Arquidiocese de Braga -

Homilia - Exéquias do Cón. João Aguiar, 28.04.2023

1. Viverá por Mim

«Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e Eu nele. Assim como o Pai, que vive, Me enviou e Eu vivo pelo Pai, também aquele que Me come viverá por Mim» (Jo 6, 56-57). 

O texto evangélico da liturgia de hoje foi bemcomentado pelo Cón. João no livro “Intemporal”: «instituindo a Eucaristia, Jesus cumpriu a promessa de estar sempre connosco. No discurso do Pão da Vida, no evangelho de S. João, Jesus apresenta a Eucaristia como dom da Trindade: é o Pai quem dá o pão do céu; Ele, Jesus, é esse pão; e é o Espírito quem vivifica. (...) Alguém escreveu que a Eucaristia é “um programa de vida” que implica, diariamente, um amor autêntico. Importa colher da participação na Eucaristia o desafio e a força para o compromisso na transformação da sociedade. (...) O amor pelos pobres e marginalizados não foi apenas objeto da pregação de Jesus, mas deu sentido a toda a sua vida».

Assim aconteceu a Saulo, escolhido por Jesus Cristo como instrumento para levar o Evangelho ao conhecimento dos povos, a partir do momento que «lhe caíram dos olhos uma espécie de escamas e recuperou a vista» (cf. At 9, 1-20).

2. O sepulcro de dentro para fora

Em 2015, no dia de S. Francisco de Sales, convidei o Cón. João Aguiar a um encontro de convívio e formaçãocom a comunicação social presente na Diocese de Bragança-Miranda, e nessa manhã ele afirmou: «Uma das obrigações da comunicação social da Igreja é ser uma agência de sentido, é dizer que, mesmo o sepulcro onde foi enterrado Nosso Senhor é diferente se o virmos de dentro para fora. Se o virmos de dentro para fora encontramos a Ressurreição. Se o virmos de fora para dentro só encontramos o escuro de morte. E fazer das coisas e dos acontecimentos, e das dores dos acontecimentos uma leitura crente, é necessariamente a nossa obrigação, o nosso papel, a nossa marca distintiva. Se deitarmos as mãos à cabeça e dissermos que não temos esperança, estamos a contrariar aquilo que é a nossa obrigação».

O que é a Esperança? «Esperança. Eis uma palavra que não deveria nunca esperar tanto na fila da ordem alfabética. Para mim é na esperança que começa o abecedário!...» (J. Aguiar), porque «A alegria completa nasceu numa manhã de graça, num lugar improvável: perto de um sepulcro» (J. Aguiar).

3. Falar aos homens das coisas de Deus

No dia 25 de março 2023, tivemos a graça de comemorar os 50 anos ordenação presbiteral do Cón. João. Aqui confirmou o seu mote de vida: «A minha vocação é falar aos homens das coisas de Deus» (J. Aguiar).

O nosso último encontro, há oito dias, no hospital de Braga, constou de cochichos dos olhos – um olhar pascal, porque «ouvem-se melhor as palavras quando se veem nos olhos» (J. Aguiar).

Uns dias antes tinha confidenciado com lágrima de felicidade o encontro com o Seminário Maior Conciliar e de ter oferecido o livro “Cochichos” a cada seminarista. A dedicatória sublinha: «A quantos, ao longo da minha vida, caridosamente suportaram as minhas fragilidades e ajudaram entusiasmos. Muito obrigado!»

O Cón. João disse-nos: «escrevo como respiro». Ele sentia-se um fazedor de vitrais.

Estimado Padre João: «até depois do depois!» (João Aguiar).

Muito obrigado, porque a Primavera se agradece a quem a traz.

+ José Manuel Cordeiro