Arquidiocese de Braga -
13 abril 2013
JOVENS AO ESTILO CONCILIAR
Homilia no Dia Arquidiocesano da Juventude, em Vizela.
Jovens ao estilo conciliar
Homilia no Dia Arquidiocesano da Juventude
1. Há um mês atrás, sensivelmente por esta hora, vivíamos a expectativa jubilosa de saber a identidade do novo Santo Padre. Contra todas as apostas, a escolha recaiu num cardeal idoso, jesuíta e latino-americano. Como se já não bastasse esta surpresa, mais surpresos ficamos ainda com a pluralidade de gestos alternativos que o Papa Francisco despoletou desde o primeiro dia da sua eleição.
Partindo desta imagem, certamente que nenhum de nós gosta de ditadores, de chefes arrogantes ou de líderes incompetentes, mas todos nós reconhecemos que tem de haver um guia, que vá à frente e que, respeitando a nossa diferença, nos aponte o caminho do bem, verdade e justiça, em prol de um mundo diferente. Por isso, em Dia Arquidiocesano da Juventude ouso colocar-vos, a vós aqui presentes e a tantos jovens espalhados pela Arquidiocese, perante a certeza da dificuldade de ser cristão neste tempo e a necessidade de referências válidas na nossa vida, olhai para o Papa Francisco e imitai o seu estilo de renovar a Igreja.
2. Neste tempo pascal, a liturgia convida-nos a mergulhar no dinamismo da Igreja-Mãe de Jerusalém como expressão viva da força do Ressuscitado. Por um lado, conseguimos intuir as forças adversas à constituição da comunidade cristã; por outro, apercebemo-nos do verdadeiro motor que ultrapassa todos os impedimentos.
Ouvíamos na primeira leitura o imperativo do Sumo Sacerdote aos Apóstolos: “Já vos proibimos formalmente de ensinar em nome de Jesus” mas, simultaneamente, verificamos o reconhecimento duma realidade que ele não pretendia: “Vós encheis Jerusalém com a vossa doutrina”. E isto porquê? Uma só razão. A opção consciente dos Apóstolos de obedecer antes a Deus que aos homens.
3. É neste tempo que vivemos e é aqui que deveremos acolher a mensagem do Papa Francisco de reconstruir a Igreja, dando-lhe um rosto novo, mais belo e atraente às nossas comunidades. E isto não se pode edificar através dum verniz exterior que as intempéries das mudanças rapidamente fazem esvanecer. Importa voltar à raiz e dar-lhe a consistência necessária para aguentar todas as intempéries. Isto é o fundamental da pastoral Juvenil: pertencer à Igreja e assumir a missão de a tornar expressão do amor de Deus.
E onde está a raiz da mudança da Igreja e das comunidades, perguntam os jovens. A resposta é simples: admitir a necessidade de Deus, porque só Deus permanece e só Ele é capaz de encher a vida de sentido. Não se trata de acreditar em Deus que está no saco das coisas necessárias e a quem recorro nas aflições. Ele deve estar bem dentro e motivar as nossas opções.
Com Ele sereis um verdadeiro instrumento de renovação da Igreja. Diversas vezes, ouço desculpas de jovens (e adultos) afirmando ter fé, mas não acreditar “nos padres ou na Igreja”. Na verdade, em virtude do baptismo, todos nós somos Igreja!
Como tal, grupos ou movimentos de jovens desempenham aqui um papel fulcral, como sendo um espaço/tempo de espiritualidade. Como gostaria de ver mais movimentos e grupos! Mas acredito, caríssimos amigos, que o essencial está no encontro amigo a alimentar constantemente com Cristo. As atividades devem ser feitas, as eucaristias devem tornar-se mais alegres pela música e pela participação. Precisamos de horas de adoração, retiros, momentos de silêncio. Só isto dará consistência a quanto se faz!
4. Se este ano estamos a celebrar os 50 anos do Concílio Vaticano II, deixai-me parafrasear algumas pistas extraídas da mensagem do Concílio à humanidade naquela parte que vos é dirigida:
1 – Sereis vós a recolher o facho das mãos dos antepassados para viver num mundo de gigantescas transformações;
2 – Sereis vós a construir a sociedade do amanhã, salvando-vos ou perecendo com o que ela vos oferecer.
3 – Sereis vós a concretizar a “revisão de vida sobre a Igreja” efetuada pelo Concílio e que tereis de rejuvenescer o seu rosto para a tornar eternamente jovem como o seu fundador.
4 – Sereis vós a colocar a luz que o Concílio acendeu no meio do mundo para o iluminar no presente e no vosso futuro.
5 – Sereis vós a concretizar o sonho daquilo que a Igreja pretende para a sociedade que deve respeitar a dignidade, a liberdade, os direitos das pessoas.
Para estes cinco sonhos, o Concílio pede-vos três grandes aventuras.
- Em primeiro lugar, espalhar o tesouro, antigo e sempre novo da fé, fazendo com que ele banhe a vossa vida com clarões esclarecedores e não vos deixando ceder a sedução dos filósofos do egoísmo e do prazer, do desespero ou desencanto, do cansaço ou do desencanto;
- Em segundo, alargar, em nome de jovens, os vossos corações sobre todo o mundo e escutar os apelos dos vossos irmãos colocando-se corajosamente ao serviço dos que mais necessitam com todas as vossas energias juvenis. “Lutai contra todo o egoísmo. Recusai dar livre censo aos instintos da violência e do ódio, que geram as guerras e o seu cortejo de misérias. Sede generosos, puros, respeitadores, sinceros. E construí com entusiasmo um mundo melhor que o dos vossos antepassados”.
- Por último, acreditar que a Igreja vos olha com imensa confiança e amor para estas tarefas. Com amor, o Concílio diz aos jovens que ela é a verdadeira juventude do mundo que possui “o que constitui a força e o encanto dos jovens: a faculdade de se alegrar com o que começa, de se dar sem nada exigir, de se renovar e de partir para novas conquistas. Olhai-a e encontrareis nela o rosto de Cristo, o verdadeiro herói, humilde e sábio, o profeta do verdadeiro amor, o companheiro e o amigo dos jovens”.
5. Para terminar, caríssimos jovens: é neste Dia Arquidiocesano da Juventude que vos reafirmo que a Igreja ama os jovens e lhes oferece o que procuram. Por isso, aderi aos movimentos juvenis e multiplicai os grupos de jovens! Investi em caminhos de fé, dum modo autêntico e renovado, apaixonando-vos verdadeiramente por Cristo! Se assim for, estais a trabalhar o vosso futuro com sentido. E ao fazê-lo, não esqueçais a sociedade que vos circunda. Sede uma voz positiva, desinstalai-vos e desinstalai, e gritai a necessidade dum mundo novo.
Por fim, e dado que amanhã inicia-se a Semana das Vocações, recordo as palavras do Papa Bento XVI na sua mensagem para esta efeméride: “não tenhais medo de seguir Jesus e de percorrer os caminhos exigentes e corajosos da caridade. E sereis felizes porque oferecereis ao mundo uma alegria que mais ninguém a pode oferecer.”
† Jorge Ortiga, A.P.
Vizela, 13 de Abril de 2013.
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