Arquidiocese de Braga -
9 outubro 2023
"O amor de Cristo absorve-nos e impele-nos" (2 Cor 5,149

Obras Missionárias Pontifícias
Conclusões das Jornadas Missionárias decorridas em Fátima
As Jornadas Missionárias deste ano, as primeiras depois do interregno causado pela pandemia de Covid-19, e do grande acontecimento eclesial da Jornada Mundial da Juventude, Lisboa 2023, tiveram lugar em Fátima, nos dias 23-24 de setembro 2023, no Auditório da Consolata.
A partir do tema da mensagem do Papa para o Dia Mundial das Missões, “Corações ardentes, pés ao caminho” (cf. Lucas 24, 13-35), partilhámos experiências de vida e dinâmicas pastorais e missionárias que têm contribuído para dinamizar paróquias/comunidades/grupos.
As cerca de 100 pessoas presentes tiveram a oportunidade de reflectir sobre o modo como alguns leigos, religiosos e sacerdotes são missão – no voluntariado missionário em Portugal e no sul do mundo, nas periferias das nossas cidades e em situações de exclusão, como trabalham para o despertar da fé na catequese, na escola e na pastoral juvenil – e de se deixarem inspirar como discípulos missionários de Jesus.
Algumas das ideias-força que emergiram no decorrer dos trabalhos:
1. Observar e compreender a dinâmica missionária das primeiras comunidades cristãs é fundamental para orientar e fortalecer a missão da Igreja hoje, a nossa missão. Nos escritos ligados a Lucas e Paulo, que constituem mais da metade do Novo Testamento, encontramos a inquestionável centralidade de Jesus na missão dos primeiros cristãos. Com Cristo como centro, o missionário é aquele que caminha. ‘Caminhar’ e ‘caminhar com’ caracterizam todo o discípulo-missionário. Neste caminhar, é indispensável uma abertura à surpresa.
2. No Livro dos Actos dos Apóstolos, observamos como os primeiros cristãos se esforçaram para se adaptar e conectar-se o máximo possível à realidade. Neste sentido, Paulo procurou anunciar Cristo em várias Sinagogas (Act 9, 20; 13, 5; 14, 1; 17, 1-2...).
3. Ao lermos as suas próprias cartas, vemos que Paulo se apresenta como missionário de Cristo para os gentios. A ênfase numa missão colaborativa é uma constante nas suas cartas. Há muitos nomes de comunidades, famílias e pessoas que fizeram parte da rede missionária de Paulo. A memória e a imitação tornaram-se elementos essenciais na dinâmica missionária das primeiras comunidades (1 Ts 1, 6; 1 Cor 11, 1.23-26). Tal como no batimento do próprio coração (sístole e diástole), o amor de Cristo nos absorve/constrange/abraça e nos impele (2 Cor 5, 14).
4. Sente-se a necessidade de ir além da pastoral de manutenção e encontrar novos caminhos para chegar a quem está fora ou mais afastado e àqueles que, estando dentro, não fizeram verdadeiramente a experiência de Cristo. Entre outros métodos, o Projecto Alpha (https://paroquiapacodearcos.pt/projeto-alpha/) é um método de evangelização/primeiro anúncio, que ajuda as pessoas a organizar a sua vida a partir da fé e a criar uma cultura paroquial de acolhimento, comunhão, participação e missão.
5. O contributo que nos chega da missão ‘ad gentes’ – de grandes distâncias e reduzido clero – desafia-nos a mudarmos a nossa organização pastoral e a envolver mais os leigos na pastoral.
6. As periferias geográficas, socais e existenciais estão a crescer. O segredo do trabalho nos bairros degradados e nas situações de fronteira é deixar-se conduzir pelo Espírito, de modo a buscar novas formas de presença e “ser surfistas do amor nas ondas que nos desafiam”.
7. As experiências de voluntariado – testemunhado por pessoas e famílias missionárias em Portugal e no estrangeiro, que tiveram a coragem de “substituir os medos pelos sonhos”, como nos exortou o Papa Francisco durante a JMJ – fez experimentar que é mais aquilo que se recebe do que aquilo que se dá.
8. As aulas de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) são laboratórios de ecumenismo e de diálogo inter-religioso e um lugar onde os alunos podem ser eles mesmos e despertar para a fé, através do vínculo, da busca de sentido e da beleza.
9. A catequese deve transmitir a mensagem da Igreja e ajudar as crianças e adolescentes a apropriar-se dela. Por isso, é importante a ligação entre os conteúdos que se comunicam (ensino teórico) e a participação progressiva na comunidade cristã local e na sua missão, de modo que as crianças cresçam no discernimento vocacional e no discipulado missionário.
10. A pastoral juvenil deve contribuir para que os jovens cresçam na fé e na espiritualidade. Eis propostas e dinâmicas que podem ajudar a alcançar esse objectivo: testemunhos inspiradores, retiros espirituais (com novas linguagens), grupos de estudo da Bíblia, envolvimento em serviço comunitário, adoração e louvor, dinâmicas de grupo, acompanhamento e aconselhamento, missões e viagens de solidariedade, debates e discussões e celebrações e festividades. Frequentemente, porém, há uma inversão da ordem destas prioridades.
11. A missão é um dom de Deus, que descobrimos no encontro pessoal com Jesus. Sem oração não há missão. E missão é estar com as pessoas, fazer comunidade e ser testemunhas de esperança, mesmo quando não se pode fazer muito. Pelo menos, podemos dedicar-nos à “pastoral do estar e do escutar”.
12. Somos colaboradores na Missão universal que é de Deus e que Ele está a realizar na história. Cristo ressuscitado não só nos acompanha, como nos precede, de acordo com a nossa experiência missionária. Ele já está presente e activo nas pessoas e nos ambientes a quem somos enviados.
13. Em Cristo, Deus não deu uma missão à Igreja, Deus deu a Igreja à Missão, como comunidade que colabora na realização do Seu Plano para toda a Humanidade. A colaboração da Igreja na Missão de Deus é uma colaboração sinodal. Cada grupo, cada comunidade de discípulos, cada Igreja Local participa à sua maneira e segundo o seu ritmo na missão universal.
14. Os missionários e missionárias enviados ‘ad gentes’, como Barnabé e Paulo, a fundar comunidades onde o Evangelho ainda não é conhecido, devem contar com o apoio das comunidades que os enviaram. Ao regressarem, os missionários são um recurso precioso para a renovação das comunidades que os enviaram. Eles/as ajudam as comunidades a renovarem-se seguindo o ‘paradigma missionário’.
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