Arquidiocese de Braga -

5 dezembro 2012

O PDM DA CARIDADE

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Homilia na eucaristia festiva de S. Geraldo.

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O PDM da caridade

Homilia na festa de São Geraldo

 

Nesta festa de S. Geraldo gostaria de colocar nesta catedral, símbolo de toda a Arquidiocese e não só da cidade de Braga, uma das ideias que o Átrio dos Gentios me deixou.

Desde o início da elaboração dos contornos desta experiência para marcar a alegria de estarmos presentes em Braga, Capital Europeia da Juventude e Guimarães, Capital Europeia da Cultura, acompanhou-me a preocupação de que não se tratasse dum evento a registar nos anais da história da Arquidiocese. Deveria ser muito mais, tornando-se uma interpelação a toda a Arquidiocese, no sentido de suscitar e aumentar um clima de diálogo com todos os intervenientes na história humana para, em comum, dar dignidade à vida de todos os arquidiocesanos.

Afirmei-o, explicitamente, no almoço que quis ter, em homenagem a Sua Eminência o Cardeal Gianfranco Ravasi, com os Presidentes das Câmaras Municipais da Arquidiocese e os Reitores das Universidades, onde afirmei: “O Átrio dos gentios interpretei-o, desde o início, não como um evento mas como uma metáfora a deixar rastos no nosso quotidiano. Peregrinamos, com verdadeiro compromisso em atitude de unidade com todos, pessoas e pensamentos, culturas e religiões, que nunca significará vontade de uniformidade. O mundo é belo na diversidade desde que as cores sejam capazes de, pela habilidade e engenho de todos os intérpretes, se harmonizarem e projetarem na única atitude de servir. Nesta peregrinação existencial queremos prestar atenção à pessoa toda, ou seja, na sua dimensão humana e espiritual. Sentimo-nos parceiros com uma identidade e agimos em respeito pelo princípio da subsidiariedade que nos confia alguns encargos sabendo que muitos outros devem interpretar o encargo que lhe compete.”

Procurar dar dignidade à vida de todos, eis a causa que parece merecer um compromisso sério nos tempos que correm. S. Geraldo é recordado como reconstrutor da cidade nos edifícios e na solicitude pelas populações, segundo um PDM dirigido pela caridade. A sua grandiosidade está, prioritariamente, nesta solicitude. Cuidou da cidade a pensar nos homens e mulheres que aqui viviam. O milagre da fruta, reprodução do milagre da multiplicação dos pães e peixes de Jesus, é simbolo duma maneira muito expressiva e atual. A lenda interpreta-o em benefício dele.

Hoje o colocar de frutas no altar é sugestão de colocarmos pão e outros elementos essenciais na mesa de todos os concidadãos, num carinho mais visível para com os mais necessitados. E isto como uma responsabilidade conjunta. Todos somos poucos! Não é hora de cada um pensar nas suas iniciativas. Só temos uma atitude: cuidar do ser humano e ser capazes de eliminar muros que impedem vidas de possuírem tranquilidade e encararem o futuro com esperança.

O Santo Padre na mensagem que dirigiu aos participantes do Átrio, que convido a que todos a leiam, usa uma comparação interessantíssima. “Na modernidade, porém, o homem quis subtrair-se ao olhar criador e redentor do Pai (cf. Gn 4, 14), fundando-se sobre si mesmo e não sobre o Poder divino. Quase como sucede nos edifícios de cimento armado sem janelas, onde é o homem que provê ao clima e à luz; e, no entanto, mesmo em tal mundo auto-construído, vai-se beber aos «recursos» de Deus, que são transformados em produtos nossos. Que dizer então? É preciso tornar a abrir as janelas, olhar de novo a vastidão do mundo, o céu e a terra e apren­der a usar tudo isto de modo justo. De facto, o valor da vida só se torna evi­dente, se Deus existe.”

O homem moderno preocupou-se demasiado com os edifícios de cimento armado. É chegada a hora de “abrir as janelas”, olhar de novo a vastidão do mundo, isto é, acreditar na força da justiça onde se dá a cada um o que é seu, na alegria da caridade onde se partilha o que é de cada um, na festa da esperança que olha mais para os outros. Abrir janelas pode significar fazer com que o sol do bem-comum, como interesse de todos, entre nos meandros da história humana e chegue a todos os ambientes da cidade dos homens, na pobreza conhecida e nos que têm vergonha de o dar a conhecer. Alguém dizia, na Semana Social, que “os verdadeiros necessitados ainda não desceram à rua”. Se muitos falam e gritam, outros silenciosamente lutam para sobreviver.

Quando se fala muito em reforma do Estado Social, não podemos ignorar que o serviço público exige que, no respeito pelo princípio da subsidiariedade, articulemos esforços e vontades de modo que individualmente, ou através de tantas instituições, que também exercem um verdadeiro serviço público mesmo sendo privadas, criemos uma sociedade verdadeiramente solidária, onde nada de essencial falte a ninguém. Não estamos em tempos de discursos! O bem-estar de todos numa sociedade justa e equilibrada torna-se, imperiosamente, razão para congregar, em espírito de verdadeiro serviço, todas as energias e capacidades. Mas, penso dever acrescentar, que Deus, que S. Geraldo amou e serviu, também deve entrar neste projecto!

Gostaria de recordar mais uma ideia extraída da Mensagem do pap Bento XVI ao Átrio dos Gentios que foi experiência de que a Arquidiocese quer dialogar com crentes e não crentes. “Seria bom se os não crentes quisessem viver “como se Deus existisse”. Ainda que não tenham a força para acreditar, deviam viver na base desta hipótese; caso contrário, o mundo não funciona. Há tantos problemas que devem ser resolvidos, mas nunca o serão de todo, se Deus não for colocado no centro.”

Que S. Geraldo nos ilumine e ajude a fazer com que, de mãos dadas, pensemos no bom estar do nosso povo, sobretudo das pessoas mais desfavorecidas e que Deus nos ajude a encontrar as soluções mais adequadas.

 

† Jorge Ortiga, A.P.

Sé Catedral de Braga, 5 de Dezembro de 2012.