Arquidiocese de Braga -

11 fevereiro 2014

A FÉ CELEBRADA NO AMOR AOS DOENTES

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Homilia na eucaristia evocativa do Dia Mundial do Doente, no Hospital de Famalicão.

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Gostaria que esta celebração tivesse o significado duma celebração Arquidiocesana do Dia do Doente que o Papa João Paulo II, em 1992, instituiu neste dia 11 de Fevereiro, festa de Nossa Senhora de Lourdes. Foi neste dia que o Papa Bento XVI anunciou, em 2013, o seu pedido de resignação, reconhecendo e aceitando a sua doença sem que antes tenha escolhido o tema de reflexão para o triénio, 2014-2016. Para este ano convida-nos a refletir e extrair opções pessoais e comunitárias a partir da relação inseparável entre a Fé e a Caridade. Também sugeriu o tema bíblico – “Também nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos” (1 Jo 3, 16), a partir do qual o Papa Francisco preparou uma mensagem.

As leituras que acabamos de ouvir mostram a predileção que os cristãos, as famílias e as comunidades devem prestar ao doente. Não se trata duma recordação num dia do ano. Todos os dias são momentos para expressar que a fé não se limita ao culto mas celebra-se na liturgia e na vida, prolongando nesta o apelo essencial da celebração. Celebrar a fé significa envolver a vida toda no espírito que nos congrega para louvar a Deus, em tempo particulares, e que nos responsabiliza a viver o mesmo amor no quotidiano para com todos e, particularmente, para os mais debilitados ou frágeis. Importa, por isso, que acolhamos o tema que o Papa Francisco escolheu para este ano e que o tornemos inspirador de novas atitudes e compromissos pessoais e, concretamente, na vida das nossas comunidades. Deste modo importa trazer para a vida o que S. João nos escreveu como evidente e lógico. “Também nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos”.

“Dar a vida” é uma atitude muito ampla que deve concretizar-se em expressões sólidas e consistentes que a liturgia da Palavra nos confirma e exemplifica. O Evangelho recorda que somos felizes quando ouvimos a Palavra mas, sobretudo, a pomos em prática. A primeira leitura exemplifica como a vivência da fé e da palavra deve ser interpretada. “Como a mãe que anima o Seu filho também eu vos confortarei”.

Daí que o cristão deve ser formado, em primeiro lugar, para reconhecer na doença “uma presença especial de Cristo” que carrega connosco a carga do sofrimento e nos revela que também no sofrimento não somos abandonados por Deus. Ele “nos infunde esperança e coragem: esperança, porque no desígnio de amor de Deus também a noite do sofrimento se abre à luz pascal; e coragem, para enfrentar qualquer adversidade em sua companhia, unidos a Ele.”

Este fator evangelizador é tarefa dos sacerdotes e dos leigos, profissionais da saúde ou voluntários, a trabalhar nos Hospitais ou nas comunidades. A doença deve ser encarada dum modo positivo e consciente. Para o ser a formação ou catequese deve ser comunicada de modo que o Amor de Deus seja descortinado em todas as circunstâncias da vida. “Nada nos separa do amor de Deus”. Nesta certeza aparece o ministério – neste ano que trabalhamos a fé celebrada e em que queremos “consolidar, fortalecer e formar devidamente aqueles que se disponibilizem para exercer o serviço – no caso concreto aos doentes.

Neste trabalho permanente, recorda-nos o Papa Francisco, em virtude do Batismo e da Confirmação somos chamados a conformar-nos com Cristo, Bom Samaritano de todos os sofredores”. “Quando nos aproximamos com ternura daqueles que precisam de cura, levamos a esperança e o sorriso de Deus às contradições do mundo. Quando a dedicação generosa aos demais se torna estilo das nossas ações, damos lugar ao coração de Cristo e por Ele somos aquecidos, oferecendo assim a nossa contribuição para o Advento do Reino de Deus” (Mensagem do papa Francisco).

Se o Bom Samaritano é o modelo de quem acompanha os doentes, o exemplo da ternura da mãe que anima e conforta o filho é, também, paradigma para um conjunto interminável de sugestões para o amor aos doentes. E assim, a gratuidade é um fator condicionante, a capacidade de ouvir permite estar nas dores vivendo-as como algo de pessoal, a palavra acompanhada de gestos nasce daquela fantasia que só o amor sabe e consegue oferecer.

  Se a fé nos conduz à caridade de dar a vida tudo deve ser exercitado na simplicidade e ternura de Maria. Isto não se aprende na Universidade. As ações de formação são imprescindíveis e devem ser multiplicadas nas paróquias, arciprestados ou diocese para quem cuida e acompanha doentes, profissionais, assistentes espirituais ou voluntários. Mas, só a fé celebrada na atitude de oração consegue sugerir o que é mais oportuno e necessário. Perante a variedade imensa das situações, num mundo que se ufana das suas conquistas médicas, a fé com a oração e a caridade terão de descobrir caminhos novos de atenção aos doentes. E os cristãos deverão assumir, particularmente nas comunidades, que “onde dois ou três estiverem reunidos no meu nome, eu estou no meio deles” (Mt 18, 20). É esta grande presença que sugere o melhor modo de atuar e lidar com quem sofre.

  Todas as doenças merecem uma atenção das comunidades que devem acordar ou intensificar esta solicitude terna. A “pastoral em conversão” pedida pelo Papa Francisco também passa por aqui. As comunidades devem ser mais solícitas e organizadas neste sector, com iniciativas diversificadas conforme os diferentes contextos e situações desde que nenhuma se sinta dispensada. Se todos os doentes devem sentir a presença da comunidade, este ano, e fruto da crise que nos atormenta, quero recordar, particularmente, as muitas pessoas que se encontram mergulhadas na solidão que está a conduzir a situações de depressão, sempre num ritmo crescente. Não podemos ignorar quem sofre mesmo parecendo portadoras duma vida normalíssima. Muitas pessoas carregam problemas que não podem suportar sozinhas e que estão a mergulhar num isolamento terrível e em situações de depressão de que nem sempre nos apercebemos. Isto não diz respeito só às famílias. Toca, também, às comunidades.

  Se o Dia Mundial do doente é uma oportunidade para o dever de organizar dum modo mais consistente a Pastoral da Saúde, é, também, oportunidade para agradecer a todos quantos compreendem a importância desta solicitude pelos doentes: voluntários, profissionais de saúde, equipas paroquiais. Agradecendo, não quero deixar de sublinhar a dimensão espiritual neste trabalho. Não se trata só de realizar atos de caridade como expressão da fé. Em qualquer lugar mas, particularmente, nos nossos hospitais teremos de fazer caminhada, sacerdotes e leigos, para que a assistência espiritual não só seja reconhecida pelo Decreto Interpretativo da Assistência Religiosa nos Hospitais mas, que no concreto, seja praticada como essencial para a qualidade, exercida por sacerdotes ou leigos, do Serviço Nacional de Saúde.

  Que Maria Santíssima, a Mãe das Dores, que com a sua presença consola Jesus no alto do Calvário, nos dê a graça de individualmente (com a devida preparação) ou comunitariamente, nas paróquias ou nos hospitais, ser este Bom samaritano que sabe ser presença de Cristo na doença.

+ Jorge Ortiga, A.P.

Hospital de Famalicão, 11 de fevereiro de 2014.