Arquidiocese de Braga -

5 novembro 2013

A SANTIDADE COMO PROJECTO

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Discurso de abertura do Conselho Presbiteral da Arquidiocese de Braga.

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No dia 13 de Outubro tive a graça, juntamente com um grupo de cristãos da Arquidiocese, de participar na Beatificação de 522 Mártires que, em Espanha e durante a guerra civil, deram a vida em testemunho de amor a Cristo, único Rei das suas vidas. Um deles era oriundo da nossa Arquidiocese e no próximo domingo celebraremos a Eucaristia de ação de graças no Santuário da Abadia, pelas 16 horas, diante da sua imagem que será benzida e colocada à veneração dos cristãos, no final da celebração na Igreja paroquial da Santa Marta de Bouro. Aí se conserva a Fonte Baptismal onde foi baptizado. Como membro da Congregação dos Irmãos das Escolas Cristãs (Irmãos de La Salle) quisemos colocar na sua imagem parte do lema desta Congregação: Signum fidei, sinal da fé. Espero a presença de sacerdotes e cristãos e que aceitem este lema como interpelativo para o ser e o agir da vida Diocesana.

Neste aproximar-se do final do Ano da Fé quis trazer para este Conselho – que abordará a temática da Iniciação Cristã integrada no itinerário do Plano quinquenal de Pastoral “redescobrir a nossa identidade cristã” – esta evocação com o intuito de apontar o caminho da santidade como verdadeiro substrato da nossa pastoral. Temos tido nos últimos anos a graça da declaração de Beatos (Beata Alexandrina, Beato Bartolomeu e agora Beato Mário Félix). Temos outros com o processo da beatificação introduzida. Teremos de os conhecer melhor e dar a conhecer para que Deus nos conceda o dom da canonização. O mundo hodierno necessita de referências e a evangelização deve ser essencialmente narrativa. Mergulhemos na vida destes irmãos e irmãs e façamos a nossa parte para que as comunidades os conheçam e imitem.

Propor a santidade aos outros obriga os sacerdotes a olharem para o dever de tornar a sua vida, como diziam os Bispos Espanhóis, “testemunhas de fé, firmes e valentes”. Ninguém ignora que não são os discursos que levam a comprometer-se com Cristo. Só a vida arrasta a vida e só a autenticidade da fé gera fé.

Perante tantas seduções que nos rodeiam só uma fé adulta, madura e firme nos manterá fiéis aos nossos compromissos e fará com que o exterior da pastoral seja uma repercussão do interior de comunhão com Deus, resistindo a todas as tentações, de todo o género, vindas de onde vierem. A firmeza da fé, que supõe a coerência como a sua confirmação, conduz à valentia que os santos e mártires manifestaram. Os Actos recordam que os Apóstolos “pregavam com valentia a Palavra de Deus” (Act 4,31) e que “não tiveram medo de contrariar as orientações do poder público para afirmar: “É preciso obedecer antes a Deus que aos homens” (Act 5, 29).

Nesta perspetiva e recordando que estamos a celebrar os 50 anos do Concílio, quero sublinhar, ainda, quanto a Lumen Gentium refere: “Como Jesus, Filho de Deus, manifestou o Seu amor dando a vida por nós, assim ninguém dá maior prova de amor do que aquele que oferece a própria vida por Ele e por seus irmãos (cfr. 1 Jo. 3,16; Jo. 15,13). Desde os primeiros tempos, e sempre assim continuará a suceder, alguns cristãos foram chamados a dar este máximo testemunho de amor diante de todos, e especialmente perante os perseguidores. Por esta razão, o martírio, pelo qual o discípulo se torna semelhante ao mestre, que livremente aceitou a morte para salvação do mundo, e a Ele se conforma no derramamento do sangue, é considerado pela Igreja como um dom insigne e prova suprema de amor. E embora seja concedido a poucos, todos, porém, devem estar dispostos a confessar a Cristo diante dos homens e a segui-l'O no caminho da cruz em meio das perseguições que nunca faltarão à Igreja.” (L.G. 42)

Um Conselho Presbiteral tem uma finalidade explícita de ajudar o Bispo a discernir os melhores caminhos para a evangelização e para a vida dos sacerdotes. [1] Sabemos que não há verdadeira pastoral sem qualidade de vida sacerdotal na sua dimensão humana e espiritual. O aproximar-se do final do Ano da Fé, para continuar a trabalhar a Pastoral da fé, tem necessariamente de questionar os sacerdotes sobre a qualidade do amor a Cristo e à Igreja. Nem todos chegarão ao martírio mas devem estar “preparados” e “dispostos” para confessar Cristo diante dos homens, mesmo que trilhando o caminho da cruz que as diferentes formas de perseguição apresentam e que nunca faltarão à Igreja.

Num ano em que as nossas energias se concentrarão na redescoberta da identidade cristã através da Fé celebrada, reflectimos também, aqui e nos espaços de reflexão sacerdotal, sobre a Iniciação Cristã. Vamos interpretá-la somente como conjunto de normas orientadoras da pastoral num determinado sector ou reconheceremos um trabalho, sério e pessoal, por parte do presbitério, como primeiro, e não único, responsável pela edificação da Igreja, onde a fé deve resplandecer na sua integralidade e, particularmente, no testemunho da coerência e fidelidade não aceitando qualquer tipo de vida marcadamente mundana ou de consagração disfarçada?

Pessoalmente, convenço-me, sempre mais, que a renovação da Igreja passa por aqui: ser padre é ser a expressão visível de Cristo e da sua missão salvífica. A santidade deve ser empenho corajoso. Refletir sobre a iniciação cristã deveria, por isso, gerar uma corrente em todo o presbitério de fidelidade ao Baptismo e à Ordenação Sacerdotal em atitude de coerência com o dom Eucarístico que Deus colocou nas nossas mãos para ser celebrado, com espírito de vivência de Cristo em nós, entre nós e oferecido por nós.

A gratuidade da entrega ao serviço da edificação do Reino não nos dispensa da gratidão. Somos uma comunhão orgânica e despendemos a vida pelo Evangelho no ambiente e local onde Deus nos coloca.

Sei que o D. Manuel Linda viveu com abnegada dedicação o seu serviço episcopal em favor do nosso povo e das nossas comunidades. Partirá e nós continuaremos unidos. Colocando nas suas mãos um conjunto dos Fastos Episcopais, quero dizer-lhe que a história permanece e a nossa unidade nunca a destruiremos. Que S. Martinho de Dume o acompanhe no novo serviço, sabendo que a Arquidiocese de Braga lhe estará sempre unida.

Trabalhemos a partir do essencial e tomemos consciência renovada da situação do nosso povo que, em muitos casos, continua a sofrer com as sucessivas, e por vezes incompreensíveis, determinações dos nossos governantes. Trabalhemos numa mensagem de maior otimismo e esperança e saibamos estar, através das comunidades, dentro das situações dramáticas de tantos membros das mesmas.

† Jorge Ortiga, A.P.

Centro Pastoral da Arquidiocese de Braga, 05 de Novembro de 2013.



[1] Cf. Estatutos Art. 3.