não está a sair bem, não deita fora, mas retoma esse barro para o moldar novamente. Deus nunca deita fora, nunca nos atira para longe… A mão de Deus nunca nos abandona, mesmo na “noite escura”; essa mão sempre nos segura, nos ampara, nos molda, nos salva. Uma mão que nos levanta, ampara e guia. Mão que molda o ser humano, mão que toca o leproso, mão que toca os olhos do cego e os ouvidos do surdo, mão que seguro Pedro para não se afogar, mão que levanta a sogra de Pedro, mão que levanta a menina falecida, mão que para o cortejo fúnebre para ressuscitar o filho, mão que abraça a Cruz para nos salvar.
Queira Deus que sejamos extensão da mão bondosa de Deus no trato de uns com os outros.
ORAÇÃO
Senhor,
A Teus pés aqui estou.
Barro moldado na existência humana,
Barro fermentado pela fé,
Barro amaciado pelo Evangelho,
Barro ferido e quebrado,
Barro partido e endurecido,
Barro nem sempre de feição fácil…
Senhor,
Mas é este barro, como todo barro humano:
Que é amado,
Que é desejado,
Que é querido,
Que não é abandonado,
Que limpas, purificas, cuidas e amparas.
Que… Por ele dás a vida.
Espanta-me, Senhor.
Não o barro, mas essa Mão.
Mão
bela,
graciosa,
bondosa,
misericordiosa,
que tanto ama este barro humano.
Mão que concede paz, esperança e serenidade.
Que barro seriamos sem essa Mão?
Simplesmente barro…pó.
Pela Vossa Mão somos barro vivente, barro amado e barro salvo.
Senhor, olhando Maria, vossa Mãe,
Barro aperfeiçoado em plenitude pela Graça,
Vejo S. José que toucou e amparou a vossa Mão e a de vossa Mãe,
Peço, com confiança de um filho, que a vossa Mão, a de Nossa Senhora e a de S. José
nunca me abandonem.
Como a Pedro, que a vossa Mão me agarre, me segure e me salve.
Amém.
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