Arquidiocese de Braga -

7 fevereiro 2013

GESTOS ALTERNATIVOS

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Mensagem para o Tempo da Quaresma.

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Gestos Alternativos

Mudar de critérios para uma felicidade comum

Creio em Jesus Cristo que padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado.

Mensagem para o Tempo da Quaresma

 

1. O início do recente filme “Os Miseráveis”, sobre uma das obras do escritor francês Victor Hugo, ensina-nos como um pequeno gesto de misericórdia, executado por um idoso sacerdote, acaba por transformar por inteiro a vida de um “miserável”. E graças a esse gesto, este acaba por desencadear outros gestos idênticos ao longo da sua vida.

O tempo da Quaresma é assim este tempo de preparação, reflexão e avaliação dos nossos gestos, segundo o espelho da fé. Na verdade, “o Ano da Fé é um convite para uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo. No mistério da sua morte e ressurreição, Deus revelou plenamente o Amor que salva e chama os homens à conversão de vida por meio da remissão dos pecados” (Bento XVI, Porta Fidei 6).

A partir desta conversão pessoal facturar-se-á a renovação da Igreja e, consequentemente, da sociedade. Por isso, este tempo litúrgico oferece-nos 40 oportunidades (dias) para executarmos essa transformação, a partir do tríptico clássico: oração, jejum e esmola. Para concretizar uma verdadeira caminhada quaresmal, as comunidades poderão seguir a proposta que o nosso Departamento de Animação Bíblica da Pastoral, em cooperação com os Missionários do Verbo Divino, preparam para este tempo.

 

2. Na mensagem quaresmal, o Papa Bento XVI apresenta-nos o binómio fé-caridade: a fé é a derrota pessoal perante o invencível amor de Deus e a caridade, o correspondente estilo de vida. Sabemos que um dos gestos característicos desta caridade é o contributo quaresmal, que este reverterá para dois fins:

- como não poderia deixar de ser, a actual situação económica exige-nos uma atenção redobrada para com os mais carenciados, pelo que parte do contributo reverterá para o Fundo Partilhar com Esperança, sediado na Cáritas Arquidiocesana. Por isso, peço aos párocos uma atenção redobrada para com as novas situações de pobreza, de modo a que ninguém se sinta privado de uma vida com qualidade e não deixem por si ou pelas instâncias socio-caritativas das paróquias de recorrer a este fundo.

- para a missão católica de Itoculo, situada no interior da Província de Nampula, na Diocese de Nacala, no norte de Moçambique, onde trabalham dois sacerdotes portugueses da Congregação do Espírito Santo. Após terem construído um centro paroquial, agora pretendem edificar uma biblioteca e uma sala de informática como forma de colmatar as carências juvenis no acesso a livros e computadores.

 

3. Debruçando-nos sobre os conteúdos do Credo, porque acreditamos que Cristo “padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado”, assumindo toda a miserabilidade humana, importa que este contributo não seja uma mera esmola, resultado das sobras da nossa opulência. Um contributo sem sacrifício (abdicação) não estimula o amor fraterno, nem é expressão da nossa vivência eclesial.

Logo, porque não abdicar de uma refeição abastada, uma viagem dispensável, a despesa de um vício, o bilhete de um evento, a compra de um acessório… e reverter tal quantia, expressão da nossa liberdade, em prol da caridade? “De facto, foi para a liberdade que vós fostes chamados” (Gl 5,13).

Se não possuímos esta liberdade por causa do pecado, o sacramento da reconciliação proporciona-nos um encontro inédito em que somos surpreendidos pelo gesto misericordioso de Deus, o qual nos valoriza e capacita novamente para exercitarmos o perdão, a liberdade e a caridade. E porquê? Porque o amor cobre uma multidão de pecados (1Pe 4,8) e suscita a alegria de renovar a vida pelos critérios da fé.

 

4. Dado que vivemos o Ano da Fé, gostaria ainda de lançar um desafio pastoral: celebrar o “dia paroquial da fé”, a realizar-se no Tempo Pascal, a nível paroquial ou inter-paroquial (conforme as situações pastorais), como consequência desta mudança de critérios reflectida neste tempo quaresmal.

Se a sociedade civil já promulgou praticamente um dia a propósito dos mais variados pretextos, porque não dedicarmos também um dia especial à nossa fé? A dinamização desta jornada pode assumir diversas formas em cada comunidade, sempre delineados pelo Conselho Pastoral Paroquial.

Só enraizados na fé, saberemos produzir aqueles gestos que destapam as palavras não verbalizadas, os temores não expressos, as inseguranças não comunicadas, os sonhos silenciosos e as lágrimas não derramadas, que a crise incutiu em tantos rostos humanos que peregrinam nas nossas comunidades. A fé também é solução de muitos problemas.

Por fim, espero que esta mensagem prepare o nosso coração para o acontecimento fundador da nossa fé: «Porque buscais entre os mortos Aquele que está vivo? Não está aqui: ressuscitou!» (Lc 24,5-6) Que Maria, a Senhora das Dores, nos ensine a acompanhar a dor do seu Filho, mediante gestos alternativos, neste caminho quaresmal até à Cruz, da qual brotará a via-verde para a vida eterna!

 

+ Jorge Ortiga, A.P.

7 de Fevereiro de 2013