Arquidiocese de Braga -

Foi num clima de alegria que, na passada sexta-feira (3 de novembro), ocorreu a apresentação pública do recente livro do Pe. José Miguel Cardoso, no Espaço Vita em Braga. A obra, intitulada “Para uma escatologia sapiencial. A herança escatológica de Karl Rahner e Johann Baptist Metz”, surge no âmbito da conclusão do doutoramento em Teologia Dogmática no passado mês de junho na Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma, sob orientação do Prof. Antonio Nitrola.

A sessão começou pelas 21h15, tendo como intervenientes D. José Cordeiro, Arcebispo Metropolita de Braga, Cardeal D. António Marto, Bispo Emérito de Leiria-Fátima, o Pe. Tiago Freitas, diretor da Editora Livraria Diário do Minho, e o Pe. José Miguel, autor da obra, cuja apresentação foi orientada por Isabel Cunha. 

O Pe. Tiago Freitas apresentou a nova coleção da Editora Livraria Diário do Minho, que assume o título de “Stimulus Pastorum”, precisamente em homenagem ao Santo D. Frei Bartolomeu dos Mártires (1514-1590), o bispo bracarense que participou no Concílio de Trento (1545-1563), e que escrevera uma obra com este título precisamente para promover a formação dos clérigos quanto à sua missão pastoral. Nesta linha, esta coleção pretende publicar obras de pastores que sejam um autêntico “estímulo” à formação teológica, pastoral e espiritual do Povo de Deus.

Em seguida, ao Cardeal D. António Marto, Bispo Emérito de Leiria-Fátima, coube a apresentação da obra. Doutorado na mesma Pontifícia Universidade Gregoriana e com uma tese sobre a doutrina escatológica do Vaticano II (defendida em 1977), o antigo bispo auxiliar de Braga fez uma síntese da obra, deixando algumas chaves de leitura e acentuando as diversas pertinências da obra para a reflexão teológica atual. Mais concretamente, a releitura escatológica das obras de Karl Rahner, considerado um dos maiores teólogos do séc. XX, e do seu discípulo Johann Baptist Metz, o contributo da escatologia para a promoção da teologia diante do panorama da pós-modernidade e o aproximar o “crer na parusia” ao “viver na espera da parusia”. Ressaltou ainda a descrição detalhada das caraterísticas da experiência religiosa no contexto atual, o novo axioma teológico que o autor propõe e a proposta prática para uma vivência da fé à luz das promessas escatológicas, numa engenhosa articulação entre os conceitos de esperança e sabedoria. Curiosamente, citou ainda o recente documento do Papa Francisco, “Ad theologiam promovendam” (publicado a 1 de novembro), o qual refere precisamente a necessidade de se recuperar a dimensão sapiencial da teologia.

Por sua vez, o Padre José Miguel, que atualmente trabalha no Dicastério para a Cultura e Educação da Cúria Romana, cujo Prefeito é o português Cardeal D. José Tolentino Mendonça, agradeceu aos presentes e a tantos que caminharam com ele neste longo percurso. Na sua locução salientou ainda a importância de a teologia não se reduzir somente a uma elite cultural, sob o risco de uma asfixia gnosiológica, mas de olhar também para o panorama geral do Povo de Deus, como tem insistido o Papa Francisco. 

A encerrar o evento, D. José Cordeiro, Arcebispo Metropolita de Braga, recordou alguns momentos das aulas de escatologia com o seu antigo professor D. António Marto, evidenciou a importância da formação académica dos pastores e leigos para a vida da Arquidiocese de Braga, bem como esta nova coleção da Editora Livraria Diário do Minho a q qual permitirá enriquecer o património literário da Arquidiocese.

Entre as intervenções, o Pe. Sandro Vasconcelos, sacerdote de seis comunidades no arciprestado de Vila Verde  executou algumas das músicas do seu disco original “Olhar-Te”, cujas músicas podem também ser ouvidas no Spotify. 

A obra editada pela Editora Livraria Diário do Minho pode ser adquirida nas diversas livrarias do país, bem como pela plataforma online.

Sinopse do livro:

«O tempo é breve» (1Cor 7,29). Somos seres que vivem num “tempo finito” porque o evento da parusia decreta que há um “fim do tempo”, subjugando este mesmo tempo ao ritmo da esperança (Jesus, o Cristo), ou seja: a um pulsar escatológico que teve diversas interpretações ao longo da história da teologia. Nessa linha, a viragem escatológica do séc. XX despoletou a emergência não só de desenvolver o “jovem” tratado de escatologia, como de trazer a escatologia para o centro da teologia, tornando-se a área teológica prioritária nesta época dita pós-moderna (apresentando “Deus como futuro do humano”). Com base nisto, dois teólogos emergem como figuras preponderantes no âmbito católico desta viragem escatológica: a viragem transcendental de Karl Rahner e, na linha deste, a viragem política de Johann Baptist Metz. Olhando às caraterísticas e desafios da cultura contemporânea, a obra recolhe os contributos e indícios escatológicos destes dois autores, para depois se lançar numa proposta particular do autor, em que articula de um modo engenhosa dois conceitos teológicos: “esperança” e “sabedoria”. O intuito é o de se aproximar o “crer na parusia” ao “viver na espera da parusia”, evitando que esta espera seja apenas “intelectual” mas também “existencial”: daí a proposta de uma escatologia sapiencial, que ajude o humano pós-moderno a percorrer este caminho existencial entre o “paraíso perdido” (Gn 3,23) e a “terra prometida” (Gn 12,1).

Biografia do Pe. José Miguel Cardoso:

José Miguel Fraga Cardoso nasceu em 1986, sendo natural de São Torcato (Guimarães - Portugal), e ordenado presbítero em 2011 na Arquidiocese de Braga.

Do seu exercício pastoral, entre 2011-2014, foi responsável pelo Gabinete do Arcebispo Primaz de Braga, coordenador do Departamento Arquidiocesano para as Comunicações Sociais e formador no Seminário Menor de Braga. Entre 2014 e 2018, foi pároco no arciprestado de Fafe (Gontim, Felgueiras, Estorãos, Revelhe e S. Romão de Arões), bem como presidente do Lar de Idosos de S. Romão de Arões, instituição que acolhe e apoia idosos vulneráveis, e presidente do Lar da Criança de Revelhe, instituição que acolhe crianças e jovens em risco. Entre 2018-2023, foi enviado a prosseguir estudos eclesiásticos em Teologia Dogmática na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma (Itália). Desde 2023, trabalha no Dicastério para a Cultura e Educação da Cúria Romana (Vaticano).

Do seu exercício académico, em 2010 finalizou o “Mestrado Integrado em Teologia” na Universidade Católica Portuguesa (Braga) com uma tese intitulada «Caminhar na diferença. A diferença como categoria teológica», e em 2014 finalizou a “Licenciatura Canónica” em Teologia Pastoral com uma tese intitulada «Viver na diferença. Uma proposta face à globalização da indiferença». Mais tarde, na Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma), em 2020 finalizou a “Licenciatura Canónica em Teologia Dogmática” na Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma), com uma tese intitulada «O Ressuscitado na pós-modernidade. Interpretar a morte como lugar teológico». Em 2022, finalizou o “Diploma em Teologia Prática com especialização em Pastoral Familiar”, com uma tese intitulada «Onde está o teu filho? Para uma pedagogia quotidiana diante da crise familiar». E em 2023, finalizou o Doutoramento em Teologia Dogmática, com uma tese intitulada «Para uma escatologia sapiencial. A herança escatológica de Karl Rahner e Johann Baptist Metz».