Arquidiocese de Braga -

21 abril 2013

VOCAÇÕES: SINAL DE VITALIDADE PAROQUIAL

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Homilia na Vigília pelas Vocações, em Vila Verde.

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Vocações: sinal de vitalidade paroquial

Celebramos esta vigília de oração pelas vocações sacerdotais e religiosas em pleno Ano da Fé e num ambiente de Visita Pastoral às comunidades paroquiais deste arciprestado de Vila Verde.

Daí que queira começar a minha reflexão recordando quanto o Papa Bento XVI disse na Mensagem para o 50º Dia Mundial de Oração pelas Vocações. A certo momento, ele escreve: “Quando um discípulo de Jesus acolhe a chamada divina para se dedicar ao ministério sacerdotal ou à vida consagrada, manifesta-se um dos frutos mais maduros da comunidade cristã, que ajuda a olhar com particular confiança e esperança para o futuro da Igreja e o seu empenho de evangelização.”

Como momento de oração, não podemos deixar de refletir para uma consciencialização sobre uma realidade que deveremos, todos - sacerdotes e leigos – assumir como sinal de maturidade da comunidade a que pertencemos e, sendo sinal, é certeza e garantia dum futuro para a Igreja e do seu imperioso dever de continuar a narrar a Boa Notícia de Cristo Ressuscitado. Muitas vezes me interrogo sobre esta realidade que deve tornar-se efetiva responsabilidade para todos os crentes.

A Igreja sugere-nos uma semana de oração pelas vocações. Com isto não quer dizer que tudo se esgote aqui. É um dever permanente e comprometedor. Não basta lamentar-se e deveríamos evitar discursos negativos para nos consciencializarmos deste dever.

Vem a propósito referir as palavras do Papa Paulo VI quando, há cinquenta anos, introduziu este dia e semana no ritmo da Igreja. “O problema do número suficiente de sacerdotes (e hoje acrescentamos de membros de vida consagrada) interpela todos os fiéis, não só porque disso depende o futuro da sociedade cristã, mas também porque este problema é o indicador concreto e inexorável da vitalidade de fé e amor de cada comunidade paroquial e diocesana, e o testemunho da saúde moral das famílias cristãs. Onde desabrocham numerosas as vocações para o estado eclesiástico e religioso, vive-se generosamente segundo o Evangelho.” (Paulo VI radiomensagem, 11 de Abril de 1964). Duas certezas nos obrigam a reflectir serenamente e a extrair daí as consequências.

As vocações são o indicador da fé e o testemunho da saúde moral das famílias. É nas famílias que nascem as vocações e estas acontecem quando aí se respira uma saúde que mostra o grau da fé que anima o quotidiano da sua existência. São muitos os critérios que permitissem que a fé nas famílias se tenham tornado algo de débil ou de determinadas ocasiões. O Ano da Fé terá que nos responsabilizar de modo a assumir o dom da fé a partir da família que, em nome de Cristo e da Igreja, semeiam o apelo de Cristo e acompanham com alegria os sinais de vocação.

A comunidade paroquial deve empenhar-se nesta tarefa prioritária. Cristo Ressuscitado não é posse tranquilizador das nossas consciências. Com Ele teremos de percorrer os caminhos da humanidade para criar esperança no presente e no futuro. A história da Igreja foi sempre aventura de entrega de muitos para salvar a humanidade. Se isto é verdade, aconteceu e deverá acontecer em tempos chamados da crise. Não nos resignamos à triste situação de desalento e desencanto. Tomamos consciência desta responsabilidade e sabemos que o sentido e a razão da vida estar em a colocar nas mãos de Deus.

Há dias lia um pensamento que me fez pensar muito. Não o reproduzo textualmente. Fica a ideia. Dizia-se que a crise pode ser a aurora dum novo dia e dum novo mundo ou o pôr-do-sol que conduz `noite. Duas coisas maravilhosas (a aurora e o pôr-do-sol). Só que podemos enganar-nos e estar iludidos uma vez que as cores duma realidade ou de outra são muito semelhantes e podem enganar-nos confundindo-nos ou fechando-nos na contemplação daquilo que se vê ou parece ver. Esta crise deve tornar-se pôr-do-sol duma sociedade alicerçada na dimensão egoísta da vida e início duma aurora marcada pela fraternidade e amor, pela bondade e ternura que o Papa Francisco sugere como caminho para a Igreja.

Esta vigília, se cada um de nós quiser, será um encontro com Cristo a esperar de sacerdotes e leigos um empenho sereno mas sincero, alegre mas responsável, de momentos mas de todas as horas neste criar uma mentalidade vocacional em todas as atividades pastorais das paróquias de modo que as famílias voltem a ser viveiros que oferecem, com alegria e abnegação, filhos e filhas ao serviço da Igreja para uma sociedade mais humana e cristã.

Ouçamos a voz do silêncio que continua a desinstalação e peçamos a Cristo que as nossas comunidades redescubram a sua verdadeira identidade entregando-se, como Paulo que sabe em quem confiou. Ninguém o iludiu, experimentou e seguiu. Com momentos de exaltação e glória e com sofrimentos pessoais e oriundos das comunidades e famílias em quem gerou o dom da fé. Só que foi sempre coerente e fiel. Não desistiu. Acreditou no mundo novo que poderia nascer.

Deixemos de ponderar o negativo de tantas situações da Igreja e da sociedade. Acreditemos no valor da vida doação e veremos com a aurora e não o pôr-do-sol acontecerá. Parece que o mundo não nos quer. A sede e fome de Deus é grande.

Há palavras que se usam conforme as circunstâncias. Hoje todos falamos ou sentimos interiormente a necessidade da esperança. Esperamos uma Igreja renovada e queremos uma sociedade mais humana onde a dignidade de todos é respeitada. Uma profunda consciência vocacional, como vida gasta pelo bem comum, é a única resposta. Isto a todos os níveis a começar pela política onde nos encontramos com homens e mulheres que lutam e trabalham quase só por projetos pessoais. As comunidades paroquiais deveriam gerar esta consciência vocacional e fazer com que as vocações de consagração apareçam e se manifestem no mundo como experiências, reais e concretas, dima vida feliz e realizada. Nada pretendendo para si entregam-se ao projeto de libertação de Deus. Dão-lhe continuidade. A crise não nos desmotiva. Dá-nos entusiasmo e compromete-nos.

Ousemos fazer um pouco de silêncio e percorrer com a alma as comunidades de toda a Arquidiocese. Rezemos por elas para que cresçam na fé e se abram à alegria de gerar pessoas disponíveis para um mundo melhor.

+ Jorge Ortiga, A. P.

Igreja Matriz de Vila Verde, 19 de Abril de 2013.