Arquidiocese de Braga -

21 abril 2013

O SEGREDO DA DIACONIA

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Homilia nas Ordenações Diaconais.

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O segredo da diaconia

Homilia nas ordenações diaconais

“Eu, João, vi uma multidão imensa, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas… O Cordeiro será o seu pastor e os conduzirá às fontes da água viva. E Deus enxugará todas as lágrimas dos seus olhos.”

Estas palavras do Apocalipse podem realçar a identidade da Igreja. Uma multidão, diversificada e diferente na sua caracterização, conjugada pelo amor do Cordeiro como seu único pastor, que oferece a Palavra como água viva que dá alento e coragem, e chama para que a palavra continue a ser anunciada e assumida, constituindo um Povo de responsáveis com capacidade para enxugar todas a lágrimas e oferecer esperança.

Em Ordenações de Diáconos vivemos o último dia da Semana de Oração pelas Vocações. Fazemo-lo em Ano da Fé, que nos conduz à redescoberta do Baptismo que implica uma fonte e consciente adesão ao Evangelho, tornando-se caminho de santidade como verdadeira fonte donde jorram todas as vocações. Daí que todos os itinerários da educação da fé, desde a infância à idade adulta, devem ser orientados para uma autêntica vocação pessoal, abrindo perspectiva duma vida a responder a uma chamada, que acontece na vida matrimonial mas, e dum modo muito explícito, também no ministério sacerdotal e na vida consagrada. Somos um povo de vocacionadas. Por isso, a pastoral Vocacional não é uma campanha, como algo episódico ou marginal a acontecer em determinados momentos da vida da Igreja, mas uma rotina positiva na pastoral arquidiocesana!

Empenhados em renovar a Igreja, teremos de renovar as paróquias e fazer com elas sejam geradoras de vocações, favorecendo e privilegiando espaços de oração e de diálogo, para que a vida comunitária cresça na atenção às dimensões profundas da fé e à consciência duma vida como serviço.

O Ano da Fé recorda-nos estas duas vertentes que o papa Bento XVI expressou maravilhosamente na mensagem para este dia, na qual afirma: “A fé consiste no seu amor. Ele, que é Pai, derrama o seu amor no mais íntimo de nós mesmos através do Espírito Santo (cf. Rom 5,5). E é precisamente este amor, manifestado plenamente em Jesus Cristo, que interpela a nossa existência, pedindo que a cada qual uma resposta a propósito do que quer fazer da sua vida e quanto está disposto a apostar para a realizar plenamente. Por vezes o amor de Deus segue percursos surpreendentes mas sempre alcança a quantos se deixam encontrar.”

Destas palavras concluímos que primeiro está Deus, que derrama o seu amor no íntimo de todos os seus filhos, os quais, como consequência, devem responder através das infinitas variações do amor. Primeiro o ser, depois o fazer!

Há verdades às quais nunca podemos fugir. Acreditamos em Jesus Ressuscitado que quer caminhar connosco nas estradas das nossas vidas e, respeitando a nossa liberdade, chama a que queiramos viver com Ele, e, por isso, como os Apóstolos, gostemos de “realizar a nossa vida com Ele”. Com esta atitude, encontramos o tesouro que vale imenso e que justifica que vendamos tudo para ficar só com Ele.

Ficar com Ele, entre outras coisas, significa que o deixemos escolher o melhor caminho para nós, seguindo-o de modo a que entremos em profunda intimidade com o seu amor, dispondo-nos a interpretar a vida segundo as suas orientações. Nesta identidade com Ele, descobrimos, dum modo muito concreto, a Sua opção pelos mais necessitados e aceitarmos que vivemos para servir, e não para ser servidos. Numa resposta pessoal, integramo-nos no Corpo que é Igreja e, por isso, damos a vida para que esta se torne mais próxima daqueles que vivem nas “periferias” com os diversos rostos que esta palavra oferece, tornando-nos, conscientemente, verdadeiros “guardiães” da humanidade e da natureza.

Esta é a Igreja que o Papa Francisco está delineando nos gestos que vão escandalizando uns e provocando a admiração de outros, nomeadamente ateus e agnósticos. Estamos do seu lado e aceitamos as grandes provocações que ele vem lançando!

Neste sentido, a celebração de hoje é mais um momento para evidenciar o fruto das nossas comunidades e para recentralizarmos o nosso trabalho pastoral no essencial. Temos quatro diáconos que irão ser ordenados presbíteros e três que permanecerão como testemunho duma diaconia que deve ser de todos. A eles ofereço aquelas palavras de Bento XVI na mensagem do Dia Mundial das Vocações: “Na realidade, os presbíteros e os religiosos são chamados a entregar-se de forma incondicional ao povo de Deus, num serviço de amor ao Evangelho e à Igreja, num serviço àquela esperança firme que só a abertura ao horizonte de Deus pode realizar”.

No serviço ao Evangelho, estais a servir a esperança do povo e quanto mais generoso e gratuito for o vosso serviço, mais cristãos se sentirão interpelados a esta diaconia em ordem ao sacerdócio ou permanecendo como diáconos permanente, de que a Igreja e o mundo tanto necessita, mostrando que há mais “alegria em dar do que em receber, em perdoar do que ser perdoado, em morrer para viver a vida eterna”.

De olhos em vós, quero propor a toda a comunidade Arquidiocesana esta aventura do serviço generoso e desinteressado. Quero propor “com coragem evangélica a beleza do serviço a Deus, à comunidade cristã, aos irmãos”. É esta Igreja que deveremos sonhar, projectar e interpretar: partir do amor que Deus colocou no nosso coração e fazer com que Ele chegue a todos os âmbitos da vida, com uma opção consciente pelos mais pobres e, particularmente, pelas causas que geram a pobreza. Poderemos não ter dinheiro ou coisas materiais para oferecer. Mas em nome da fé, que professamos em Jesus Cristo, estamos com os mais carenciados e sabemos que dar as mãos ajuda a acreditar numa vida com futuro.

Para terminar, a Arquidiocese caminha para o final de um ano pastoral centralizado na fé professada. Sabemos que a fé é uma pessoa (Jesus Cristo), uma doutrina (Credo) a compreender, mas, acima de tudo, é uma comunidade que acolhe e carrega os fardos nem sempre fáceis de carregar.

Que a Senhora do Sameiro nos motive para esta aventura de fazer o que o Filho hoje continua a dizer: a vida vale se for gasta e oferecida pelo bem comum!

+ Jorge Ortiga, A. P.

Cripta do Sameiro, 21 de Abril de 2013.